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LUÍS NASSIF
A supersiderúrgica nacional
Aparentemente o noivado CSN-Corus não foi à
frente por desinteresse da noiva
CSN. Pelo acordo preliminar, a
CSN teria 38% da nova companhia. De cinco meses para cá os
ventos inverteram. A Corus havia acenado com prejuízo zero
para este ano, e ele já está em
US$ 500 milhões. Garantiu que
venderia os ativos de alumínio
por US$ 1 bilhão, mas conseguiu
apenas US$ 500 milhões. De seu
lado, a CSN tinha margem de
39% sobre o faturamento e aumentou-o para 47%, recorde
mundial. No último trimestre,
estima-se que chegue a 52%, ficando em 50% no ano.
Com essa mudança de cenário,
Benjamin Steinbruch, da CSN,
propôs renegociar a participação
da CSN, assumindo o controle
total da Corus. E, aí, os ingleses
roeram a corda.
Agora, abre-se espaço para
uma grande e recente aspiração
nacional: montar a Usibrás,
uma fusão que possibilite à nova
empresa ter escala mundial. A
questão é: quem com quem.
À luz dos últimos resultados,
analistas de mercado consideram a posição da CSN invejável.
Mudaram o dólar e a composição das exportações nas vendas
totais da empresa: de 15% para
47%. Com isso, a relação dívida
líquida/Ebtida (geração de caixa) caiu para duas vezes. Em geral, no mercado, considera-se
três o número de corte: acima
disso, a empresa está em dificuldades; abaixo, em situação confortável. Nesta semana, Steinbruch anunciou a intenção da
CSN de amortizar rapidamente
seu passivo.
Mas como seria essa fusão? Há
forte movimento tentando
transformar a Usiminas no noivo, principalmente por parte da
Vale, que está com um pepino
grande na mão: o pesadíssimo
endividamento da empresa.
Nos últimos cinco anos, aliás, a
Usiminas viveu um paradoxo.
No plano operacional, é empresa
das mais eficientes, com margem
de 37% em 2001, podendo chegar
a 43% em 2003. No plano estratégico, errou rotundamente,
aproveitando a liquidez internacional para uma sucessão de investimentos desastrosos, culminando com a aquisição da Cosipa. Hoje em dia, a dívida consolidada da Usiminas e da Cosipa
chega a US$ 3,1 bilhão, contra
US$ 1,4 bi da CSN. Além disso,
na melhor das hipóteses sua geração de caixa chegará a US$
700 milhões, resultando em um
índice dívida líquida/Ebtida superior a quatro.
Por isso mesmo, há quem veja
mais sentido em uma fusão entre CSN e CST (Companhia Siderúrgica de Tubarão). Ambas dispõem dos custos de produção
mais baixos do mundo. A CSN é
a rainha do mercado interno; a
CST exporta toda a sua produção. A CSN é completa em produtos acabados; a CST, em semi-acabados. O controle da CST é
compartilhado pela francesa Arcelor, por fundos de pensão e pela Vale do Rio Doce. A fusão permitiria a formação de uma supersiderúrgica brasileira com
um pé no exterior.
Experiente executivo do setor
diz que existem todas as condições para um rápido processo de
reestruturação do parque siderúrgico brasileiro, seja com CST,
Usiminas ou Gerdau. O setor está pesadamente endividado,
com exceção da Gerdau e da Belgo Mineira. A Usiminas corre sérios riscos de liquidez, se não vier
um apoio do BNDES. Utilizando
o modelo dos "fundos sociais",
seria possível ao BNDES montar
uma esplêndida operação de
apoio que permitisse criar uma
grande empresa pública de capital aberto, com controle pulverizado.
A única dificuldade é a briga
de egos. O setor dispõe de três superexecutivos: Jorge Gerdau, Rinaldo Soares Campos, da Usiminas, e Benjamin Steinbruch, da
CSN, os três com modelos diferentes de gestão. Até agora, o
BNDES limitou-se a ouvir as
partes. Talvez seja a hora de sentar com os fundos, com os demais investidores, com o novo
governo que vem por aí, e começar a trabalhar mais ativamente. A possibilidade de uma supersiderúrgica nacional ajudaria a economia e a auto-estima
nacionais.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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