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Reunião Lula-Kirchner tenta reduzir tensão
Em encontro marcado para a próxima quarta, em Brasília, governantes devem procurar saída para impasse comercial
Atrito começou com entrave argentino a importações de 14% da pauta exportadora brasileira; Brasil retaliou sobre 10% da pauta vizinha
SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES
"Esse tango se baila a dois" é
a expressão usada na Argentina
para situações em que os parceiros não querem se deixar.
É também o resumo do desfecho que o lado argentino espera para a reunião dos presidentes Lula e Cristina Kirchner, que ocorre na próxima
quarta, em Brasília, cercada por
elevada tensão na relação comercial entre os dois países.
"Não é a primeira vez que
acontece [a tensão bilateral] e
certamente não será a última.
Tivemos muitas situações parecidas no passado. Sempre as
autoridades máximas dos dois
países se reuniram e encontraram soluções mais ou menos
satisfatórias para ambas as partes", afirma Juan Cantarella,
gerente-geral da Associação de
Fábricas Argentinas de Componentes, que representa o setor de autopeças.
O problema é que, desta vez,
a solução "mais ou menos satisfatória" parece distante. "Houve mudança de atitude da administração Lula, que sempre
foi muito complacente [com a
Argentina]. Acho que acabou a
paciência do governo brasileiro", diz o consultor Dante Sica,
ex-secretário de Indústria e
Comércio da Argentina.
Na opinião de Sica, "a gota
d'água foi a falta de previsibilidade, ocasionada pelo tempo
que a Argentina demora para liberar as licenças não automáticas de importação" exigidas,
desde outubro de 2008, para
produtos que conformam 14%
das exportações brasileiras ao
país vizinho.
Segundo as regras da OMC
(Organização Mundial do Comércio), a liberação das licenças deve ocorrer num prazo
máximo de 60 dias.
A Argentina leva, em média,
150 dias para autorizar a entrada de produtos brasileiros. Há
demoras de até 300 dias na autorização de pedidos do setor
têxtil, segundo informações repassadas pelo empresariado
brasileiro ao governo.
A reação brasileira veio na
mesma moeda, impulsionada
pela conjuntura de "um ano
eleitoral, em que Lula tem menos margem para frear as reclamações do empresariado, cuja
visão é muito mais amistosa em
relação a uma candidatura de
Serra do que a qualquer outra",
segundo opina Sica.
O Brasil aplicou, em outubro
passado, o sistema de licenciamento não automático a 35
produtos, que abarcam 10% da
pauta exportadora argentina ao
país, incluindo itens do setor
automotivo, que responde por
40% das exportações vizinhas.
A medida surpreendeu e irritou a Casa Rosada, que convocou o embaixador do Brasil em
Buenos Aires, Mauro Vieira,
para uma reclamação formal.
Na conversa com Vieira, o secretário de Comércio e Relações Econômicas Internacionais da chancelaria argentina,
Alfredo Chiaradía, condenou a
forma como o Brasil implementou sua decisão -sem claro aviso prévio, surpreendendo
na fronteira caminhões carregados com produtos perecíveis,
como frutas.
O argumento de Chiaradía é
que a Argentina avisa previamente os setores afetados por
suas restrições e jamais pôs em
risco produtos perecíveis.
Vieira retrucou com a tese de
que o setor calçadista brasileiro
considera que a sazonalidade
do consumo de seu produto lhe
dá também o caráter de "perecível" e citou os prejuízos de
quem viu sua coleção de verão
chegar à Argentina no inverno.
"Temos a mesma opinião da
chancelaria argentina: essa medida da parte do Brasil tem o
sentido de uma represália, porque os produtos que ficaram retidos nas fronteiras não pertencem a setores que o Brasil precisa proteger", diz Adriano De
Fina, gerente da Aiera (Associação de Importadores e Exportadores da República Argentina), que agrupa pequenas
e médias empresas.
Procurado, o Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e
Comércio, que determinou a
aplicação das licenças não automáticas, disse que não iria se
pronunciar sobre a questão antes da reunião presidencial.
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