|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRISE ASIÁTICA
Desvalorização crescente da moeda prejudica outros Tigres, mas governo do Japão teria desistido de agir
Ásia teme crise ainda maior com iene fraco
de Tóquio
Os mais pessimistas acham que a
crescente desvalorização do iene
acabará destruindo de vez as economias asiáticas afetadas pela crise monetária de 97 e colocando o
mundo numa deflação semelhante
à de 29.
Diante de tais ameaças, a grande
pergunta nos últimos dias na Ásia
foi descobrir se as autoridades japonesas estão realmente interessadas em tomar alguma atitude e
quais seriam os melhores meios de
impedir o aprofundamento do buraco no qual se meteu a segunda
maior economia do mundo.
Publicamente, os burocratas do
MOF (o Ministério de Finanças do
Japão), do Banco do Japão (o BC
japonês) e o primeiro-ministro
Ryutaro Hashimoto dizem estar
profundamente preocupados e
que tomarão alguma atitude a
qualquer momento.
Mas há sinais de que o governo
teria desistido de agir porque concluiu que qualquer tentativa seria
um desperdício de recursos ou
porque a atual situação, de certa
maneira, é útil para sua economia.
Em abril passado, o Banco do Japão gastou cerca de US$ 20 bilhões
em dois dias intervindo no mercado aberto, comprando ienes. O resultado foi patético: a cotação se
manteve durante quatro dias e
voltou a cair depois. Resultado: o
Japão gastou US$ 20 bilhões à toa.
Ontem, durante a divulgação de
um relatório da EPA (agência oficial de planejamento econômico
do Japão) sobre a Ásia, dois burocratas da agência conversaram
com um grupo de jornalistas estrangeiros na condição de não serem identificados.
Segundo eles, a experiência de
abril desiludiu os funcionários do
MOF, que não querem repetir a
experiência. Segundo eles, o Japão
só interviria novamente no mercado em conjunto com outros países
que fazem parte do G7 - as sete
maiores economias do mundo.
Segundo esses burocratas, o Japão
acredita que todos devem dividir
os custos de uma intervenção e
que somente uma ação mais ampla convenceria o mercado a parar
de vender ienes.
Foi mais ou menos o que disse
ontem o mais alto burocrata do
Ministério de Finanças, o vice-ministro Koji Tanami. "Minha opinião é que já deveríamos ter feito
algo. Como sempre disse, estamos
dispostos a cooperar com outros
países para tomarmos uma ação
decisiva contra a desvalorização
do iene."
Outro sinal importante que ajuda a entender a paralisia do governo japonês foi exposto por Kenneth Landon, do Deutsche Bank
em Tóquio. Segundo ele, apesar da
recente queda da moeda japonesa,
a desvalorização das outras moedas asiáticas foi muito maior se forem verificados os últimos 12 meses: o iene valorizou-se 76% com
relação à rupia, 31% se comparado
com o baht tailandês e 18% contra
o peso filipino -os três exemplos
citados por Landon.
Portanto, alguns economistas
acreditam que o Japão está deliberadamente tentando diminuir essas diferenças para reduzir os custos da crise asiática para seu setor
exportador.
Ao ver sua moeda cada vez mais
desvalorizada, o Japão torna cada
vez mais baratos seus produtos de
exportação.
Outro efeito é o encarecimento
das importações, mas até agora
não houve influência do câmbio
na inflação japonesa.
Pelo contrário, o nível de preços
está estável, o que deve estar relacionado à recessão.
A moeda japonesa está cotada
em torno de 146 por dólar, nível
recorde nos últimos oito anos, e
há quem espere 150 ou 160 ienes
por dólar a curto prazo.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|