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São Paulo, sábado, 15 de novembro de 2003

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LUÍS NASSIF

A revolução do café

De dois anos para cá, o Brasil passou a vender café torrado e moído. Depois de amargar um fundo de poço que parecia não ter fim, a indústria do café está renascendo, com bons cafés expressos de marcas brasileiras sendo distribuídos em um número cada vez maior de restaurantes e cafés torrados e moídos de qualidade à disposição do consumidor.
Além disso, está começando a ocorrer uma revolução nas exportações. Alguns fabricantes estão entrando no mercado internacional com marca própria, como o Café Santa Clara, do Ceará. Outros, com marca genérica, como a Coimex, que produz para a marca Brazilian Rio, criada pela Wal-Mart para seus 2.000 pontos-de-venda. O Café Bom Dia exporta para a Perfect Morning -marca própria da rede Wallgreens, rede de farmácia de 4.100 pontos.
As exportações ainda são pequenas, mas crescentes. Historicamente o país só exportava café verde e solúvel. Em 2001, já foram US$ 4,4 milhões de café moído, contra US$ 1,8 bilhão de café verde. Em 2003, deve chegar a US$ 12 milhões de café moído. O valor médio é de US$ 2,23 por kg, contra menos de metade do café cru em grão.
Melhor: com a globalização, varejistas do mundo inteiro começam a entrar em contato pela internet com fabricantes brasileiros, buscando diversificar seus fornecedores. Apenas para o mercado norte-americano as vendas deverão crescer 220%.
É o resultado de um processo penoso de modernização, que começou em fins dos anos 90, foi interrompido pela desastrosa política de retenção de cafés, quando lideranças anacrônicas do setor conseguiram convencer o governo a atuar mais uma vez na ponta da oferta, com a política de retenção de café. Foi um desastre, que fez o Brasil perder participação no mercado internacional.
No período da retenção, o Brasil tinha uma participação de 18% no mercado mundial de café verde. Com o fim da retenção, sua participação subiu para 32% e barrou o crescimento vertiginoso do Vietnã, que neste ano reduziu em 15% a área de plantio.
O número de pés de café saltou de 2,8 bilhões em 1993 para 5 bilhões neste ano. A produtividade brasileira quase dobrou de 1994 até a última safra. Novas regiões surgiram, novos empreendedores com cabeça moderna, novas técnicas de plantio, como o adensamento e a irrigação. Mas o setor continua representado por lideranças anacrônicas.
Agora, quando ensaia novo salto de modernização, está reaberta a temporada de caça aos recursos do Funcafé. De 17 milhões de sacas há cinco anos, agora o fundo tem 5 milhões. O restante foi vendido no mercado interno e virou dinheiro que se tornou empréstimo e financiamento para cafeicultura, que têm sido sucessivamente prorrogados mesmo agora, quando o café saiu do fundo do poço. Agora, a bancada do café quer novamente controlar os recursos do fundo, por meio de um movimento tocado por lideranças antigas.
Seria importante que o ministro Roberto Rodrigues (Agricultura), que faz parte da banda modernizante do setor, não cedesse a essas pressões e permitisse a continuidade da modernização da área.

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Luisnassif@uol.com.br


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