|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MERCOSUL
Governantes e empresários do maior vizinho do
Brasil temem que balança comercial do país seja prejudicada
Argentinos estão apreensivos
MAURÍCIO SANTANA DIAS
de Buenos Aires
A Argentina viveu ontem um dia
de sobressaltos. Depois de receber
na tarde de quinta-feira uma nota
do Banco Central brasileiro que
garantia categoricamente a manutenção da banda cambial, na manhã seguinte o real passou a flutuar
livremente.
A nova desvalorização do real
coloca em risco vários setores da
produção argentina, na medida
em que aumenta a competitividade dos produtos brasileiros e inibe
as exportações argentinas para o
Brasil, seu principal sócio do Mercosul.
O presidente argentino, Carlos
Menem, avançou a proposta de
uma moeda única para a região,
baseada na paridade com o dólar,
como o peso. Na prática, uma dolarização.
Dificuldades
O ministro da Economia, Roque
Fernández, alertou o presidente de
que seria muito difícil fazer funcionar esse mecanismo, mas prometeu analisar a proposta.
O economista Roberto Lavagna,
ex-secretário de Indústria e Comércio e atual presidente da Ecolatina, disse à Folha que "tudo é ainda muito provisório, e vai depender de como vai ficar o câmbio
-ou se haverá inflação".
Lavagna sugere que os países do
Mercosul adotem "restrições voluntárias às exportações" a fim de
salvaguardar o comércio na região
-tal como o que foi acertado entre os Estados Unidos e o Japão.
Lavagna salienta que esse seria
um mecanismo transitório, e o
menos traumático para as economias do bloco.
Uma outra saída compensatória,
pleiteada pela maioria dos empresários argentinos, seria a redução
dos aportes patronais combinada
a um aumento das tarifas alfandegárias -"um enorme retrocesso",
na opinião do economista.
Consultado sobre o possível cenário brasileiro para a próxima semana, Lavagna disse esperar "uma
reestruturação da dívida e a fixação de uma nova banda cambial,
que deverá ficar entre R$ 1,50 e R$
1,60 por dólar", descartando um
hipotético "plano de convertibilidade brasileiro" -defendido, por
exemplo, pelo economista e ex-ministro Domingo Cavallo.
A posição do governo
Funcionários do governo argentino não acreditam que a desvalorização do real vá ocasionar uma
avalanche de produtos brasileiros
em seu país.
O secretário de Política Macroeconômica, Rogelio Frigerio, assegurou que, por enquanto, o governo não vai tomar nenhuma medida preventiva contra a mudança da
política cambial brasileira.
"A experiência argentina diz que
uma desvalorização nominal não
implica uma melhora da competitividade; a Argentina se tornou
muito mais competitiva quando
fez a convertibilidade, e não quando desvalorizou", declarou Frigerio à Folha.
No entanto, caso a situação no
Brasil se agrave e saia de controle,
o secretário admitiu a necessidade
de negociações entre os parceiros
do Mercosul.
"Se se mantém esse quadro, e se
houver uma avalanche, teremos
que dialogar (ambos os governos)
para que as relações comerciais do
Mercosul não deteriorem", assegurou.
Indagado sobre a solicitação dos
empresários, que pedem maior
proteção ao governo, Frigerio disse que "qualquer alteração terá de
ser analisada setor a setor, dentro
dos acordos do Mercosul".
Euforia nas Bolsas
A despeito da onda de instabilidade e incerteza, o mercado financeiro argentino reagiu à situação
com euforia, estimulado pela alta
de 33,39% do Bovespa. O índice
Merval registrou ontem uma subida de 12,26%.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|