São Paulo, sábado, 16 de junho de 2007

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Google busca meios para saciar contratações

Eventos como Google Games, em que universitários disputam provas de enigmas, são atrativos na guerra por talentos

Empresa vive competição feroz com concorrentes como Microsoft e Yahoo na busca por profissionais recém-saídos da faculdade

Bloomberg News
Funcionários reúnem-se no pátio central da sede do Google, em Moutain View, na Califórnia


MIGUEL HELFT
DO "NEW YORK TIMES", EM MOUNTAIN VIEW, CALIFÓRNIA

Em um sábado de primavera, cerca de 90 alunos da Universidade Stanford e outros tantos da Universidade da Califórnia em Berkeley chegaram à sede do Google para um dia de animada competição entre equipes em modalidades como solução de enigmas, construção de estruturas de Lego e videogames.
O evento se chama Google Games e, para a maioria dos estudantes de ciência da computação e engenharia, representa uma oportunidade amistosa de renovar a rivalidade entre Stanford e Berkeley. Mas por trás da diversão existia um sério programa de recrutamento empresarial que coloca em destaque uma rivalidade não menos intensa: o cabo de guerra entre o Google e seus concorrentes na luta por talento.
Como boa parte do setor de alta tecnologia vive um boom renovado, a concorrência por recrutas de primeira linha em engenharia e outras áreas é mais intensa que nunca. Empresas como Google, Yahoo e Microsoft freqüentemente avaliam os mesmos candidatos ou são flagradas recrutando profissionais no quintal do concorrente. Ao mesmo tempo, enfrentam uma multidão de empresas iniciantes que surgem no Vale do Silício e vêm recebendo fortes doses de capital.
Para atrair talentos, essas empresas expandiram seus arsenais de recrutamento para muito além das tradicionais feiras de emprego em universidades, e passaram a oferecer crescente número de eventos, como palestras, coquetéis, noitadas de pizza, caçadas ao tesouro e disputas de programação, conhecidas como "code jams" ou "hack days". "Na verdade, o objetivo é apresentar a eles a nossa cultura e mostrar que fazer parte do Google pode ser muito divertido", disse Ken Kriegler, engenheiro do Google que se ofereceu como voluntário para fiscalizar a disputa de construção com blocos de Lego.
O Google, mais que qualquer outra empresa, se destaca no mais recente capítulo da guerra por talentos no Vale do Silício.
A empresa absorve talentos onde quer que os localize, para manter seu ritmo escaldante de crescimento. A força de trabalho do grupo praticamente dobra a cada ano, nos últimos anos, e ultrapassou os 12,2 mil funcionários no final de março. O Google contrata cerca de 500 funcionários por mês. Seu site lista 800 vagas em aberto apenas na região da baía de San Francisco.
Se o Google está faminto por talento de primeira linha, os universitários também parecem acreditar que uma oferta de emprego na empresa é um prêmio valioso. Histórias sobre o processo de recrutamento notoriamente severo e ocasionalmente perturbador que a empresa adota não param de surgir. Mesmo assim, o Google foi considerado como o mais desejável empregador por todos os alunos de graduação, este ano, e pela primeira vez superou a McKinsey, uma das mais renomadas empresas de consultoria, como emprego preferencial para os portadores de MBA, um posto que a McKinsey manteve por 12 anos consecutivos, de acordo com pesquisas conduzidas pela Universum, empresa especializada em recrutamento profissional.
"Estar em um ambiente no qual você aprenderá muito é a coisa que mais me importa", disse Alice Yu-shan Chang, uma das centenas de formandos que estão concluindo seus cursos este ano e começarão suas carreiras no Google.
Chang, que está concluindo mestrados em ciência da computação e administração de empresas em Stanford, recebeu ofertas da Microsoft e do Google, bem como do eBay e da Oracle. Ela diz que a Microsoft fez o possível para encontrar o posto certo para ela, primeiro em sua sede, em Redmond, Washington, e mais tarde, ao descobrir que ela preferia não deixar a região da baía de San Francisco, em sua unidade de Mountain View, perto da sede do Google. Ela recebeu telefonemas de vice-presidentes da empresa, e conversou pessoalmente com um deles.
"No caso do Google, não houve tanto contato pessoal com os executivos mais importantes", contou Chang. Mas a empresa fez algum esforço para convencê-la a aceitar sua proposta, ainda que Chang não possa discutir o assunto por ter assinado um acordo de confidencialidade. O Google saiu vitorioso, em parte porque permitiu que Chang trocasse de cargo a cada seis meses, nos seus primeiros 18 meses de trabalho, e porque a cultura da empresa a agrada mais.
"Há muita gente jovem e imensamente criativa, lá", disse Chang, 25. Muitos de seus colegas na Microsoft seriam pessoas na casa dos 30 e 40 anos "e mais orientados a questões de família", ela diz.
Apesar dos esforços do Google, Microsoft e Yahoo afirmam que conseguem contratar os profissionais de que precisam. A Microsoft, aliás, mantém ritmo de contratação ainda maior que o do Google, sem bem que seja uma companhia seis vezes maior que o rival. "Nossa competição envolve de fato o mercado geral dos maiores talentos, e não significa uma empresa específica", disse Scott Pitarsky, gerente geral de aquisição de talentos na Microsoft.
O Yahoo, que promoveu um hack day na sua sede, além de eventos de menor porte em outros locais, também afirma que suas estratégias de recrutamento estão funcionando. A empresa abriu um centro de pesquisa em Berkeley, em parte para atrair alunos como estagiários.
"Dezenas de pessoas saíram dos laboratórios universitários direto para o Yahoo", disse Bradley Horowitz, vice-presidente de estratégia de produtos do Yahoo.
Todas as três empresas afirmam que seu maior desafio em termos de recrutamento vem das companhias iniciantes, que atraem talentos como Nitay Joffe.
Joffe, que fez estágios de férias universitárias no Google durante os dois últimos anos, antecipava trabalhar lá. Mas antes que o formando em engenharia da computação aceitasse o posto, um amigo sugeriu que ele verificasse uma empresa iniciante de San Francisco, a Powerset, que está tentando criar um serviço de busca rival.
"A Powerset tinha tudo que o Google oferece em termos do que eu desejava: gente inteligente, projetos interessantes e grande vantagens", afirmou Joffe. Mas a empresa tinha algo que o Google não pode oferecer: o potencial de chegar à riqueza, com o equivalente de um bilhete premiado na loteria.
"Quando você recebe uma opção de ação por US$ 0,05 e ela sobe para US$ 50...", disse Joffe, em tom sonhador, depois de assumir seu cargo na Powerset. Com as ações do Google flutuando em torno dos US$ 480, esse potencial já não existe para os funcionários do grupo.
Para cada recruta que escapa aos seus atrativos, o Google espera que muitos outros venham por meio de eventos como o Google Games.
"Nunca convidamos as pessoas diretamente para trabalhar conosco", disse Ronner Lee, encarregado dos programas universitários do Google em Berkeley. "Mas, se elas gostam do que vêem e querem nos fazer perguntas, ótimo".

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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