UOL


São Paulo, quarta-feira, 16 de julho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

País eleva previsão de déficit em 50%

DE NOVA YORK

O governo americano elevou ontem em 50% sua previsão de déficit para este ano. A nova estimativa é que as despesas do Orçamento superem as receitas em US$ 455 bilhões -equivalente a 4,2% do PIB (Produto Interno Bruto) dos EUA e ao valor de toda a produção brasileira.
A previsão aumenta o tamanho de um buraco que já era recorde histórico em termos nominais. A estimativa anterior, apresentada em fevereiro, era que o déficit fosse de US$ 304 bilhões no ano fiscal de 2003 (que termina em 30 de setembro).
Três fatores contribuíram para a mudança: os gastos com a guerra e a reconstrução no Iraque, o corte de impostos idealizado pelo governo americano e a falta de recuperação da economia dos Estados Unidos, que diminui a arrecadação fiscal.
No ano que vem, a previsão do próprio governo é que o déficit fique ainda maior e chegue a US$ 475 bilhões. Analistas apontam que os números ainda podem estar subestimados.
O governo argumenta que o déficit não é tão assustador quanto parece. "Como percentagem da economia, o déficit, embora maior que o usual, não está perto do recorde. Está bem abaixo do pico de 6% após a Segunda Guerra Mundial e menor do que o de 6 dos últimos 20 anos", disse o diretor do Escritório de Orçamento e Gerenciamento do governo, Josh Bolten.
Um dos pontos que fomentam críticas são os custos da guerra e da reconstrução do Iraque, que está sendo mais longa e cara do que o planejado pelo governo.
Na semana passada, o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, quase dobrou os custos militares anunciados anteriormente. Segundo ele, o Iraque custa US$ 3,9 bilhões mensais ao Pentágono (de janeiro a setembro). A previsão anterior era US$ 2 bilhões.
A maior parte do aumento do déficit, porém, vem do corte de impostos aprovado pelo Congresso. O plano é abrir mão da arrecadação de US$ 350 bilhões nos próximos cinco anos para impulsionar a economia e derrubar o desemprego, hoje em 6,4% -uma ameaça aos planos políticos do presidente dos EUA, George W. Bush, que buscará novo mandato no ano que vem.
"Um déficit balanceado não é prioridade maior que vencer a guerra contra o terrorismo, proteger o território americano ou restaurar o crescimento econômico", afirmou Bolten.
Além disso, a argumentação do governo é que o corte de impostos vai ajudar, a médio prazo, a reduzir o déficit do Orçamento federal.
Em porcentagem do PIB, o atual déficit do governo americano é equivalente (com sinal trocado) ao superávit primário planejado pelo Estado brasileiro como forma de reduzir sua dívida e aumentar a confiança no país.
Nos EUA, críticos apontam que um déficit deste tamanho deixa o governo em situação delicada. Poderia também levantar dúvidas sobre a capacidade de honrar suas dívidas -os títulos federais americanos são usualmente considerados como tendo "risco zero".
As críticas são acentuadas pelo fato de que as previsões feitas pelo próprio governo não contemplam superávits ao menos até 2008. (ROBERTO DIAS)


Texto Anterior: Saiba mais: Impacto no Brasil ainda é incerto
Próximo Texto: Juros futuros registram alta
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.