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São Paulo, sábado, 15 de novembro de 2003

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GRADUALISMO PETISTA

Empresários pedem mais agressividade nas políticas monetária e cambial; ministro descarta mudanças

Juros terão redução "à la Geisel", diz Dirceu

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, jogou ontem uma ducha de água fria em encontro com cerca de 30 empresários que pediram maior rapidez no processo de redução dos juros.
Segundo a Folha apurou, Dirceu disse que "a queda de juros irá manter o mesmo ritmo da abertura de Geisel (Ernesto Geisel): lenta, gradual e segura".
Ao assumir a Presidência da República, cargo que ocupou entre 1974 e 1979, o general Ernesto Geisel (1908-1996) classificou como "lenta, gradual e segura" a distensão política que disse pretender promover em seu governo.
O encontro de Dirceu com os empresários se deu ontem em São Paulo, na sede do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
Estavam presentes, entre outros, Ivoncy Ioschpe, presidente do Iedi, Horacio Lafer Piva, presidente da Fiesp, Eugênio Staub (Gradiente), Paulo Cunha (Ultra), Josué Gomes da Silva (Coteminas), Ivo Rosset (Valisère), Carlos Pires de Oliveira Dias (Camargo Corrêa) e Benjamin Steinbruch (CSN).
Segundo o relato de empresários que participaram do encontro, Dirceu afirmou que, no momento em que o governo Lula passou a comandar a economia do país, os juros já estavam em patamares elevados, como herança do governo tucano. Mas admitiu que as atuais taxas ainda punem o setor produtivo.
Um dos empresários chegou a pedir que o governo fizesse um esforço para reduzir, até o final do ano, a taxa de juros básica dos atuais patamares (19%) para 13%. Dirceu disse que essa queda deve ocorrer, mas apenas de maneira gradual.
A declaração do ministro esfriou as expectativas dos empresários, que defenderam também uma desvalorização mais forte do real ante o dólar e a redução do aumento da alíquota da Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social), que subirá de 3% para 7,6% em 2004.
Os empresários disseram a Dirceu que o Brasil tem taxas de câmbio e de juros diferentes daquelas de países em franca expansão.
Argumentaram ainda que a atual taxa de câmbio não gera mais rentabilidade positiva nas exportações e tem favorecido principalmente a especulação financeira.
O presidente da Gradiente, Eugênio Staub, argumentou que o atual sucesso da China se deve basicamente ao fato de o país manter o câmbio desvalorizado.
Em resposta, Dirceu disse que "entende as insatisfações e que a discordância é um direito dos empresários". Mas, sem entrar em detalhes, afastou a hipótese de qualquer mudança drástica na política cambial.
Dirceu ouviu várias reclamações dos empresários sobre a carga tributária e sobre a medida provisória que elevou a alíquota da Cofins ao extinguir sua cumulatividade. Horacio Lafer Piva fez um pedido a Dirceu para que o governo revise a medida e reduzisse o aumento previsto, considerado exagerado.
Para Ivoncy Ioschpe, "os empresários não saíram nem animados nem desanimados da reunião". Segundo ele, "se existe gordura nos juros, como o próprio governo reconhece, por que não queimá-la?".


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