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Gradualismo é visto como saída para cortar gastos
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Diante da rigidez legal e das
dificuldades políticas para cortar o gasto público, o gradualismo combinado a um melhor
gerenciamento das despesas do
governo é apontado como saída
viável por especialistas no assunto para reduzir o peso do
Estado na economia.
O gasto público foi tema de
discussão entre economistas
ontem no lançamento do livro
"Gasto Público Eficiente", no
Instituto Fernand Braudel.
O encontro ocorreu no dia
em que o governo começou a
analisar alternativas para elevar o crescimento do país acima de 5% ao ano. A diminuição
do gasto é considerada um dos
pontos fundamentais.
Cerca de 90% da despesa pública está protegida pela Constituição ou por leis. Os outros
10% (custeio e investimentos)
já foram espremidos ao longo
dos últimos dez anos, mesmo
tendo havido um aumento de
dez pontos percentuais na carga tributária, para 38% do PIB.
O economista Antonio Delfim Netto defendeu o gradualismo. "É preciso dar todo ano a
todas as áreas do governo os
mesmo valores, apenas corrigidos pela inflação, e exigir um
aumento da produtividade da
ordem de 1,5% ao ano, que
equivale ao crescimento populacional", diz Delfim.
Dessa forma, mesmo um
crescimento de cerca de 3% ao
ano faria com que os gastos do
governo diminuíssem proporcionalmente ao longo dos anos.
O economista Yoshiaki Nakano, que causou polêmica na
campanha presidencial de Geraldo Alckmin (PSDB) ao defender um corte mais radical,
afirma ser "muito difícil" enfrentar o problema no atual
contexto político do país.
Nakano diz que, em termos
do gasto, o Estado brasileiro
equivale a uma "metrópole extrativista" do período colonial.
Segundo ele, o governo tira a
riqueza das áreas mais desenvolvidas (o Sudeste responde
por 70% da receita) para "distribuir às elites políticas" dos
Estados mais pobres para poder manter a governabilidade.
Essa configuração, acredita,
só seria resolvida por uma reforma política que mudasse o
atual esquema de representatividade dos Estados ou pelo
"enriquecimento" dos Estados
mais atrasados do país.
Nakano também defende a
"transformação do atual Estado burocrata em um Estado gerencial", que utilize todas as
ferramentas tecnológicas disponíveis para dar mais transparência ao gasto público.
O economista Marcos Mendes, organizador do livro, diz
ver "uma ansiedade na área fiscal". "Não estamos vivendo
uma crise. Não é o momento de
adotar medidas de curto prazo,
mas ao longo de vários anos para sinalizar que o ajuste será
feito a médio e longo prazos."
Entre as sugestões, constam
reformar a Previdência e a sistemática de reajustes indexados ao salário mínimo, reduzir
o número de ministérios e os
cargos comissionados e desvincular o aumento das verbas à
Saúde da variação do PIB.
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