São Paulo, terça-feira, 16 de julho de 2002

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VIZINHO EM CRISE

Débito de US$ 985 mi vencendo amanhã é adiado por um ano

FMI prorroga dívida da Argentina

JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES

A Argentina conseguiu "zerar" os pagamentos das dívidas com organismos financeiros internacionais que venciam em julho praticamente sem a necessidade de utilizar as reservas internacionais. Agora, o país terá dois meses mais tranquilos para fechar o acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
No final da tarde de ontem, o Fundo anunciou o perdão por um ano de um débito de US$ 985 milhões que venceria amanhã. Depois, o ministro Roberto Lavagna (Economia) disse que o país pagou uma dívida de US$ 550 milhões com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). O dinheiro utilizado veio das reservas internacionais.
No entanto, Lavagna disse que o país obteve um crédito de US$ 296 milhões do próprio BID, que será liberado em seis semanas, e que o Banco Mundial colocaria US$ 150 milhões à disposição da Argentina amanhã.
Dessa forma, o país terá que gastar apenas US$ 100 milhões das reservas para não entrar em "default" também com os organismos financeiros, que são a única fonte possível de crédito para um país em moratória.
"Nossa relação com os organismos internacionais está 0 km", comemorou Lavagna.
Ele espera agora fechar um acordo com o FMI que suspenda o pagamento de todas as dívidas com o organismo até o final de 2003. O acordo deve sair até setembro, quando o país precisa pagar US$ 3 bilhões ao Fundo e ao Banco Mundial.
O próprio FMI admitiu que a Argentina não tem condição de honrar dívidas com o uso das reservas internacionais -que caíram de US$ 14 bilhões para US$ 9,5 bilhões neste ano.
"A posição externa da Argentina não é suficientemente forte para cumprir com esse pagamento sem um sacrifício muito forte ou sem colocar-se em risco", disse o diretor-gerente do Fundo, Horst Köhler, em comunicado.
Ele também elogiou o governo pelo controle do gasto público e disse enxergar "um fortalecimento da produção industrial no segundo trimestre de 2002".
Apesar do perdão da dívida e dos elogios, o FMI deixou claro que a Argentina ainda deve elaborar um plano para fortalecer os bancos, reforçar a independência do Banco Central e controlar a inflação.
Para negociar essas exigências, chegam à Argentina nos próximos dias uma missão de economistas estrangeiros e o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Paul O'Neill.
Ontem, líderes piqueteiros prometeram infernizar O'Neill durante sua estadia no país.

Curralzinho
O plano de Lavagna para acabar com as restrições bancárias impostas pelo curralzinho fracassou. O prazo para os correntistas aderirem à troca do dinheiro bloqueado por papéis do governo acaba hoje e menos de 15% das pessoas devem exercer a opção.



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