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TENSÃO ENTRE VIZINHOS
Para diretor, crise com a Bolívia pode, em caso extremo, atrasar auto-suficiência
Petrobras deve investir mais em gás
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
A Petrobras considera a possibilidade de aumentar os investimentos na exploração e na produção de gás, em decorrência da
crise com a Bolívia, que pode, em
tese, adiar em alguns meses a auto-suficiência do país, segundo o
diretor-financeiro da Petrobras,
Almir Barbasse.
Sempre ressaltando que não
trabalha com a hipótese de corte
no fornecimento e falando hipoteticamente, Barbassa afirmou
que, "se houvesse uma catástrofe"
e a Petrobras deixasse de importar gás da Bolívia, a maior parte
seria substituída por óleo combustível. Ficariam no país, em tese, 100 mil barris/dia de óleo combustível, mesmo volume que o
Brasil importa em gás da Bolívia
-100 mil barris equivalentes.
Com o aumento do consumo de
derivados de petróleo, a auto-suficiência brasileira só seria atingida no final do ano. Barbassa ressaltou que, no fim de 2006, não
existe risco porque as exportações
de derivados (250 mil barris) mais
do que compensam o que, em tese, teria de ficar no país.
Hoje, o consumo de derivados
está na faixa de 1,8 milhão de barris/dia e a produção de óleo alcança 1,75 milhões de barris/dia. Aumentará, porém, em pouco tempo com a interligação de mais poços à plataforma P-50 (em Campos, no Rio de Janeiro), que está
produzindo 45 mil barris/dia,
mas tem capacidade para 180 mil
barris/dia. O FPSO Capixaba (bacia do Espírito Santo) também já
entrou em operação, e outras plataformas devem iniciar produção
ainda neste ano.
Ele disse ainda que o cenário na
Bolívia fez com que a empresa estudasse elevar investimentos em
gás na revisão de seu plano estratégico, a ser divulgado em junho.
Segundo ele, sondas de perfuração podem ser deslocadas para
campos com perspectiva de produção de gás, embora para colocar uma área em produção sejam
necessários ao menos três anos.
No primeiro trimestre de 2006,
a área de gás e energia da Petrobras teve prejuízo de R$ 78 milhões -9,8% mais do que a perda
de R$ 71 milhões em igual período
de 2005. O resultado foi ocasionado porque usinas térmicas não
operaram por falta de demanda
para a energia, mas pagavam pelo
contrato de fornecimento de gás.
Na Bolívia, a Petrobras também
registrou resultados piores: o lucro teve queda de 46% -de US$
24 milhões no primeiro trimestre
de 2005 para US$ 13 milhões nos
três primeiros meses de 2006. O
motivo foi o aumento de impostos sobre a produção de gás, de
18% para 50%, em maio do ano
passado. Com a nacionalização,
os tributos subiram ainda mais,
chegando a 82%.
Em discurso no Fórum Nacional, no Rio, o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, disse
que "a crise" leva à reflexão sobre
a "possibilidade de acelerar a produção de gás nacional" e de promover combustíveis alternativos,
além de diversificar as fontes de
fornecimento de produto.
Gabrielli reafirmou, porém, que
a auto-suficiência do Brasil é sustentável e que serve de estímulo
"para encontrarmos caminhos
para a independência do suprimento do gás natural".
Barbassa afirmou que uma alternativa em estudo é incluir no
plano de negócios investimentos
em GNL (Gás Natural Liqüefeito,
importado sob a forma líquida),
montando unidades de liquefação. No atual plano de negócios, a
companhia prevê investir US$ 16
bilhões em na área de gás até 2010.
"Apagão natural"
O diretor de Gás e Energia da
empresa, Ildo Sauer, afirmou que
não há possibilidade de acontecer
no país um "apagão" do gás natural, já que ele não se compara com
a eletricidade e pode ser facilmente substituído. Sauer descartou a
possibilidade de a Bolívia deixar
de fornecer o combustível ao país.
"É um desatino dizer que a Bolívia
vai parar de exportar gás", disse.
Segundo Sauer, também não deve
haver reajuste no preço do gás.
Colaborou Talita Figueiredo, da Sucursal do Rio
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