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VEÍCULOS
Presidente da empresa prevê aumento em janeiro para compensar custos
Montadora reajustará preços, diz GM
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
As montadoras deverão reajustar os preços dos carros em cerca
de 5% em janeiro, apesar de o governo ter concedido ao setor a
prorrogação da redução do IPI
(Imposto sobre Produtos Industrializados) até 28 de fevereiro.
A informação é do presidente
da General Motors do Brasil, Walter Wieland, 60, de nacionalidades argentina e alemã, que vai deixar a empresa em 1º de maio, depois de três anos e meio à frente
da montadora.
Segundo Wieland, o reajuste será inevitável para fazer frente ao
aumento de custos sofrido pelas
empresa do setor neste ano. "Não
tenho a menor dúvida de que haverá um aumento de preços em 1º
de janeiro", disse. "Não é mais
possível suportar o aumento de
preços de materiais."
A seguir, trechos da entrevista:
Folha - Qual a sua avaliação do
primeiro ano do governo Lula?
Walter Wieland - Devo reconhecer que o governo é uma grande e
positiva surpresa por ter tido a coragem de adotar medidas difíceis
para combater a inflação.
Fala-se muito que o Banco Central poderia ter começado a baixar
os juros mais rápido, mas, quando se acelera muito a redução dos
juros, há sempre o risco da volta
da inflação.
Folha - O que deve ser feito para
trazer de volta os investimentos?
Wieland - Estabilidade traz investimentos para o país. A aprovação da reforma da Previdência,
por exemplo, foi um passo importante. É claro que será preciso trabalhar mais. Não será em uma cirurgia que se solucionará o problema da Previdência, mas o primeiro passo foi dado.
Outra coisa que acho importante diz respeito ao câmbio. Acho
que o real não deve manter-se fixo. A moeda muito forte favorece,
evidentemente, o controle da inflação, melhora o perfil da dívida
em dólar, mas pode afetar as exportações. O governo precisa
adotar mecanismos que façam
com que o real vá gradativamente
se desvalorizando para acompanhar o ritmo da inflação.
Folha - Que mecanismos?
Wieland - Eu não sou economista. Deixo para os economistas a
responsabilidade pela criação
desses mecanismos. Meu negócio
é vender carros. No fim do ano
2000, eu disse que iríamos implementar uma plataforma de exportações no Brasil. E, de fato, em
2000 exportamos US$ 700 milhões, em 2001, US$ 800 milhões,
e, neste ano, vamos chegar a US$
1,2 bilhão.
Agora, para manter esse ritmo
de exportação e competir com
países como a Coréia ou a China,
será preciso desvalorizar um pouco a moeda. Não estou falando de
fazer uma desvalorização por decreto. Isso seria absurdo. Também não sei qual seria o valor mágico do real hoje: R$ 3,20? R$ 3,10?
Não sei. O importante é a moeda
ir se desvalorizando pouco a pouco, no ritmo da inflação.
Folha - O real valorizado já começa a afetar as exportações?
Wieland -Está muito apertado.
Nós tivemos aumentos importantes. O aço, por exemplo, aumentou mais de 50% no último ano e
meio. Muitos outros produtos
químicos, os pneus, enfim, muitos produtos têm sofrido aumento de preços. O salário também
aumentou. Além disso, agora que
o país está atingindo um patamar
de estabilidade, acho que essa estabilidade também deve ser seguida no câmbio. Não é bom ter uma
moeda nem muito desvalorizada
nem muito valorizada. O bom é
ficar no meio. É difícil? É difícil,
mas é preciso criar um mecanismo que permita fazer isso.
Outra coisa que me preocupa é
a carga tributária. O país não
aguenta mais tantos impostos. Se
todo mundo pagasse os impostos,
o país teria dinheiro suficiente para tudo. Mais impostos o país não
aguenta. O Celta, por exemplo,
que é um carro popular, tem mais
ou menos 26% de impostos embutidos no preço.
Folha -A redução do IPI ajudou a
vender mais carros?
Wieland - Ajudou, mas também
contribuiu bastante o fato de os
juros terem começado a cair.
Folha - A GM pensa em novo aumento de preços?
Wieland - Não tenho a menor
dúvida de que haverá um aumento de preços em 1º de janeiro. Não
é mais possível suportar o aumento de preços de materiais.
Folha - O sr. sabe de quanto será
esse aumento?
Wieland - O aumento de preços
de janeiro deverá ficar entre 5% e
5,5%. O governo está sabendo
disso.
Folha - E vai haver demissões?
Wieland - Não, demissões não
temos nenhuma prevista.
Folha - O sr. não acredita em mais
uma prorrogação da redução do
IPI?
Wieland - Eu acho que o governo foi bastante claro quando afirmou que não vai prorrogar mais
uma vez a redução do IPI. Essa será a última prorrogação, que já foi
uma surpresa para mim.
Nos últimos anos, a indústria
automobilística no Brasil tem sofrido pesados prejuízos. Até porque muitos fizeram investimentos pesados. Este ano foi especialmente difícil, muito complicado,
um dos piores anos da história da
indústria.
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