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LUÍS NASSIF
A revolução do café
De dois anos para cá, o
Brasil passou a vender café torrado e moído. Depois de
amargar um fundo de poço
que parecia não ter fim, a indústria do café está renascendo, com bons cafés expressos de
marcas brasileiras sendo distribuídos em um número cada
vez maior de restaurantes e cafés torrados e moídos de qualidade à disposição do consumidor.
Além disso, está começando
a ocorrer uma revolução nas
exportações. Alguns fabricantes estão entrando no mercado
internacional com marca própria, como o Café Santa Clara,
do Ceará. Outros, com marca
genérica, como a Coimex, que
produz para a marca Brazilian
Rio, criada pela Wal-Mart para seus 2.000 pontos-de-venda.
O Café Bom Dia exporta para a
Perfect Morning -marca própria da rede Wallgreens, rede
de farmácia de 4.100 pontos.
As exportações ainda são pequenas, mas crescentes. Historicamente o país só exportava
café verde e solúvel. Em 2001, já
foram US$ 4,4 milhões de café
moído, contra US$ 1,8 bilhão
de café verde. Em 2003, deve
chegar a US$ 12 milhões de café
moído. O valor médio é de US$
2,23 por kg, contra menos de
metade do café cru em grão.
Melhor: com a globalização,
varejistas do mundo inteiro começam a entrar em contato pela internet com fabricantes
brasileiros, buscando diversificar seus fornecedores. Apenas
para o mercado norte-americano as vendas deverão crescer
220%.
É o resultado de um processo
penoso de modernização, que
começou em fins dos anos 90,
foi interrompido pela desastrosa política de retenção de cafés,
quando lideranças anacrônicas do setor conseguiram convencer o governo a atuar mais
uma vez na ponta da oferta,
com a política de retenção de
café. Foi um desastre, que fez o
Brasil perder participação no
mercado internacional.
No período da retenção, o
Brasil tinha uma participação
de 18% no mercado mundial
de café verde. Com o fim da retenção, sua participação subiu
para 32% e barrou o crescimento vertiginoso do Vietnã,
que neste ano reduziu em 15%
a área de plantio.
O número de pés de café saltou de 2,8 bilhões em 1993 para
5 bilhões neste ano. A produtividade brasileira quase dobrou
de 1994 até a última safra. Novas regiões surgiram, novos
empreendedores com cabeça
moderna, novas técnicas de
plantio, como o adensamento e
a irrigação. Mas o setor continua representado por lideranças anacrônicas.
Agora, quando ensaia novo
salto de modernização, está
reaberta a temporada de caça
aos recursos do Funcafé. De 17
milhões de sacas há cinco anos,
agora o fundo tem 5 milhões. O
restante foi vendido no mercado interno e virou dinheiro que
se tornou empréstimo e financiamento para cafeicultura,
que têm sido sucessivamente
prorrogados mesmo agora,
quando o café saiu do fundo do
poço. Agora, a bancada do café
quer novamente controlar os
recursos do fundo, por meio de
um movimento tocado por lideranças antigas.
Seria importante que o ministro Roberto Rodrigues
(Agricultura), que faz parte da
banda modernizante do setor,
não cedesse a essas pressões e
permitisse a continuidade da
modernização da área.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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