São Paulo, domingo, 16 de junho de 2002

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DEPOIS DO CALMANTE

Companhias só conseguem rolar 50% da dívida externa, contra 65% em 2001; taxas de juros sobem mais

Crise faz empresas pagarem caro pela dívida



ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Quem renegociou as dívidas, pode comemorar. Quem não conseguiu, é bom se preparar. Antes do que o mercado próprio esperava, o dinheiro captado pelas empresas no mercado internacional tornou-se mais caro e mais escasso. Os prazos para pagamento, mais curtos. Tentativas de renegociação de débito, finalizadas na semana passada, deram o tom da conversa -entre investidores e companhias- que permanecerá nos próximas meses.
As empresas só estão conseguindo captar recursos -para pagar débitos em vencimento- que equivalem a 50% de sua dívida total. Há um ano, a captação chegava a 65%. Isso quer dizer que, se uma companhia com dívidas de US$ 100 milhões buscava recursos fora, antes ela conseguiria até R$ 65 milhões para rolar o débito antigo. Agora, não mais do que R$ 50 milhões são liberados.
"Está dificílimo obter capital e isso acontece antes do que a gente imaginava", diz Zeina Latif, consultora da Tendências, que na semana passada divulgou uma carta conjuntural alertando as empresas sobre o assunto. "Todo mundo com dívidas vencendo agora vai ter de fazer uma bela ginástica", diz Cláudia Hausner, diretora da área internacional do Banco Banif Primus. Petrobrás, Eletropaulo e Odebrecht adiaram lançamento de bônus para captar recursos em maio e junho. Tudo por causa das incertezas sobre a dívida pública e a política.
Toda vez que uma empresa precisa de recursos (para pagar débitos, fazer investimentos) ela pode recorrer a bancos e investidores dentro e fora do país. No mercado internacional as taxas para captação são mais baixas. Ao fechar a operação de empréstimo, é definida a taxa de rendimento que será paga e o dia do vencimento.
O problema é que em junho, julho e agosto há a maior concentração de vencimento desses empréstimos no ano. São US$ 5,3 bilhões - R$ 14,4 bilhões. As companhias, preocupadas com o fato de o vencimento ocorrer às vésperas da eleição presidencial, anteciparam as negociações de rolagem dessas dívidas para maio e junho.
Mas nem todas conseguiram fechar as operações de renegociação da forma como queriam.
Isso porque, na prática, elas tiveram de sentar à mesa para discutir suas dívidas num momento em que o mercado parecia perdido. "A desestruturação dos fundos de investimento nas últimas semanas, o sobe e desce do câmbio, a dúvida sobre se o próprio governo iria honrar suas dívidas ou não. Tudo isso compõe um fator de pressão importante nessas horas", diz Ernesto Meyer, diretor do banco BNP Paribas.
Em duas semanas, por exemplo, do dia 1º de junho até a sexta-feira, o risco-país subiu 30,7%, o que fez explodir o custo de captação (a taxa de juros) das companhias. O resultado pode ser visto nas últimas negociações das empresas.
A OPP, por exemplo, finaliza amanhã uma operação de renegociação de dívidas de US$ 50 milhões. Só uma parte (US$ 30 milhões) será paga com a captação de novos eurobônus, com taxa de 10,25%. Há um ano, as elétricas estavam captando recursos a uma taxa um ponto percentual inferior a essa praticada agora. O que tornava a operação mais barata.
O restante da dívida total da empresa (US$ 20 milhões) terá de ser pago com o caixa da companhia.
A Cesp tentou emitir US$ 200 milhões em bônus externos recentemente. Não deu certo. Só houve demanda para US$ 150 milhões, o que corresponde a 50% de sua dívida total -que vence em junho. "Conseguimos só uma parte do volume que queríamos", diz Márcio Pepino, do banco Finantia, que realizou a operação.
A Copene terá de colocar mão no bolso se quiser pagar suas dívidas. A companhia tem US$ 150 milhões em eurobônus com vencimento em 25 de junho. A petroquímica tentou convencer os investidores que detêm os títulos a não exercer o direito de venda, mas não conseguiu. Com isso terá de pagar o débito. "Cerca de 89% dos donos dos títulos quiseram vender o papel. Aí não teve negociação", disse Carlos Freitas, da área de relações com investidores.
Na prática, nos contratos assinados os investidores têm o direito de receber pelo papel que compraram numa data pré-acertada -anterior ao prazo final de liquidação do empréstimo.



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