São Paulo, segunda-feira, 15 de dezembro de 2003 |
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SALTO NO ESCURO Controle do governo afasta investidores Novo modelo inviabiliza tarifas mais baixas, diz ex-secretário
DA REPORTAGEM LOCAL
Folha - Qual a sua opinião a respeito do novo modelo do setor elétrico anunciado pelo governo Lula?
Peter Greiner - Eu antipatizo demais com essa posição de dizer
que está vindo um novo modelo
porque o modelo anterior não
funcionou. Na verdade, o modelo
que foi idealizado no primeiro
mandato do governo FHC nem
chegou a ser implementado. Sem
a privatização de boa parte das geradoras de energia nunca haverá
competição. Ora, a geração até
hoje é 80% estatal. Se não houver
privatização de pelo menos 60%
da geração, não haverá um mercado competitivo. A condenação
que o governo do PT faz [ao modelo anterior] é baseada em várias
pontos errados: de que o modelo
foi implementado e não funcionou, o que é errado, pois apenas
os primeiros passos foram implantados, e, segundo, que foi responsável pela crise energética, o
que também não é verdade. Folha - A privatização não teve
parcela de culpa no racionamento
de energia?
Greiner - Não. De 1990 a 1994,
acrescentava-se ao sistema uma
oferta de 1.000 megawatts por
ano. De 1995 a 1998, quando se começou a implementar o modelo,
a média foi elevada para 1.800 megawatts. Como dizer que esse modelo é responsável por falta de
energia? Quem não sabe as origens do problema não tem o diagnóstico e vai errar na solução. Folha - O que o senhor achou da
separação entre mercado livre e regulado, prevista no novo modelo?
Greiner - O mercado livre [onde
grandes consumidores industriais devem comprar diretamente de geradoras] é apenas um
apêndice. Não é uma parte realmente importante do novo modelo, que é basicamente de mercado cativo, regulado. Isso afasta
investimentos, porque o capital
tem medo de manipulação do governo. Um mercado competitivo,
quando bem organizado, é a melhor saída. Mas essas medidas
provisórias estão incompletas.
Ainda não há uma regulamentação detalhada nesse sentido, não
dá para saber ainda qual a estrutura de cada organismo, como serão os contratos. E o preço para as
distribuidoras já vem pré-determinado. Isso é competição? Folha - Com o novo modelo, as tarifas devem baixar ao consumidor?
Greiner - Não. A curto prazo não
há possibilidade de as tarifas baixarem porque as empresas estão
com estrutura financeira instável,
muito endividadas, e nossos juros
ainda são altos. Se governo insistir
em baixar tarifas nessas condições, ou vai fazer com que essas
empresas peçam falência ou amanhã vai precisar entrar e ajudá-las.
A médio e longo prazo, as tarifas
também dificilmente serão reduzidas. Isso porque o discurso do
governo é de que está abrindo o
mercado, mas, na realidade, está
fazendo de tudo para controlá-lo.
Nesse tipo de situação, o capital
privado pratica juros maiores,
por causa do risco político, e isso
encarece a tarifa. Outra questão é
que hoje a energia carrega de 40%
a 60% de impostos. Não há como
garantir tarifas mais baixas sem
tratar dessa questão de tributos e
taxas de recolhimento. Isso não
está sendo tratado pelo governo. |
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