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Queda dos C-Bonds é normal, diz Meirelles
MARIA LUIZA ABBOT
ENVIADA ESPECIAL A SEVILHA
O presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, considerou a
queda dos C-Bonds como uma
flutuação normal de mercado,
mas reconheceu que, se houver
uma piora no quadro da economia internacional, os países
emergentes podem ser afetados.
Os papéis da dívida externa brasileira caíram nos últimos dois dias,
acompanhando movimento de títulos de outros emergentes. Essa
queda pode estar ligada a uma
maior preocupação com a fragilidade da economia americana, demonstrada em indicadores recentes, e maior aversão ao risco, segundo analistas.
"Não se pode olhar a variação
de um dia, tem que olhar a curva,
mais a médio prazo", disse Meirelles, que participa de um seminário de presidentes de bancos centrais do continente americano,
em Sevilha.
Para o presidente do BC, um
crescimento mais baixo dos EUA
pode ser positivo para a América
Latina, em um primeiro momento. "Com menor crescimento da
economia americana, com taxas
de juros muito baixas e retorno
baixo, os papéis de países da
América Latina ficam mais
atraentes. Por isso, num primeiro
momento, o que acontece é positivo para a América Latina", disse.
O maior interesse por aplicações de risco mais alto e também
de maior rendimento -os chamados "high yields"- está sendo
observado nos mercados europeus, segundo informações do
Banco Central Europeu. No entanto, Meirelles reconheceu que
esse quadro pode mudar. "Se essa
recuperação lenta da economia
americana se transformar em
"double dip" (duplo mergulho, ou
seja, uma segunda desaceleração), pode crescer a aversão ao
risco, não só para o Brasil, mas
também para outros emergentes", disse.
A possibilidade de uma deflação
mundial foi um dos temas centrais da discussão no seminário.
"Preocupa o risco de recessão e a
deflação no mundo é um animal
novo", disse o vice-presidente do
Banco Central da Argentina, Pedro Lacoste. Segundo Lacoste, os
indicadores mais recentes mostram que Argentina, Brasil e Chile
estão se recuperando e existe o receio de que uma recessão mundial, se acontecer, seja um fator de
contenção nessa recuperação.
"É certo que em contrapartida
os juros nos Estados Unidos seriam baixos, mas isso pode significar um aumento nos fluxos de
capital de curto prazo para economias como as nossas, o que pode
ser um problema", disse o representante do BC argentino.
Meirelles considera que se for
confirmada a deflação, o quadro
para a América Latina ainda poderia ser positivo se os Estados
Unidos e a Europa conseguirem
manter o crescimento de suas
economias. "Com deflação pequena, se for mantido o nível de
atividade, o cenário é positivo para a América Latina", observou.
No caso específico do Brasil, o
presidente do BC disse que os
fundamentos da economia estão
melhores do que estavam no ano
passado: "Hoje estamos menos
vulneráveis, porque o risco caiu."
O raciocínio é o de que em períodos de aumento da aversão ao
risco, os investidores começam a
sair daqueles que estão no topo da
lista das aplicações mais arriscadas, de onde o Brasil saiu com a
melhora nos fundamentos. "Na
medida em que estamos mais sólidos, diminui a vulnerabilidade
às oscilações de mercado", disse.
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