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ÁGUIA ABATIDA
Queda de preços e indústria retraída fazem EUA cobrar da Europa e do Japão medidas para reativar economia global
Deflação evidencia fragilidade americana
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
A economia dos Estados Unidos
deu ontem outro sinal de que pode estar caminhando para um
processo continuado de deflação
e estagnação.
Diante de indicadores que apresentaram as maiores quedas em
quase 20 anos, o Departamento
do Tesouro americano cobrou
medidas urgentes da Europa e do
Japão para ajudarem na recuperação da economia global.
Os preços no atacado nos EUA
caíram 1,9% em abril -um recuo
recorde. A baixa nos preços do
petróleo, com o fim na guerra no
Iraque, teve forte impacto no indicador.
Mesmo sem levar em conta os
preços dos combustíveis e alimentos -já que apontam fortes
oscilações sazonais e conjunturais-, a deflação no atacado no
mês passado atingiu o índice mais
alto em dez anos -0,9%.
Outro indicador, que mede o nível de utilização da capacidade
instalada das grandes indústrias,
retrocedeu ao ponto mais baixo
desde junho de 1983 -fechou a
74,4% em abril.
Como consequência, houve um
novo recorde também no número
de pessoas sem trabalho que requisitaram cobertura do seguro-desemprego nos EUA.
Em abril, mais 120 mil pessoas
entraram no programa, e o total
subiu a 3,77 milhões -o nível
mais elevado desde o período
posterior aos atentados de 2001.
Juros podem cair
A série de indicadores negativos
-e principalmente o perigo de
deflação- fez aumentar as expectativas no mercado de que o
Fed (o banco central dos EUA) reduza ainda mais os juros.
A expectativa fez o rendimento
projetado para os títulos do governo norte-americano cair ao nível mais baixo em mais de quatro
décadas.
Em entrevista ontem pela manhã em Washington, o subsecretário do Tesouro dos EUA, John
Taylor, disse que a possibilidade
de deflação "não representa um
problema" para os EUA, mas cobrou do Japão e da Europa medidas para reativar suas economias.
"O Japão precisa combater a deflação, e a Europa, realizar as reformas necessárias para aumentar sua flexibilidade e voltar a
crescer", disse Taylor.
Em pronunciamento preparatório à reunião do G8 (os sete países desenvolvidos, mais a Rússia),
marcada para o início de junho e
distribuído ontem à imprensa, o
secretário do Tesouro, John
Snow, afirmou que as maiores
economias do mundo devem
""iniciar imediatamente ações
próprias" para voltar a crescer. "A
economia global precisa de múltiplos motores."
Ontem, pela primeira vez em
quase dois anos, foi revelado que
a UE não apresentou crescimento
no primeiro trimestre deste ano.
Durante a entrevista, Taylor deu
indicações de que os mecanismos
disponíveis para os EUA estimularem sua economia estão próximos do fim.
Corte de impostos
Com a taxa de juro básica em
1,25% anual, o ponto mais baixo
em 41 anos, Taylor limitou as possibilidades americanas ao programa de corte de impostos perseguido por George W. Bush. ""Estamos fazendo a nossa parte", disse.
Na prática, o programa proposto por Bush prevê um corte de
US$ 550 bilhões em impostos nos
próximos dez anos.
Embora o presidente diga que o
plano poderia criar 1 milhão de
empregos em 2004, estudos feitos
pelo Congresso, onde a proposta
ainda precisa ser aprovada, indicam que, na média, poderiam ser
gerados apenas cerca de 550 mil
empregos. Isso em um prazo de
cinco anos.
Confiança menor
Mais de 2 milhões de americanos perderam o emprego durante
os quase dois anos e meio de
mandato de Bush. Pesquisa divulgada anteontem mostrou uma
queda de sete pontos -para
47%- no percentual de americanos que confiam nas decisões
econômicas do presidente.
Candidato à reeleição, Bush teme repetir a trajetória de seu pai,
que ganhou a Guerra do Golfo em
91 e não foi reeleito depois em razão da economia. Durante seu
mandato, entre 1989 e 93, contudo, Bush pai ao menos conseguiu
criar 1,3 milhão de empregos.
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