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São Paulo, quarta-feira, 16 de abril de 2003

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CRISE NO AR

Aeronáutica quer impedir que companhia aumente seu número de vôos e prejudique plano de rearranjo do setor

Governo tira rota da Gol e veta leasing de jato

LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL

A companhia aérea Gol e o governo entraram em rota de colisão. O Palácio do Planalto quer reduzir o tráfego de aviões no Brasil, mas a Folha apurou ontem que a Gol não pretende ser incluída no enxugamento de vôos, que visaria aliviar o excesso de oferta de assentos no setor da aviação civil. Esse corte ajudaria empresas em dificuldades financeiras como a Varig, TAM e Vasp.
As pressões do governo para tentar enquadrar a Gol começaram no dia 14 de março, quando o comando da Aeronáutica publicou a portaria nº 243. Ela afirma que a Aeronáutica adotará medidas para diminuir a oferta de vôos no país.
O artigo 4º da portaria é contundente, pois determina que qualquer companhia aérea interessada em contratar mais aeronaves deve comprovar a real necessidade ao DAC (Departamento de Aviação Civil).
A Gol é a única companhia aérea que tem ampliado sua frota de aeronaves. A Varig, por exemplo, devolveu 18 aviões somente neste ano. Um golpe mais forte do governo contra a Gol ocorreu no dia 27 de março, quando o DAC suspendeu a autorização para a companhia voar de São Paulo (Congonhas) para Londrina, no Paraná.
A Gol havia inaugurado esse trajeto apenas cinco dias antes. Procurado pela Folha, o DAC não explicou os motivos da suspensão da rota.
O presidente da Gol, Constantino Júnior, afirmou que não pretende seguir as orientações do artigo da portaria da Aeronáutica. "As justificativas para a importação de aviões não se aplicam à Gol, que registra crescimento nos negócios", disse. A Gol foi a única empresa a ter lucros em 2002.
O empresário mostrou irritação pelo fato de o DAC ter suspenso seus vôos de São Paulo para Londrina, o que beneficiou seus concorrentes. "Toda vez que a Gol entra em um novo mercado os preços das tarifas diminuem."

Interesse público e negócios
A Folha apurou que o centro da discórdia entre a Gol e o governo é a maneira com que o ministro da Casa Civil, José Dirceu, encara a aviação civil.
Enquanto Dirceu entende que o governo deve interferir no setor, pois é de interesse público, a Gol trabalha principalmente sob o ponto de vista dos negócios.
A Gol teve crescimento de cerca de 90% no seu resultado operacional em 2002 em relação a 2001. "A indústria de aviação civil como um todo aumentou 0,9%", disse Constantino.
O empresário também disse que até agora não foi procurado por nenhum representante do governo para participar das comissões que estudam novas regras para o setor.
No último dia 2, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou a criação de duas comissões para analisar medidas que ajudem o setor da aviação como um todo.
Uma comissão indicará medidas emergenciais que podem ajudar empresas do setor. A outra apresentará novas regras para a aviação. "Não fui procurado por nenhum representante dessas duas comissões", afirmou o empresário.
A expectativa de empresas como a Varig, que estuda uma joint venture com a TAM, é que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) libere dinheiro a taxas de juros baixas.
Constantino disse que, a princípio, a Gol não pretende pedir empréstimos ao governo. Mas, se houver a abertura de crédito barato, ele quer que sua companhia possa optar por ter as mesmas condições dos concorrentes.


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