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São Paulo, sexta-feira, 16 de maio de 2003

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Queda dos C-Bonds é normal, diz Meirelles

MARIA LUIZA ABBOT
ENVIADA ESPECIAL A SEVILHA

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, considerou a queda dos C-Bonds como uma flutuação normal de mercado, mas reconheceu que, se houver uma piora no quadro da economia internacional, os países emergentes podem ser afetados. Os papéis da dívida externa brasileira caíram nos últimos dois dias, acompanhando movimento de títulos de outros emergentes. Essa queda pode estar ligada a uma maior preocupação com a fragilidade da economia americana, demonstrada em indicadores recentes, e maior aversão ao risco, segundo analistas.
"Não se pode olhar a variação de um dia, tem que olhar a curva, mais a médio prazo", disse Meirelles, que participa de um seminário de presidentes de bancos centrais do continente americano, em Sevilha.
Para o presidente do BC, um crescimento mais baixo dos EUA pode ser positivo para a América Latina, em um primeiro momento. "Com menor crescimento da economia americana, com taxas de juros muito baixas e retorno baixo, os papéis de países da América Latina ficam mais atraentes. Por isso, num primeiro momento, o que acontece é positivo para a América Latina", disse.
O maior interesse por aplicações de risco mais alto e também de maior rendimento -os chamados "high yields"- está sendo observado nos mercados europeus, segundo informações do Banco Central Europeu. No entanto, Meirelles reconheceu que esse quadro pode mudar. "Se essa recuperação lenta da economia americana se transformar em "double dip" (duplo mergulho, ou seja, uma segunda desaceleração), pode crescer a aversão ao risco, não só para o Brasil, mas também para outros emergentes", disse.
A possibilidade de uma deflação mundial foi um dos temas centrais da discussão no seminário. "Preocupa o risco de recessão e a deflação no mundo é um animal novo", disse o vice-presidente do Banco Central da Argentina, Pedro Lacoste. Segundo Lacoste, os indicadores mais recentes mostram que Argentina, Brasil e Chile estão se recuperando e existe o receio de que uma recessão mundial, se acontecer, seja um fator de contenção nessa recuperação.
"É certo que em contrapartida os juros nos Estados Unidos seriam baixos, mas isso pode significar um aumento nos fluxos de capital de curto prazo para economias como as nossas, o que pode ser um problema", disse o representante do BC argentino.
Meirelles considera que se for confirmada a deflação, o quadro para a América Latina ainda poderia ser positivo se os Estados Unidos e a Europa conseguirem manter o crescimento de suas economias. "Com deflação pequena, se for mantido o nível de atividade, o cenário é positivo para a América Latina", observou.
No caso específico do Brasil, o presidente do BC disse que os fundamentos da economia estão melhores do que estavam no ano passado: "Hoje estamos menos vulneráveis, porque o risco caiu."
O raciocínio é o de que em períodos de aumento da aversão ao risco, os investidores começam a sair daqueles que estão no topo da lista das aplicações mais arriscadas, de onde o Brasil saiu com a melhora nos fundamentos. "Na medida em que estamos mais sólidos, diminui a vulnerabilidade às oscilações de mercado", disse.


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