São Paulo, quarta-feira, 16 de julho de 2008

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OMC vê "nuvem negra" na economia global

MARCELO NINIO
DE GENEBRA

Alertando para as "nuvens negras" que cercam a economia mundial, o diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), Pascal Lamy, pediu ontem um esforço coletivo para que haja um acordo na reunião da próxima semana em Genebra, quando ministros das principais potências comerciais tentarão concluir sete anos de negociações da Rodada Doha.
Em meio às perspectivas globais preocupantes, Lamy vê sinais positivos no Brasil. Segundo ele, o país vive um período de "transformação econômica", embalado pelo aumento no preços das matérias-primas, o forte investimento na indústria e a elevação do consumo.
"Quando olho para os números do comércio, vejo que as exportações do país aumentaram enormemente, sobretudo na agricultura (...), beneficiadas pelo aumento da competitividade e a disparada dos preços", disse. A importação também cresceu, acrescentou Lamy, por dois motivos: o aumento do consumo doméstico -"os pobres estão um pouco menos pobres"- e o investimento em máquinas e equipamentos.
Os comentários de Lamy foram feitos ontem, durante o lançamento do relatório anual da OMC. A entidade manteve a previsão divulgada em abril, de 4,5% de crescimento para o comércio mundial em 2008, contra 5,5% no ano passado e 8,5% em 2006. O relatório não esconde, porém, o temor de que o declínio seja ainda maior. "Uma desaceleração da economia mundial mais forte que a prevista poderá cortar o crescimento do comércio de forma acentuada", diz o estudo.
Lamy disse que a crise econômica mundial deve servir de incentivo para a obtenção de um acordo na Rodada Doha de abertura comercial. "Diante de nuvens negras no horizonte econômico, gostaria de apelar a todas as partes interessadas na Rodada Doha que dêem o empurrão vital para que a negociações tenham um desfecho bem-sucedido."
Segundo o diretor-geral da OMC, estudos indicam que a conclusão da rodada significaria um ganho de US$ 50 bilhões anuais no comércio mundial. Sendo um dos maiores produtores agrícolas do mundo, o Brasil seria um dos principais beneficiados com a redução do protecionismo dos países ricos e a conseqüente ampliação do mercado a seus produtos.
Para Lamy, as negociações na OMC têm um significado que vai além do comércio. "O que os membros obtiverem juntos na próxima semana será considerado uma indicação da vontade e da habilidade da comunidade internacional em dividir a administração da globalização de forma efetiva e igualitária."
Ele calculou em mais de 50% as chances de um acordo, ainda não na "zona de conforto, entre 70% e 80%". Lamy convocou a reunião de ministros da próxima semana apesar de persistirem divergências sobre os principais temas em negociação, agricultura e bens industriais. Além disso, há ceticismo quanto às chances de um acordo com um governo americano em fim de mandato.


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