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LUÍS NASSIF
Uma crise inédita
Uma leitura fria dos últimos acontecimentos políticos não permite uma visão otimista do futuro. Um desses sábios fundamentais do Congresso Nacional, escaldado em muitas crises nas últimas décadas,
confessava nunca ter visto uma
crise com a atual.
No impeachment de Fernando Collor, o Executivo estava
fraco, mas o Legislativo se fortaleceu. Na CPI do Orçamento, o
Legislativo estava fraco, mas o
Executivo estava fortalecido.
Agora, o Executivo está balançando, o Congresso está balançando e há quatro partidos políticos -PT, PTB, PL e PP- com
as respectivas cúpulas com a
guilhotina no pescoço.
Embora não apresentasse provas, Roberto Jefferson traçou o
roteiro completo da CPI. Já se
tem nomes para convocar, episódios para se apurar, bancos
para se ir atrás. Do lado do Congresso, diz o sábio, haverá trabalho rápido, apuração rigorosa
e punição exemplar. Não tem
saída fora disso. Do lado do
Executivo, o padrão não poderá
ser diferente.
Lula terá, então, dois desafios
a serem superados. O primeiro:
dar satisfação cabal à opinião
pública sobre as mazelas encontradas do seu lado. O segundo:
poderá ser um trunfo ou um risco, dependendo da maneira como o presidente atuar. O Executivo sai enfraquecido do episódio, mas com sua base aliada
mais enfraquecida ainda. Teoricamente, haveria espaço para
ampla recomposição política e
ampla reforma ministerial. Nenhum partido aliado teria como
se opor abertamente.
Por outro lado, em tempos tenebrosos de catarse, qualquer
acusação ganha credibilidade,
qualquer insinuação ganha verossimilhança. E, pelo aperitivo
até agora apresentado, há muitos ossos no armário aguardando publicidade.
O que ocorrerá com a CPI é
uma incógnita. Não haverá a
menor maneira de controlá-la.
Dançará ao sabor dos fatos que
forem surgindo, e das secretárias que forem aparecendo. A
escolha do senador Delcídio do
Amaral para presidi-la, mesmo
sendo petista, é garantia de
isenção e moderação.
Mas o monstro vai estar à solta, e em circunstâncias muito
complicadas para a governabilidade. Quando começou o tiroteio contra Fernando Collor, o
governo viu-se em meio a um
torvelinho de revelações diárias
sobre as quais não tinha o menor controle e conhecimento.
Tudo porque não tratou de mapear os cargos distribuídos nem
de conter o ímpeto de sua tropa.
E a tropa de Collor era faminta,
porém pouco numerosa.
Ironia
A ironia nessa história é que a
crise explode justo no momento
em que o governo Lula começava a funcionar melhor em vários pontos. Repete-se o ocorrido
no primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso. Quando
começava a ganhar ritmo, foi
engolfado pela crise política das
fitas do BNDES e pelo desastre
do câmbio.
Depois de um início desastroso, conseguiu-se avançar em
uma proposta de lei de saneamento bastante razoável, em
novas formas de financiamento
à educação, em um esboço promissor de planejamento de longo prazo, em uma nova lei sanitária, em um esboço de política
industrial -além do bom desempenho dos ministérios do
Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior, da Agricultura e do Turismo e do Itamaraty.
Mas, aparentemente, o tempo
político acabou.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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