São Paulo, terça-feira, 16 de maio de 2006

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TENSÃO ENTRE VIZINHOS

Para diretor, crise com a Bolívia pode, em caso extremo, atrasar auto-suficiência

Petrobras deve investir mais em gás

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

A Petrobras considera a possibilidade de aumentar os investimentos na exploração e na produção de gás, em decorrência da crise com a Bolívia, que pode, em tese, adiar em alguns meses a auto-suficiência do país, segundo o diretor-financeiro da Petrobras, Almir Barbasse.
Sempre ressaltando que não trabalha com a hipótese de corte no fornecimento e falando hipoteticamente, Barbassa afirmou que, "se houvesse uma catástrofe" e a Petrobras deixasse de importar gás da Bolívia, a maior parte seria substituída por óleo combustível. Ficariam no país, em tese, 100 mil barris/dia de óleo combustível, mesmo volume que o Brasil importa em gás da Bolívia -100 mil barris equivalentes.
Com o aumento do consumo de derivados de petróleo, a auto-suficiência brasileira só seria atingida no final do ano. Barbassa ressaltou que, no fim de 2006, não existe risco porque as exportações de derivados (250 mil barris) mais do que compensam o que, em tese, teria de ficar no país.
Hoje, o consumo de derivados está na faixa de 1,8 milhão de barris/dia e a produção de óleo alcança 1,75 milhões de barris/dia. Aumentará, porém, em pouco tempo com a interligação de mais poços à plataforma P-50 (em Campos, no Rio de Janeiro), que está produzindo 45 mil barris/dia, mas tem capacidade para 180 mil barris/dia. O FPSO Capixaba (bacia do Espírito Santo) também já entrou em operação, e outras plataformas devem iniciar produção ainda neste ano.
Ele disse ainda que o cenário na Bolívia fez com que a empresa estudasse elevar investimentos em gás na revisão de seu plano estratégico, a ser divulgado em junho. Segundo ele, sondas de perfuração podem ser deslocadas para campos com perspectiva de produção de gás, embora para colocar uma área em produção sejam necessários ao menos três anos.
No primeiro trimestre de 2006, a área de gás e energia da Petrobras teve prejuízo de R$ 78 milhões -9,8% mais do que a perda de R$ 71 milhões em igual período de 2005. O resultado foi ocasionado porque usinas térmicas não operaram por falta de demanda para a energia, mas pagavam pelo contrato de fornecimento de gás.
Na Bolívia, a Petrobras também registrou resultados piores: o lucro teve queda de 46% -de US$ 24 milhões no primeiro trimestre de 2005 para US$ 13 milhões nos três primeiros meses de 2006. O motivo foi o aumento de impostos sobre a produção de gás, de 18% para 50%, em maio do ano passado. Com a nacionalização, os tributos subiram ainda mais, chegando a 82%.
Em discurso no Fórum Nacional, no Rio, o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, disse que "a crise" leva à reflexão sobre a "possibilidade de acelerar a produção de gás nacional" e de promover combustíveis alternativos, além de diversificar as fontes de fornecimento de produto.
Gabrielli reafirmou, porém, que a auto-suficiência do Brasil é sustentável e que serve de estímulo "para encontrarmos caminhos para a independência do suprimento do gás natural".
Barbassa afirmou que uma alternativa em estudo é incluir no plano de negócios investimentos em GNL (Gás Natural Liqüefeito, importado sob a forma líquida), montando unidades de liquefação. No atual plano de negócios, a companhia prevê investir US$ 16 bilhões em na área de gás até 2010.

"Apagão natural"
O diretor de Gás e Energia da empresa, Ildo Sauer, afirmou que não há possibilidade de acontecer no país um "apagão" do gás natural, já que ele não se compara com a eletricidade e pode ser facilmente substituído. Sauer descartou a possibilidade de a Bolívia deixar de fornecer o combustível ao país. "É um desatino dizer que a Bolívia vai parar de exportar gás", disse. Segundo Sauer, também não deve haver reajuste no preço do gás.


Colaborou Talita Figueiredo, da Sucursal do Rio


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