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TRABALHO
Juros, corte de investimentos e baixo crescimento devem elevar taxa de pessoas sem emprego a níveis recordes em 2003
Lula enfrenta maior desemprego da história
CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva vai enfrentar, no primeiro
ano de mandato, a maior crise de
desemprego da história do país.
Ao considerarem as medidas já
anunciadas pelo novo governo,
como a elevação dos juros e o corte de investimentos, economistas
que acompanham o mercado de
trabalho são unânimes: o desemprego vai disparar em 2003.
Ninguém consegue prever um
crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) superior a 2%, número já considerado otimista.
Com esse desempenho, o país não
consegue se movimentar a ponto
de elevar a oferta de emprego para
absorver 1,5 milhão de pessoas
que entram anualmente no mercado de trabalho, além de parte
dos desempregados -são cerca
de 12 milhões no país.
Nem mesmo o Cesit (Centro de
Estudos Sindicais e de Economia
do Trabalho), da Unicamp, universidade que reúne profissionais
com idéias próximas às do PT,
consegue ver um ano melhor para
o trabalhador. A taxa de desemprego na região metropolitana de
São Paulo -que, na média do
ano passado, foi de 19% sobre a
PEA (População Economicamente Ativa), segundo o Dieese- ficaria, segundo as projeções da
Unicamp, entre 20% e 21% neste
ano. É um recorde histórico desde
85, quando a pesquisa foi iniciada.
"As projeções para o mercado
de trabalho são bem pessimistas
porque o país vai crescer pouco",
afirma Anselmo Luís dos Santos,
do Cesit. Para que consiga elevar a
oferta de vagas, diz, o Brasil teria
de crescer entre 4,5% e 5% ao ano.
Só assim o governo conseguiria
criar 10 milhões de postos de trabalho, com e sem carteira, como
prometeu em sua campanha.
Relação inversa
Para estimar o comportamento
do mercado de trabalho neste
ano, o Cesit considerou a relação
PIB/taxa de desemprego no período de 1996 a 2002. "É uma relação inversa. Quando o PIB cai, o
desemprego aumenta. Se o país
cresce, a taxa de desemprego recua", explica Santos.
Estudo da Secretaria do Trabalho da Prefeitura de São Paulo
(PT) mostra que, no período de
1992 a 2002, para cada ponto percentual de queda do PIB -de 2%
para 1%, por exemplo-, a quantidade de desempregados sobe
14,1 pontos percentuais nas seis
regiões metropolitanas do país.
Se o PIB cresce um ponto percentual, de 1% para 2%, a quantidade de desempregados cai 3,2
pontos percentuais. O impacto é
diferente porque, se a economia
vai mal, o fechamento de vagas é
acelerado. Mas, se o país cresce, as
contratações já não ocorrem no
mesmo ritmo das demissões, pois
as empresas tendem a ser mais
cautelosas nas admissões.
O Dieese, que faz pesquisa mensal de emprego e desemprego em
São Paulo e em algumas regiões
metropolitanas do país, também
está pessimista. "A taxa de desemprego vai continuar em patamar
alto, com ligeira tendência de
crescimento em 2003", diz Sérgio
Mendonça, coordenador técnico
do Dieese. "O governo, que é mais
otimista, prevê crescimento de
2,8% para o país neste ano. Se essa
projeção se confirmar, o desemprego fica estável ou cresce", diz.
Vale lembrar que a taxa recorde
de desemprego em São Paulo,
medida pelo Dieese, foi de 19,3%
em 99 -quando o país sofreu os
efeitos da desvalorização do real.
O mercado de trabalho pode
encolher ainda mais neste ano,
diz Mendonça, porque mais pessoas deverão buscar emprego.
Motivo: estão mais otimistas com
o governo Lula. Isso faz a PEA
crescer, o que significa mais pressão sobre as taxas de desemprego.
Na opinião dos economistas ouvidos pela Folha, o novo governo
enfrentará a elevação do desemprego porque não tem como escapar dos efeitos de uma crise mundial -agravada com a provável
guerra entre os EUA e o Iraque-
e da necessidade de mostrar credibilidade ao país e ao exterior, de
conter a inflação e de implementar as reformas trabalhista, tributária e previdenciária.
"Esses cenários externo e interno nos levam a prever um primeiro semestre com baixo ritmo de
atividade. A inflação está mais difícil de reduzir do que se previa.
Também foi uma surpresa a elevação dos juros. A ameaça de
guerra agrava essa situação", diz
Francisco Eduardo Pires de Souza, coordenador do Boletim de
Conjuntura da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
A avaliação do economista Roberto Sobreira, da FGV, é a mesma. "Com esse ambiente, a capacidade de criar postos de trabalho
fica comprometida até o primeiro
semestre de 2004. O governo não
será capaz de dar um choque de
emprego nos dois últimos anos de
mandato." Ele prevê para o país,
em 2003, taxa de crescimento entre 1,2% e 1,4% e elevação de cerca
de um ponto percentual nas taxas
de desemprego.
Impacto dos juros
A decisão da equipe econômica
do governo Lula de aumentar a
taxa de juros (Selic) de 25% para
25,5% tem forte impacto no desemprego. Conforme estudo da
Secretaria do Trabalho de São
Paulo, entre dezembro de 1999 e
dezembro de 2002, para cada aumento de um ponto percentual
nos juros, houve incremento de
0,7 ponto na taxa de desemprego
na cidade de São Paulo. Significa
dizer que o desemprego aumentou em 39,9 mil pessoas -ou um
estádio do Pacaembu lotado.
Para Flávio Castello Branco,
coordenador de política econômica da CNI (Confederação Nacional da Indústria), a indústria
vai elevar o número de empregos
se o país crescer acima de 4%.
"Sem essa expansão, não há estímulo para contratações." No ano
passado, a indústria brasileira reduziu em 0,12% o número de pessoas empregadas. Para 2003, esse
quadro se mantém -isto é, na
melhor das hipóteses, o número
de empregos fica estável.
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