São Paulo, sábado, 15 de novembro de 2008

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Brasil defende ação fiscal e monetária "encorajadoras"

Lula encontra líderes em Washington e defende G20 como novo fórum político

Mantega diz que, de acordo com condições de cada país, redução de custo financeiro das operações é necessária durante crise internacional

José Luiz Magana/Associated Press
O presidente Lula e o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, em hotel em Washington

ANDREA MURTA
ENVIADA ESPECIAL A WASHINGTON

A necessidade de sintonia internacional no estabelecimento de políticas fiscais e monetárias "encorajadoras" -com aumento do gasto público e redução de taxas de juros- foi um dos principais consensos das discussões que o governo brasileiro manteve ontem na cúpula do G20, em Washington, disseram autoridades brasileiras.
"É preciso adotar medidas anticíclicas coordenadas, reduzindo taxas de juros, aumentando o crédito e fazendo a liqüidez chegar ao consumidor e ao produtor", disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega. "São também necessárias políticas fiscais pesadas, nas quais o setor público aumenta gastos, investimentos e vantagens fiscais", afirmou ele, após reunião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o premiê do Reino Unido, Gordon Brown.
Além de Brown, o presidente, Mantega e o chanceler Celso Amorim se reuniram ontem pela manhã com os primeiros-ministros da Austrália, Kevin Rudd, e do Japão, Taro Aso, além de líderes sindicais. À tarde, eles receberam a presidente da Argentina, Cristina Kirchner. A agenda incluiu também jantar oferecido pelo presidente dos EUA, George W. Bush, a chefes de Estado e ministros da Fazenda, e reunião de chanceleres com a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice.
Enquanto o Brasil já vem adotando medidas de estímulo fiscal, como o adiamento do pagamento de tributos para manter o fluxo de caixa das empresas, não há indicação sobre cortes de taxas de juros. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ressaltou nesta semana que as diretrizes do G20 são para estímulos fiscais e monetários desde que as condições dos países permitam -e os preços em alta no Brasil por causa da demanda ainda forte e da valorização do dólar poderiam dificultar corte de juros.
Mantega disse que não sabe se na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) haverá mudança na taxa básica de juros brasileira, de 13,75% anuais. Mas reiterou: "Uma coisa é certa, é preciso baixar o custo financeiro das operações, que subiu muito recentemente. Os BCs terão que analisar a situação de cada país. Mas a linha-mestra é diminuir o custo financeiro no mundo todo, e no Brasil também."
Ainda sobre os juros, Mantega ressaltou que, "com a queda nos preços das commoddities e o risco de inflação relativamente superado, vai se abrir espaço em todos os países para uma política monetária mais flexível, mas é claro que cada um deve graduar [a taxa de juros] de acordo com suas condições."
Segundo Celso Amorim, o Lula enfatizou nos encontros também a necessidade de estabelecer linhas de crédito ao comércio exterior dos emergentes. "Isso seria um lubrificador do sistema", afirmou.
Outro ponto de consenso é a maior regulamentação do sistema financeiro, ainda que haja divergências técnicas na sua efetivação. Uma das propostas do Brasil é internacionalizar os registros de operações com derivativos, com depósitos de garantias. Outra é supervisionar agências de rating. E há também discussões sobre altos pagamentos a executivos e seu estímulo a atividades de risco.
Mantega afirmou esperar que o presidente eleito dos EUA, Barack Obama, ofereça um pacote "mais robusto de medidas" de regulamentação do que Bush -anteontem, o atual presidente rechaçou excesso de regras nos mercados.
O fortalecimento do G20 como fórum de chefes de Estado, não só de ministros ou presidentes de bancos centrais, foi outra área de acordo entre Lula e os líderes ontem. A intenção do Brasil é politizar o grupo, transformando-o em uma das instituições de maior poder de ação no cenário mundial.
"O que foi salientado pelo presidente Lula é que não podemos sair dessa cúpula com as mãos abanando", disse Mantega. "A proposta é que saiamos daqui com grupos de trabalho estabelecidos e prazos para dar resultados."
Amorim destacou ainda que a retomada da rodada de Doha sobre comércio também foi debatida e espera-se que um novo acordo no tema possa sair até o final do ano pois seria "um poderoso estímulo" contra o protecionismo.


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