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Em 2002, grupo registrou perdas de R$ 66,4 mi no Brasil
No ano de seu maior prejuízo,
Parmalat remete R$ 1 bilhão
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
No ano em que apurou seu
maior prejuízo no Brasil, no valor
de R$ 66,4 milhões, em 2002, a
Parmalat transferiu R$ 1,07 bilhão
para suas contas bancárias fora do
país. Foi a maior transferência de
recursos para o exterior, feita pelo
grupo, em um único ano.
A movimentação ocorreu por
contas CC-5, que permitem saques em dólares no exterior, registradas no Banco Central. Os
dados foram levantados pela CPI
do Banestado, que apura movimentos financeiros que possam
ser crime de evasão de divisas.
As remessas foram feitas pela
Parmalat Participações, a holding
local do grupo italiano. Descontados R$ 193.438.200 que entraram
por meio de operações de contas
CC-5, houve uma saída líquida de
R$ 876,5 milhões naquele ano.
A maior remessa ocorreu no dia
22 de janeiro de 2002: foram R$
527.614.950, num pacote só.
Andrea Ventura, responsável
pela Parmalat Participações, diz
que só responde pelas operações
realizadas após 1º de julho de
2002, quando assumiu o comando da holding, representando o
grupo italiano no país. "Todas as
operações feitas são lícitas. Estou
no Brasil dando depoimentos às
autoridades, pois nada do que foi
feito nos últimos anos significa
problema", diz ele.
Antes de Ventura, quem comandava a holding era o executivo Carlos de Souza Monteiro, que
deixou o grupo em 2002. Há mais
de dez dias o juiz da 42ª Vara Cível
de São Paulo, Carlos Henrique
Abrão, tenta intimar Monteiro a
prestar esclarecimentos à Justiça,
sem sucesso. Os oficiais de Justiça
não conseguem localizá-lo.
Carlos Monteiro foi contemporâneo na Parmalat de Gianni Grisendi, que comandou o grupo por
11 anos, até 2000.
Datam da gestão de Grisendi
outras duas grandes remessas ao
exterior, por operações CC-5. Em
1999, R$ 527,2 milhões cruzaram
as fronteiras, em uma só semana.
Naquele tempo, porém, o padrão das remessas era diferente:
os recursos saíram como empréstimos a residentes no exterior e
foram enviados à Wishaw, empresa do grupo italiano com sede
em Montevidéu, no Uruguai.
Em 2002, as transferências eram
registradas como "disponibilidades no exterior" -remessas para
contas da própria empresa lá fora.
Mas, também em 1999, as remessas ao exterior eram feitas
apesar de o braço operacional da
empresa, a Parmalat Alimentos,
amargar prejuízos -R$ 29,8 milhões, então. Segundo analistas,
como a Parmalat Alimentos só teve prejuízos no país desde 1998, os
recursos enviados ao exterior devem ser oriundos de empréstimos
tomados pelo grupo, que levaram
a seu elevado endividamento.
Antigos funcionários da Parmalat ouvidos pela Folha insistem
que ao longo de sua trajetória no
país o grupo trouxe mais dinheiro
do que enviou para o exterior. Segundo esses executivos, além das
transações via CC-5, a Parmalat
recebia recursos da matriz na forma de empréstimos ou aportes e
de captações no exterior.
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