São Paulo, sexta-feira, 16 de janeiro de 2004

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EXUBERÂNCIA GLOBAL

País deverá receber US$ 11 bi em capital produtivo neste ano; bancos internacionais vêem euforia exagerada

Brasil terá mais investimentos e riscos

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

O fluxo de investimentos privados para a economia brasileira e para os demais países emergentes deverá crescer em 2004.
No entanto há um alto risco de que esse fluxo seja interrompido por um aumento dos juros nos EUA (a taxa básica hoje é de 1% ao ano) ou por uma reversão na expectativa de crescimento de economias desenvolvidas.
A estimativa e o alerta foram feitos ontem pelo Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês), entidade que reúne os 340 maiores bancos e instituições financeiras do mundo.
Para o vice-presidente do IIF e do Citigroup, William Rhodes, a euforia atual com os emergentes lembra os meses que antecederam a crise asiática, que começou em 1997 e se alastrou para países como a Rússia e o Brasil.
"Há um risco hoje de que os mercados talvez estejam indo longe demais em relação aos fundamentos econômicos (dos emergentes)", diz Rhodes.

Mais capital
O IIF prevê um fluxo de investimentos (especulativos e diretos) para os mercados emergentes de US$ 196 bilhões neste ano -um pouco acima dos US$ 187,5 bilhões de 2003, quando foi registrado um aumento de 50% sobre 2002 (US$ 124 bilhões).
Do total previsto para 2004, cerca de US$ 39 bilhões devem ser dirigidos à América Latina, onde o Brasil deve ser um dos maiores beneficiados.
Somente em investimentos diretos (produtivos), o Brasil deve receber cerca de US$ 11 bilhões do total de US$ 29 bilhões que serão dirigidos à região.
Em 2003, os investimentos produtivos diretos no Brasil ficaram em US$ 7,6 bilhões, segundo o IIF, e US$ 9,5 bilhões, segundo as últimas estimativas do mercado. O número ainda não foi fechado pelo Banco Central.

Demanda doméstica
"Os investimentos diretos vão crescer no Brasil à medida que as empresas estrangeiras procurem aumentar seus ganhos no país na esteira do crescimento da demanda doméstica por produtos e serviços", informa o IIF.
A entidade projeta um crescimento de 3,7% para o Brasil neste ano, um pouco acima da média de 3,4% para a América Latina.
Embora o Brasil -ao lado do México- seja apontado como exemplo por ter adotado "políticas macroeconômicas sustentáveis" e por avançar nas reformas previdenciária e fiscal, o IIF alerta que o país não está fora da zona de risco de uma reversão do quadro.
"O Brasil está protegido de um aumento repentino dos juros nos EUA? Não. Todas as economias emergentes estão na mesma situação", afirma Charles Dallara, diretor-gerente do IIF.
Um aumento dos juros nos EUA faria com que investidores internacionais voltassem a buscar maior segurança nos títulos do governo norte-americano.
Dallara pondera, no entanto, que dificilmente o Brasil e o México seriam "contaminados" por crises em países vizinhos. Para o IIF, o Peru e a Venezuela são os prováveis candidatos a sofrer com uma reversão dos mercados.
Mesmo a China, líder em captações na Ásia, não está fora de perigo. ""Há uma série de rombos em contas de bancos estatais que podem vazar para outras empresas. Essa vulnerabilidade existe e pode vir à tona a qualquer momento", diz Yusuke Horiguchi, economista-chefe do IIF.


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