São Paulo, segunda-feira, 16 de fevereiro de 2004

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Em 2002, grupo registrou perdas de R$ 66,4 mi no Brasil

No ano de seu maior prejuízo, Parmalat remete R$ 1 bilhão

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

No ano em que apurou seu maior prejuízo no Brasil, no valor de R$ 66,4 milhões, em 2002, a Parmalat transferiu R$ 1,07 bilhão para suas contas bancárias fora do país. Foi a maior transferência de recursos para o exterior, feita pelo grupo, em um único ano.
A movimentação ocorreu por contas CC-5, que permitem saques em dólares no exterior, registradas no Banco Central. Os dados foram levantados pela CPI do Banestado, que apura movimentos financeiros que possam ser crime de evasão de divisas.
As remessas foram feitas pela Parmalat Participações, a holding local do grupo italiano. Descontados R$ 193.438.200 que entraram por meio de operações de contas CC-5, houve uma saída líquida de R$ 876,5 milhões naquele ano.
A maior remessa ocorreu no dia 22 de janeiro de 2002: foram R$ 527.614.950, num pacote só.
Andrea Ventura, responsável pela Parmalat Participações, diz que só responde pelas operações realizadas após 1º de julho de 2002, quando assumiu o comando da holding, representando o grupo italiano no país. "Todas as operações feitas são lícitas. Estou no Brasil dando depoimentos às autoridades, pois nada do que foi feito nos últimos anos significa problema", diz ele.
Antes de Ventura, quem comandava a holding era o executivo Carlos de Souza Monteiro, que deixou o grupo em 2002. Há mais de dez dias o juiz da 42ª Vara Cível de São Paulo, Carlos Henrique Abrão, tenta intimar Monteiro a prestar esclarecimentos à Justiça, sem sucesso. Os oficiais de Justiça não conseguem localizá-lo.
Carlos Monteiro foi contemporâneo na Parmalat de Gianni Grisendi, que comandou o grupo por 11 anos, até 2000.
Datam da gestão de Grisendi outras duas grandes remessas ao exterior, por operações CC-5. Em 1999, R$ 527,2 milhões cruzaram as fronteiras, em uma só semana.
Naquele tempo, porém, o padrão das remessas era diferente: os recursos saíram como empréstimos a residentes no exterior e foram enviados à Wishaw, empresa do grupo italiano com sede em Montevidéu, no Uruguai.
Em 2002, as transferências eram registradas como "disponibilidades no exterior" -remessas para contas da própria empresa lá fora.
Mas, também em 1999, as remessas ao exterior eram feitas apesar de o braço operacional da empresa, a Parmalat Alimentos, amargar prejuízos -R$ 29,8 milhões, então. Segundo analistas, como a Parmalat Alimentos só teve prejuízos no país desde 1998, os recursos enviados ao exterior devem ser oriundos de empréstimos tomados pelo grupo, que levaram a seu elevado endividamento.
Antigos funcionários da Parmalat ouvidos pela Folha insistem que ao longo de sua trajetória no país o grupo trouxe mais dinheiro do que enviou para o exterior. Segundo esses executivos, além das transações via CC-5, a Parmalat recebia recursos da matriz na forma de empréstimos ou aportes e de captações no exterior.



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