São Paulo, segunda-feira, 16 de fevereiro de 2004

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Empresa deixa de pagar R$ 55 mi ao BB

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A Parmalat deixou de pagar na sexta-feira dívida de R$ 55 milhões que venceu com o Banco do Brasil, seu maior credor, segundo a Folha apurou. A linha de crédito funcionava como uma espécie de cheque especial para a companhia, que já deixou de pagar débitos com o BB anteriormente, o que motivou o bloqueio de recursos da Parmalat na instituição.
Com dificuldades de caixa, a companhia terá de pagar hoje o adiantamento salarial de seus 6.000 funcionários, no valor total de R$ 2 milhões.
O Sindicato dos Trabalhadores da Alimentação de Jundiaí (SP) informou que na unidade fabril daquela cidade o pagamento foi feito sexta-feira. A companhia opera sem capital de giro e, em reunião na semana passada, os bancos reforçaram a decisão de não abrir os cofres ao grupo.
"Estamos operando da mão para a boca", disse o novo administrador, Keyler Rocha, que substituiu o o ex-presidente da companhia Ricardo Gonçalves, por determinação judicial. Os novos administradores redobraram esforços para liberar recursos bloqueados no BB. Representantes da empresa estiveram em Brasília na sexta-feira, para pedir ao governo, principal acionista do banco, que libere os recursos imobilizados, estimados em R$ 14 milhões.
O banco emprestou cerca de R$ 120 milhões à Parmalat e decidiu bloquear recursos para tentar garantir pelo menos parte do pagamento. O BB não comentou o novo atraso na quitação da dívida.
Há uma saída de emergência, que pode ser adotada pela empresa, caso não consiga novos recursos. O grupo tem uma linha de crédito de R$ 40 milhões com um banco de varejo, que só irá utilizar em último caso, apurou a Folha.
Para conseguir operar, a companhia precisa de R$ 75 milhões a R$ 100 milhões agora, pelas contas de Keyler Rocha. A garantia que está sendo negociada pela empresa, na caça de capital, são recebíveis -espécie de títulos de dívida da companhia- que, no entanto, não estão sendo bem aceitos pelo mercado. "Os credores não querem saber de emprestar mais dinheiro à empresa que dá como garantia um papel que pode virar pó", disse um advogado de banco credor para a Folha.
Jorge Lobo, interventor judicial na empresa, diz acreditar que "os bancos estão mais abertos e irão se sensibilizar com a situação".
Mas as atuais negociações comandadas pelo grupo de interventores na empresa podem chegar ao fim. O advogado da empresa, Thomas Felsberg, entrou na sexta-feira com três recursos em nome da Parmalat e de seus diretores. Com eles, tenta revogar as decisões do juiz da 42ª Vara Cível, Carlos Henrique Abrão.
A empresa pede ao Tribunal de Justiça a destituição dos novos administradores, no cargo por decisão do juiz, a proibição da quebra de sigilos dos diretores e a reunião dos processos contra a empresa na 29ª Vara Cível de São Paulo.
Na sexta-feira, a empresa teve o pedido de concordata suspenso de forma temporária. O juiz Núncio Theophilo Neto, da 29ª Vara Cível, justificou que, por conta de um "conflito de competência" entre ele e o juiz Abrão, da 42ª Vara Cível, há risco de decisões conflitantes a respeito da Parmalat. Theophilo e Abrão estão analisando processos diferentes que envolvem o grupo.
A Parmalat do Brasil chegou a essa situação delicada depois que a matriz na Itália, em intervenção judicial, cortou linhas para capital de giro da empresa. No país, bancos deixaram de emprestar recursos. Como acumula prejuízos há anos, ela depende de financiamentos para se manter de pé.



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