São Paulo, sábado, 16 de janeiro de 1999

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BOLSA
Decisão do Banco Central leva Bovespa a registrar a sua maior alta desde 1991, no anúncio do Plano Collor 2
Euforia faz Bolsa de SP subir 33,4%

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
da Reportagem Local

O mercado financeiro ficou efórico com a decisão do Banco Central, de deixar o câmbio flutuar livremente ontem. A Bolsa de Valores de São Paulo subiu 33,40%.
A alta percentual registrada no índice Bovespa, das ações mais negociadas em São Paulo, foi a maior desde o dia 4 de fevereiro de 1991, com o Plano Collor 2.
Os estrangeiros voltoram ao mercado, mas ainda de forma lenta. Haviam muitos compradores, mas sem vendedores.
Também em dólar, as ações brasileiras subiram. O papel que engloba as 13 empresas resultantes da cisão da Telebrás negociado em Nova York subiu de US$ 54,125 anteontem para US$ 70,25 no fechamento de ontem, uma alta de 29,79%.
"Vamos sentir agora a beleza do mercado, da lei da oferta e da procura. Depois do estresse dos últimos dias, estamos vivendo uma euforia inicial do câmbio livre. Nos dois casos, houve exagero óbvio", disse Rodrigo Moraes, do Banco Rendimento.
O volume negociado na Bolsa cresceu, para R$ 811,323 milhões, contra os R$ 548,94 milhões de anteontem. Foi o maior volume negociado neste ano na Bolsa de Valores de São Paulo.
"O Banco Central atuou de uma forma correta para conter a fuga de dólares. Não veio a mercado fornecer dólar para quem queria deixar o país. Estancou a fuga de reservas. Ele não tinha outro modelo melhor para adotar neste momento", disse Marco Antonio Dias, chefe de operações de interbancário de câmbio do BicBanco.
Os estrangeiros também elogiaram a medida adotada pelo Banco Central.
Na avaliação de analista do banco norte-americano Morgan Stanley Dean Witter, por exemplo, a desvalorização do real cria boas perspectivas para a economia brasileira a médio e longo prazo.
Mas o analista do Morgan julgou excessiva a euforia de ontem do mercado financeiro.
Na avaliação do Morgan, continua a preocupação com o ajuste fiscal e com o questionamento das dívidas dos Estados.
Além disso, segundo o Morgan Stanley Dean Witter, é preciso avaliar o impacto da desvalorização sobre as dívidas do governo federal, governos estaduais, municipais e das empresas privadas.

Títulos da dívida
Os títulos da dívida tiveram alta em suas cotações. O C-bond, o mais negociado, subiu de 48,875% do valor de face, anteontem, para 56,50% ontem, recuperando os preços de segunda-feira, antes da mudança na política cambial pelo governo federal.
O IDU, outro título da dívida, também recuperou preço. Suas cotações, que estavam a 77,75% do valor de face anteontem, subiram para 86,25% do valor de face ontem.
A diferença nos juros pagos por esses títulos brasileiros e nos juros pagos pelos títulos do Tesouro dos EUA de prazo semelhante de vencimento são usadas pelo mercado para medir o risco de investir no Brasil. É o chamado, no jargão dos investidores, "spread over Treasury".
O "spread" do C-bond, de vencimento em dez anos e meio na média, estava anteontem a 15,20 pontos, caindo para 12,45% pontos ontem. Ou seja, o risco de investir no Brasil ficou menor.
Mas o "spread over" do IDU, de vencimento mais curto, de um ano e dois meses, caiu ainda mais. Foi para 15,26 pontos percentuais ontem, contra os 25,80 pontos anteontem, uma queda maior.
O fato de o "spread over Treasury" do IDU cair mais do que o "spread over" do C-bond mostra que, para os investidores internacionais, o risco de investir no Brasil caiu mais no curto prazo.


Colaborou Ricardo Grinbaum, da Reportagem Local



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