São Paulo, sexta-feira, 16 de maio de 2008

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Aumenta a rentabilidade dos bancos no governo Lula

Estudo aponta que resultado do setor superou o obtido durante a gestão de FHC

Instituições brasileiras registram, em 12 meses, retorno melhor do que as americanas, atingidas pelos efeitos da crise financeira


CAMILA MARQUES
DA FOLHA ONLINE

Com estabilidade econômica e empréstimos recordes, os bancos brasileiros de capital aberto, aqueles com ações negociadas na Bolsa de Valores, já registram nos seis anos do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003 a 2008) rentabilidade maior do que a obtida nos oito anos do governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 a 2002), segundo cálculos da consultoria Economática. O estudo não apresenta uma média por governo, mas os resultados em cada ano (veja quadro nesta página).
No mesmo período, por outro lado, os bancos norte-americanos viram sua rentabilidade despencar à menor taxa em 11 anos. No acumulado de 12 meses encerrados em março, a chamada Rentabilidade sobre o Patrimônio Líquido (ROE, na sigla em inglês) dos 18 bancos brasileiros analisados ficou em 21,94%, enquanto a das 94 instituições americanas foi de apenas 9,72%. O ROE é um indicador ao qual analistas financeiros dão muita atenção porque, de forma simplificada, reflete o quanto uma empresa consegue crescer sem fazer investimentos, usando apenas o patrimônio que já possui.
Segundo a Economática, essa rentabilidade dos bancos nos EUA despencou por conta da crise imobiliária do "subprime" (empréstimos considerados de alto risco), que acarretou perdas bilionárias no último semestre. Os dados apontam que a queda começou em 2004, quando a rentabilidade estava em 16,35% -o melhor nível foi verificado em 2000 (19,15%).
Já no Brasil, o índice mais baixo foi verificado justamente em 2000 (9,78%). De acordo com o levantamento, com exceção de 1995 (18,97%), em todos os anos do governo FHC o desempenho foi inferior ao da gestão atual.
Na avaliação de Fernando Exel, presidente da Economática, o fato de a mediana do ROE dos bancos brasileiros estar acima de 20%, nível considerado "altíssimo" por ele, deve-se a "uma coisa boa e outra ruim".
"A coisa boa é que a demanda por dinheiro emprestado aumentou fortemente. Isso ocorreu porque a situação do Brasil ficou mais estável e os juros estão mais baixos, o que permitiu uma brutal expansão do crédito", afirma.
Por outro lado, Exel ressalta que seria desejável que crescesse também o número de empresas que oferecem crédito. "Toda essa demanda continua a ser atendida por poucos bancos, por isso a rentabilidade é tão alta. O nível elevado reflete uma concentração do sistema financeiro. Os pequenos não têm como competir com as taxas dos grandes."
Apesar de necessária, a queda de concentração é difícil de concretizar, diz. "O sistema financeiro é um dos setores em que é mais difícil um novo participante penetrar. Um cliente coloca seu dinheiro num banco grande com mais segurança do que em um banco pequeno. Assim, o maior tem mais possibilidade de emprestar maiores quantias a juros menores."
Um dos caminhos, de acordo com o economista, é que bancos estrangeiros se estabeleçam no país, já com possibilidade imediata de concorrer com o líderes de mercado. Ou que bancos pequenos, de outros segmentos, unam-se para disputar espaço.
Apesar de vivermos um período de estabilidade, há "pedras no sapato" do setor, afirma. "A lei ainda protege o inadimplente que ficou sem dinheiro para pagar o empréstimo. O banco tem dificuldade de executar dívidas e cobrar os caloteiros. Por isso, a taxa média é alta, para que uns garantam o recebimento por parte dos que deixam de pagar."
Exel também questiona o fato de Lula "estar deixando passar a oportunidade que aparece uma vez por século" e efetivar reformas necessárias. "Temos uma folga financeira enorme, que nos permitiria fazer uma reforma profunda da previdência, a trabalhista, e isso não está sendo feito. Isso seria um modo de atrair mais investimentos estrangeiros."


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