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Aumenta a rentabilidade dos bancos no governo Lula
Estudo aponta que resultado do setor superou o obtido durante a gestão de FHC
Instituições brasileiras registram, em 12 meses, retorno melhor do que as americanas, atingidas pelos efeitos da crise financeira
CAMILA MARQUES
DA FOLHA ONLINE
Com estabilidade econômica
e empréstimos recordes, os
bancos brasileiros de capital
aberto, aqueles com ações negociadas na Bolsa de Valores, já
registram nos seis anos do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003 a 2008)
rentabilidade maior do que a
obtida nos oito anos do governo
de Fernando Henrique Cardoso (1995 a 2002), segundo cálculos da consultoria Economática. O estudo não apresenta
uma média por governo, mas os
resultados em cada ano (veja
quadro nesta página).
No mesmo período, por outro lado, os bancos norte-americanos viram sua rentabilidade despencar à menor taxa em
11 anos. No acumulado de 12
meses encerrados em março, a
chamada Rentabilidade sobre o
Patrimônio Líquido (ROE, na
sigla em inglês) dos 18 bancos
brasileiros analisados ficou em
21,94%, enquanto a das 94 instituições americanas foi de apenas 9,72%. O ROE é um indicador ao qual analistas financeiros dão muita atenção porque,
de forma simplificada, reflete o
quanto uma empresa consegue
crescer sem fazer investimentos, usando apenas o patrimônio que já possui.
Segundo a Economática, essa
rentabilidade dos bancos nos
EUA despencou por conta da
crise imobiliária do "subprime"
(empréstimos considerados de
alto risco), que acarretou perdas bilionárias no último semestre. Os dados apontam que
a queda começou em 2004,
quando a rentabilidade estava
em 16,35% -o melhor nível foi
verificado em 2000 (19,15%).
Já no Brasil, o índice mais
baixo foi verificado justamente
em 2000 (9,78%). De acordo
com o levantamento, com exceção de 1995 (18,97%), em todos
os anos do governo FHC o desempenho foi inferior ao da
gestão atual.
Na avaliação de Fernando
Exel, presidente da Economática, o fato de a mediana do
ROE dos bancos brasileiros estar acima de 20%, nível considerado "altíssimo" por ele, deve-se a "uma coisa boa e outra
ruim".
"A coisa boa é que a demanda
por dinheiro emprestado aumentou fortemente. Isso ocorreu porque a situação do Brasil
ficou mais estável e os juros estão mais baixos, o que permitiu
uma brutal expansão do crédito", afirma.
Por outro lado, Exel ressalta
que seria desejável que crescesse também o número de empresas que oferecem crédito.
"Toda essa demanda continua a
ser atendida por poucos bancos, por isso a rentabilidade é
tão alta. O nível elevado reflete
uma concentração do sistema
financeiro. Os pequenos não
têm como competir com as taxas dos grandes."
Apesar de necessária, a queda de concentração é difícil de
concretizar, diz. "O sistema financeiro é um dos setores em
que é mais difícil um novo participante penetrar. Um cliente
coloca seu dinheiro num banco
grande com mais segurança do
que em um banco pequeno. Assim, o maior tem mais possibilidade de emprestar maiores
quantias a juros menores."
Um dos caminhos, de acordo
com o economista, é que bancos estrangeiros se estabeleçam no país, já com possibilidade imediata de concorrer com o
líderes de mercado. Ou que
bancos pequenos, de outros
segmentos, unam-se para disputar espaço.
Apesar de vivermos um período de estabilidade, há "pedras no sapato" do setor, afirma. "A lei ainda protege o inadimplente que ficou sem dinheiro para pagar o empréstimo. O banco tem dificuldade de
executar dívidas e cobrar os caloteiros. Por isso, a taxa média é
alta, para que uns garantam o
recebimento por parte dos que
deixam de pagar."
Exel também questiona o fato de Lula "estar deixando passar a oportunidade que aparece
uma vez por século" e efetivar
reformas necessárias. "Temos
uma folga financeira enorme,
que nos permitiria fazer uma
reforma profunda da previdência, a trabalhista, e isso não está
sendo feito. Isso seria um modo
de atrair mais investimentos
estrangeiros."
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