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"OPERAÇÃO CARBONO"
Ex-chefe de departamento suspeito de fraude assinou laudo para defender país em negociação internacional
"Caso dos diamantes" constrange governo
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
A prisão, na última sexta-feira,
do ex-chefe do distrito regional
do DNPM (Departamento Nacional da Produção Mineral) de Minas Gerais, Luiz Eduardo Machado Castro, por suspeita de fraudes
na emissão de certificados de origem de diamantes, deixou o governo em situação constrangedora no exterior.
Em novembro do ano passado,
o Ministério das Minas e Energia,
ao qual o DNPM é subordinado,
apresentou, em Moscou, na Rússia, um laudo técnico assinado
por Castro para rebater acusação
feita pela organização internacional PAC (Parceria África-Canadá)
sobre a existência de fraudes nos
certificados emitidos pelo DNPM
em Minas Gerais.
O laudo foi apresentado durante a reunião dos mais de 40 países
que integram o Sistema de Certificação do Processo Kimberley:
acordo político para coibir o comércio ilegal de diamantes. O
Brasil aderiu ao acordo em 2002, e
passou a emitir os certificados em
outubro de 2003.
Luiz Castro foi preso pela Polícia Federal durante a ""Operação
Carbono", e solto na madrugada
de ontem, quando, segundo o Ministério Público Federal, expirou
o prazo para prisão temporária.
As investigações continuam a cargo da Polícia Federal, em Minas
Gerais.
Indicado para o cargo pela bancada do PT de Minas Gerais, Castro foi secretário municipal de
Serviços Urbanos em João Monlevade (MG) e secretário de finanças do diretório municipal do
PT naquela cidade. Ele foi exonerado pela direção do DNPM na
segunda-feira.
A PAC enviou uma equipe ao
Brasil, em janeiro do ano passado,
para investigar as condições da
produção e da comercialização de
diamantes. A equipe ficou três
meses no país e produziu o relatório ""A Falência das Boas Intenções - Fraude, Furto e Assassinato
na Produção Brasileira de Diamantes", divulgado em maio, que
aponta problemas e propostas de
soluções.
O relatório sustenta ser falso o
Certificado Kimberley de número
64, emitido pelo DNPM mineiro
em 19 de agosto de 2004 (anterior
à posse de Carlos no comando regional do órgão), que permitiu a
exportação de 6.786,9 quilates de
diamantes. O certificado diz que
as pedras tinham sido extraídas
de uma lavra garimpeira próximo
de Diamantina. A equipe da PAC
foi ao local e sustenta que, até a
data da visita,nunca tinha havido
exploração garimpeira no local
apontada pelo DNPM.
O laudo do ex-chefe, apresentado em Moscou, qualificou de inverídica a afirmação da PAC de
que o certificado 64 era falso.
O Ministério das Minas e Energia já havia reagido mal ao relatório da PAC, quando ele foi divulgado. Em junho, o ministério
mandou uma carta à presidência
do Processo Kimberley reclamando que o país tinha sido tratado de
forma irônica e jocosa. A direção
da PAC defendeu o trabalho realizado no Brasil.
Outro Lado
O diretor-geral do DNPM, Miguel Cedraz, disse à Folha que foi
criada uma comissão para reexaminar todos os certificados de origem de diamantes -denominados Certificados Kimberley-
emitidos no país. A comissão, segundo ele, tem 30 dias para concluir o trabalho.
Segundo Cedraz, o Ministério
das Minas e Energia informou à
direção do Processo Kimberley os
fatos ocorridos no Brasil, e comunicou a suspensão da emissão de
novos certificados até a conclusão
da auditoria especial. Foram cancelados três certificados (cuja exportação não havia sido concretizada), que haviam sido emitidos
em nome de empresas que estão
sob investigação da PF.
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