São Paulo, sábado, 16 de janeiro de 1999

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G-7 estuda criar bandas de flutuação

CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial

A crise brasileira pode não ter abalado o mundo, pelo menos até agora, mas provocou a volta à agenda internacional da idéia de criação de bandas de flutuação entre as principais moedas, o dólar norte-americano, o iene japonês e o recém-lançado euro.
A idéia é estabelecer limites máximo e mínimo para a variação de cada uma dessas moedas em relação às demais. Cada vez que o valor ultrapassasse o teto ou o piso da banda, os bancos centrais entrariam em ação para fazer a cotação retornar ao patamar desejado.
O premiê alemão, Gerhard Schroeder, disse ontem que os governos do G-7, o grupo dos sete países mais ricos do mundo, estão de acordo em que é preciso limitar a flutuação entre as principais moedas. Mas acrescentou: "Se bandas de flutuação serão ou não estabelecidas, não posso dizer".
Schroeder lembra que a questão central é "quanto custa defender as bandas", se as bandas vierem a ser implementadas. Seu ministro das Finanças, Oskar Lafontaine, presidente do Partido Social-Democrata, no poder na Alemanha, é o autor original da tese das bandas. A ela aderiu o ministro japonês das Finanças, Kiichi Miazawa.
Ontem, reunidos em Frankfurt, os dois disseram que a adoção de "um regime cambial adequado com os países emergentes" seria crucial para evitar ainda mais turbulências.
O vice-ministro alemão de Finanças, Heiner Flassbeck, usou a crise brasileira como o mais recente exemplo da necessidade de estabilizar o mercado de câmbio em escala planetária.
De certa forma, idêntica pregação vem sendo feita pelo presidente Fernando Henrique Cardoso desde que tomou posse.
O presidente disse várias vezes, inclusive em cartas a cada presidente de turno do G-7, que o fluxo de capitais especulativos que cruza fronteiras todos os dias é de tal ordem que banco central algum consegue controlá-lo.
A tese das bandas de flutuação voltou com tal força à agenda internacional que se tornou o primeiro ponto da análise diária do Grupo G-7, consultoria formada por ex-altos funcionários da Casa Branca em sucessivas administrações, democratas ou republicanas.
"Advogados das bandas de flutuação estão pretendendo usar a crise brasileira como catalisador para impulsionar sua causa, mas a oposição liderada pelos EUA provavelmente prevalecerá no futuro previsível", diz o texto.
Os EUA se opõem à tese por considerarem que ela distorce a realidade econômica e, além disso, pode ser muito custoso defender a banda, qualquer que seja ela.
Os EUA não estão, aliás, sozinhos na oposição. Mesmo na Comissão Européia, braço executivo do conglomerado de 15 países, Yves-Thibauld de Silguy, comissário para Assuntos Financeiros, diz que "taxas de câmbio não podem ser fixadas por decreto".
No fundo, a divergência reflete diferentes visões sobre o grau de intervenção do Estado na economia. Para os EUA, deve ser mínimo; para os alemães, no entanto, o enfoque ultra-liberal em relação aos mercados financeiros não está funcionando.
A crise no Brasil deu margem ao lançamento, pelo presidente argentino, Carlos Menem, de uma idéia heterodoxa: a de que o dólar seja usado como moeda única dos países americanos assim que for constituída a Alca (Área de Livre Comércio das Américas), ora em negociação para abranger, a partir de 2005, todos os 34 países americanos, excluída apenas Cuba.



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