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Queda nos juros atenua o aumento nos gastos públicos
LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo não correu riscos.
Anunciou um aperto fiscal menor em 2009 que será atenuado
pela queda nos juros e conseguirá encerrar o ano, salvo catástrofes maiores, em boa situação fiscal. A explicação é
simples: a queda nos juros abre
espaço para um superávit primário menor. Como a dívida
cresce menos -o governo estima que só neste ano deixará de
gastar cerca de R$ 15 bilhões
por causa dos juros menores-,
é preciso economizar menos.
O custo da redução no superávit neste ano será uma elevação estimada em 3,1 pontos
percentuais no endividamento
público, que deve chegar ao fim
do ano em 39,4% do PIB. Em
2003, chegava a 52,4% do PIB.
Proporcionalmente, o esforço fiscal que o governo se compromete a fazer neste ano também continua maior do que fazia há dez anos, quando, também devido à crise externa,
passou a economizar dinheiro
para pagar parte da dívida.
"Não é preciso um superávit
maior [que 2,5% do PIB] desde
que os juros continuem caindo", diz o economista-chefe do
Banco Fator, José Francisco de
Lima Gonçalves.
Mesmo com a redução no
aperto fiscal, há margem de
manobra neste ano. A poupança de R$ 15,5 bilhões do Fundo
Soberano do Brasil não foi incluída nas receitas e poderá financiar novos pacotes de desoneração e incentivo à economia ou, mais provavelmente,
perdas de receita que ainda
possam acontecer no ano.
A decisão final também foi
muito mais moderada do que
se chegou a discutir internamente no governo. O presidente Lula autorizou, ao longo das
discussões com a equipe econômica, uma queda no superávit primário de 2009 e também
de 2010. Nesse caso, as projeções para o próximo ano podiam chegar a até 2,6% do PIB.
Mas ele foi convencido pelo
ministro Guido Mantega (Fazenda) a retomar o esforço fiscal em 2010 sob o argumento
de que o governo não poderia
abrir mão de uma política fiscal
que reduzisse a dívida pública.
Os custos, no entanto, existirão. Um deles é a própria redução da taxa de juros no futuro.
A teoria econômica clássica diz
que, se o governo gasta mais e
coloca mais dinheiro na economia, o espaço do Banco Central
para cortar juros é menor. "O
ideal seria deixar o BC reduzir
os juros numa velocidade
maior", diz Cassiana Fernandes, da Mauá Investimentos.
Outro risco é a sinalização de
um menor compromisso do governo com a austeridade fiscal.
Além da redução no superávit
primário, há novas desonerações de impostos na agenda,
ajuda a prefeitos e socorro a governadores. O preço pago pela
dívida fiscal é também um aumento na taxa de juros.
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