São Paulo, sexta-feira, 15 de novembro de 2002

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LUÍS NASSIF

A supersiderúrgica nacional

Aparentemente o noivado CSN-Corus não foi à frente por desinteresse da noiva CSN. Pelo acordo preliminar, a CSN teria 38% da nova companhia. De cinco meses para cá os ventos inverteram. A Corus havia acenado com prejuízo zero para este ano, e ele já está em US$ 500 milhões. Garantiu que venderia os ativos de alumínio por US$ 1 bilhão, mas conseguiu apenas US$ 500 milhões. De seu lado, a CSN tinha margem de 39% sobre o faturamento e aumentou-o para 47%, recorde mundial. No último trimestre, estima-se que chegue a 52%, ficando em 50% no ano.
Com essa mudança de cenário, Benjamin Steinbruch, da CSN, propôs renegociar a participação da CSN, assumindo o controle total da Corus. E, aí, os ingleses roeram a corda.
Agora, abre-se espaço para uma grande e recente aspiração nacional: montar a Usibrás, uma fusão que possibilite à nova empresa ter escala mundial. A questão é: quem com quem.
À luz dos últimos resultados, analistas de mercado consideram a posição da CSN invejável. Mudaram o dólar e a composição das exportações nas vendas totais da empresa: de 15% para 47%. Com isso, a relação dívida líquida/Ebtida (geração de caixa) caiu para duas vezes. Em geral, no mercado, considera-se três o número de corte: acima disso, a empresa está em dificuldades; abaixo, em situação confortável. Nesta semana, Steinbruch anunciou a intenção da CSN de amortizar rapidamente seu passivo.
Mas como seria essa fusão? Há forte movimento tentando transformar a Usiminas no noivo, principalmente por parte da Vale, que está com um pepino grande na mão: o pesadíssimo endividamento da empresa.
Nos últimos cinco anos, aliás, a Usiminas viveu um paradoxo. No plano operacional, é empresa das mais eficientes, com margem de 37% em 2001, podendo chegar a 43% em 2003. No plano estratégico, errou rotundamente, aproveitando a liquidez internacional para uma sucessão de investimentos desastrosos, culminando com a aquisição da Cosipa. Hoje em dia, a dívida consolidada da Usiminas e da Cosipa chega a US$ 3,1 bilhão, contra US$ 1,4 bi da CSN. Além disso, na melhor das hipóteses sua geração de caixa chegará a US$ 700 milhões, resultando em um índice dívida líquida/Ebtida superior a quatro.
Por isso mesmo, há quem veja mais sentido em uma fusão entre CSN e CST (Companhia Siderúrgica de Tubarão). Ambas dispõem dos custos de produção mais baixos do mundo. A CSN é a rainha do mercado interno; a CST exporta toda a sua produção. A CSN é completa em produtos acabados; a CST, em semi-acabados. O controle da CST é compartilhado pela francesa Arcelor, por fundos de pensão e pela Vale do Rio Doce. A fusão permitiria a formação de uma supersiderúrgica brasileira com um pé no exterior.
Experiente executivo do setor diz que existem todas as condições para um rápido processo de reestruturação do parque siderúrgico brasileiro, seja com CST, Usiminas ou Gerdau. O setor está pesadamente endividado, com exceção da Gerdau e da Belgo Mineira. A Usiminas corre sérios riscos de liquidez, se não vier um apoio do BNDES. Utilizando o modelo dos "fundos sociais", seria possível ao BNDES montar uma esplêndida operação de apoio que permitisse criar uma grande empresa pública de capital aberto, com controle pulverizado.
A única dificuldade é a briga de egos. O setor dispõe de três superexecutivos: Jorge Gerdau, Rinaldo Soares Campos, da Usiminas, e Benjamin Steinbruch, da CSN, os três com modelos diferentes de gestão. Até agora, o BNDES limitou-se a ouvir as partes. Talvez seja a hora de sentar com os fundos, com os demais investidores, com o novo governo que vem por aí, e começar a trabalhar mais ativamente. A possibilidade de uma supersiderúrgica nacional ajudaria a economia e a auto-estima nacionais.

E-mail - lnassif@uol.com.br


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