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São Paulo, sexta-feira, 16 de maio de 2003

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ÁGUIA ABATIDA

Queda de preços e indústria retraída fazem EUA cobrar da Europa e do Japão medidas para reativar economia global

Deflação evidencia fragilidade americana

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

A economia dos Estados Unidos deu ontem outro sinal de que pode estar caminhando para um processo continuado de deflação e estagnação.
Diante de indicadores que apresentaram as maiores quedas em quase 20 anos, o Departamento do Tesouro americano cobrou medidas urgentes da Europa e do Japão para ajudarem na recuperação da economia global.
Os preços no atacado nos EUA caíram 1,9% em abril -um recuo recorde. A baixa nos preços do petróleo, com o fim na guerra no Iraque, teve forte impacto no indicador.
Mesmo sem levar em conta os preços dos combustíveis e alimentos -já que apontam fortes oscilações sazonais e conjunturais-, a deflação no atacado no mês passado atingiu o índice mais alto em dez anos -0,9%.
Outro indicador, que mede o nível de utilização da capacidade instalada das grandes indústrias, retrocedeu ao ponto mais baixo desde junho de 1983 -fechou a 74,4% em abril.
Como consequência, houve um novo recorde também no número de pessoas sem trabalho que requisitaram cobertura do seguro-desemprego nos EUA.
Em abril, mais 120 mil pessoas entraram no programa, e o total subiu a 3,77 milhões -o nível mais elevado desde o período posterior aos atentados de 2001.

Juros podem cair
A série de indicadores negativos -e principalmente o perigo de deflação- fez aumentar as expectativas no mercado de que o Fed (o banco central dos EUA) reduza ainda mais os juros.
A expectativa fez o rendimento projetado para os títulos do governo norte-americano cair ao nível mais baixo em mais de quatro décadas.
Em entrevista ontem pela manhã em Washington, o subsecretário do Tesouro dos EUA, John Taylor, disse que a possibilidade de deflação "não representa um problema" para os EUA, mas cobrou do Japão e da Europa medidas para reativar suas economias.
"O Japão precisa combater a deflação, e a Europa, realizar as reformas necessárias para aumentar sua flexibilidade e voltar a crescer", disse Taylor.
Em pronunciamento preparatório à reunião do G8 (os sete países desenvolvidos, mais a Rússia), marcada para o início de junho e distribuído ontem à imprensa, o secretário do Tesouro, John Snow, afirmou que as maiores economias do mundo devem ""iniciar imediatamente ações próprias" para voltar a crescer. "A economia global precisa de múltiplos motores."
Ontem, pela primeira vez em quase dois anos, foi revelado que a UE não apresentou crescimento no primeiro trimestre deste ano.
Durante a entrevista, Taylor deu indicações de que os mecanismos disponíveis para os EUA estimularem sua economia estão próximos do fim.

Corte de impostos
Com a taxa de juro básica em 1,25% anual, o ponto mais baixo em 41 anos, Taylor limitou as possibilidades americanas ao programa de corte de impostos perseguido por George W. Bush. ""Estamos fazendo a nossa parte", disse.
Na prática, o programa proposto por Bush prevê um corte de US$ 550 bilhões em impostos nos próximos dez anos.
Embora o presidente diga que o plano poderia criar 1 milhão de empregos em 2004, estudos feitos pelo Congresso, onde a proposta ainda precisa ser aprovada, indicam que, na média, poderiam ser gerados apenas cerca de 550 mil empregos. Isso em um prazo de cinco anos.

Confiança menor
Mais de 2 milhões de americanos perderam o emprego durante os quase dois anos e meio de mandato de Bush. Pesquisa divulgada anteontem mostrou uma queda de sete pontos -para 47%- no percentual de americanos que confiam nas decisões econômicas do presidente.
Candidato à reeleição, Bush teme repetir a trajetória de seu pai, que ganhou a Guerra do Golfo em 91 e não foi reeleito depois em razão da economia. Durante seu mandato, entre 1989 e 93, contudo, Bush pai ao menos conseguiu criar 1,3 milhão de empregos.


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