São Paulo, terça-feira, 16 de abril de 2002

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RETORNO DUVIDOSO

Fundo de pensão fez investimento fracassado em parque temático próximo ao santuário de Aparecida

Previ gastou R$ 40 mi em negócio de R$ 3 mi

Roosevelt Cassio/Folha Imagem
Imagem do papa João Paulo 2º no parque temático Magic Park, construído em Aparecida; Previ reavalia negócio que dá prejuízo


ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Negócios suspeitos e deficitários feitos pela Previ (Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil) começam a vir à tona. O relatório anual referente a 2001 revela que os participantes do fundo de pensão gastaram R$ 40 milhões em um empreendimento que vale R$ 3,1 milhões.
O investimento fracassado foi feito, em 1997, para a construção do Magic Park, próximo ao santuário de Aparecida, em São Paulo. Os prejuízos mensais de até R$ 100 mil com o parque levaram a atual diretoria da Previ a reavaliar esse e outros negócios.
Os investimentos de retorno duvidoso que estão sendo revistos também têm em comum o período em que foram feitos: entre 1995 e 1997, época em que o fundo era presidido por Jair Bilachi e tinha João Bosco Madeiro como diretor técnico. Ambos são alvos de um inquérito policial e de investigações feitas pelo Ministério Público que apuram denúncias de corrupção no leilão de privatização do sistema Telebrás.
Bosco era considerado o braço direito de Sérgio Ricardo de Oliveira, ex-diretor do Banco do Brasil que foi acusado pelo ex-senador Antônio Carlos Magalhães (PFL) de ter recebido propina na formação de consórcios para o leilão da Telebrás.
No caso do Magic Park, a proposta de construção do parque temático-que reproduz miniaturas de monumentos famosos- foi apresentada à Previ pelo grupo italiano Park Inn, chamado hoje de Colombu Grup. A idéia era atrair os fiéis que visitam a Basílica de Aparecida. Mas a atual diretoria da Previ achou erros de avaliação e suspeitas de desvio de recursos desde o início do negócio.
As estimativas do público potencial que o parque poderia receber, por exemplo, foi feita pela consultoria Toledo e Associados com base em informações levantadas com os padres. A conclusão foi que o Magic Park atrairia 2,4 milhões de visitantes por ano. Com base nesse número, a Previ contratou na época duas outras consultorias- a Plane Engenharia e Consultoria e a Consulte Consultoria e Engenharia e Avaliações- para que avaliassem o valor econômico do projeto.
As consultorias chegaram a um valor próximo de R$ 82 milhões para o negócio. A Previ se interessou e decidiu investir R$ 40 milhões por 49% de participação.
"De cara, essas condições já eram ruins. A Previ investiu quase a metade do valor econômico do negócio para ser sócio minoritário", disse Sérgio Rosa, atual diretor de Participações da Previ.
Para piorar, o parque construído acabou tendo capacidade para 600 mil e não 2,4 milhões de pessoas e o número anual de visitantes nunca passou de 270 mil.
As falhas de avaliação do projeto ficam ainda mais claras em um documento interno da Previ, ao qual a Folha teve acesso, em que a diretoria técnica, presidida por Bosco, apresentava três cenários possíveis para o desempenho do Magic Park: um pessimista, um realista e outro otimista. O estranho é que os três cenários apresentavam estimativas idênticas.
Outra incompatibilidade encontrada pela diretoria da Previ, que indica que pode ter ocorrido gestão temerária ou desvio de recursos, se refere ao valor desembolsado na época pelo fundo de pensão. Uma auditoria contratada pela Previ avaliou que o custo de implantação do parque era de, no máximo, R$ 43 milhões. Como a Previ desembolsou, sozinha, R$ 40 milhões, restaria aos italianos, sócios majoritários do negócio, parcela de apenas R$ 3 milhões para a montagem do parque.



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