São Paulo, terça, 16 de junho de 1998

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CRISE ASIÁTICA
Desvalorização crescente da moeda prejudica outros Tigres, mas governo do Japão teria desistido de agir
Ásia teme crise ainda maior com iene fraco

de Tóquio

Os mais pessimistas acham que a crescente desvalorização do iene acabará destruindo de vez as economias asiáticas afetadas pela crise monetária de 97 e colocando o mundo numa deflação semelhante à de 29.
Diante de tais ameaças, a grande pergunta nos últimos dias na Ásia foi descobrir se as autoridades japonesas estão realmente interessadas em tomar alguma atitude e quais seriam os melhores meios de impedir o aprofundamento do buraco no qual se meteu a segunda maior economia do mundo.
Publicamente, os burocratas do MOF (o Ministério de Finanças do Japão), do Banco do Japão (o BC japonês) e o primeiro-ministro Ryutaro Hashimoto dizem estar profundamente preocupados e que tomarão alguma atitude a qualquer momento.
Mas há sinais de que o governo teria desistido de agir porque concluiu que qualquer tentativa seria um desperdício de recursos ou porque a atual situação, de certa maneira, é útil para sua economia.
Em abril passado, o Banco do Japão gastou cerca de US$ 20 bilhões em dois dias intervindo no mercado aberto, comprando ienes. O resultado foi patético: a cotação se manteve durante quatro dias e voltou a cair depois. Resultado: o Japão gastou US$ 20 bilhões à toa.
Ontem, durante a divulgação de um relatório da EPA (agência oficial de planejamento econômico do Japão) sobre a Ásia, dois burocratas da agência conversaram com um grupo de jornalistas estrangeiros na condição de não serem identificados.
Segundo eles, a experiência de abril desiludiu os funcionários do MOF, que não querem repetir a experiência. Segundo eles, o Japão só interviria novamente no mercado em conjunto com outros países que fazem parte do G7 - as sete maiores economias do mundo. Segundo esses burocratas, o Japão acredita que todos devem dividir os custos de uma intervenção e que somente uma ação mais ampla convenceria o mercado a parar de vender ienes.
Foi mais ou menos o que disse ontem o mais alto burocrata do Ministério de Finanças, o vice-ministro Koji Tanami. "Minha opinião é que já deveríamos ter feito algo. Como sempre disse, estamos dispostos a cooperar com outros países para tomarmos uma ação decisiva contra a desvalorização do iene."
Outro sinal importante que ajuda a entender a paralisia do governo japonês foi exposto por Kenneth Landon, do Deutsche Bank em Tóquio. Segundo ele, apesar da recente queda da moeda japonesa, a desvalorização das outras moedas asiáticas foi muito maior se forem verificados os últimos 12 meses: o iene valorizou-se 76% com relação à rupia, 31% se comparado com o baht tailandês e 18% contra o peso filipino -os três exemplos citados por Landon.
Portanto, alguns economistas acreditam que o Japão está deliberadamente tentando diminuir essas diferenças para reduzir os custos da crise asiática para seu setor exportador.
Ao ver sua moeda cada vez mais desvalorizada, o Japão torna cada vez mais baratos seus produtos de exportação.
Outro efeito é o encarecimento das importações, mas até agora não houve influência do câmbio na inflação japonesa.
Pelo contrário, o nível de preços está estável, o que deve estar relacionado à recessão.
A moeda japonesa está cotada em torno de 146 por dólar, nível recorde nos últimos oito anos, e há quem espere 150 ou 160 ienes por dólar a curto prazo.




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