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São Paulo, terça-feira, 16 de setembro de 2003

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POUCO CRÉDITO

Na véspera do Copom, ministro diz que taxa real, descontada a inflação, deve chegar a 8% até a metade de 2004

Dirceu pede a bancos que baixem mais o juro

Flavio Florido/Folha Imagem
O ministro da Casa Civil, José Dirceu (dir.), com o banqueiro Joseph Safra em evento na Hebraica


JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O ministro da Casa Civil, José Dirceu, cobrou ontem dos bancos que reduzam os juros na mesma proporção em que o governo vem fazendo com a Selic (a taxa básica). Segundo Dirceu, o governo deu aos bancos nos últimos anos "tudo o que eles pediram", mas o sistema financeiro, em contrapartida, não estaria financiando a produção e o consumo.
"Nós [o governo] vamos trazer a taxa de juros reais para um nível compatível com o crescimento do país", disse Dirceu. "Aí surgirá uma grande pergunta: irão os bancos reduzir as taxas de juros para capital de giro para investimento na mesma proporção em que cairão os juros reais? É uma questão que o sistema bancário brasileiro terá que responder."
Dirceu insinuou que as instituições preferem se ater a ganhos de tesouraria -operações com dinheiro próprio dos bancos.
Para o ministro, o país deu "sua cota grande de sacrifício" [em alusão à política fiscal] e, agora, seria a vez de o sistema bancário fazer o mesmo. "É de interesse que ele volte a ser o elo entre a produção e o consumo e não fique só na posição de tesouraria."
Dirceu criticou as taxas cobradas no mercado. "Não há nenhuma hipótese de o país crescer com juros no cartão de crédito entre 7,5% e 10% ao mês e uma tarifa de capital de giro para empresas entre 40% e 60%", disse ele em discurso no Fórum das Américas, em São Paulo.
"É razoável que, caindo a Selic e os juros reais, o sistema financeiro faça um esforço para financiar o consumo e a produção. Cada um tem que dar uma cota ao país."
Hoje começa a reunião de dois dias do Copom (Comitê de Política Monetária), que decidirá sobre os juros. A Selic está em 22% ao ano e a perspectiva é que caia dois pontos percentuais.
Em seu discurso, Dirceu afirmou que, após ter sido obrigado a uma política fiscalista, o governo irá baixar os juros reais (descontada a inflação).
Segundo o ministro, os juros reais, "hoje em 11% a 12%, vão recuar a 8%" até a metade de 2004.
Dirceu argumentou que, nos últimos anos, o país deu ao sistema bancário "tudo o que ele pediu". "E fez com a consciência de que era impossível desenvolver uma democracia sem um sistema bancário moderno."
O ministro explicou o que seria "tudo": a internacionalização do setor, a permissão para fusões e cobrança de tarifas a cargo dos bancos, introdução do SPB (Sistema de Pagamentos Brasileiro), o Proer e a Lei de Falências, em tramitação no Congresso.
Dirceu disse que a redução dos juros bancários é "uma questão política". "Da mesma forma que fizemos uma aliança e estamos cumprindo nossa parte, outros setores sociais precisam fazer a sua", disse. "Se não for assim, o país terá um problema político para resolver. E o Brasil tem um Congresso para resolver problemas políticos. Não vejo como um sistema bancário pode sobreviver em um país estagnado, que não cresce."
Indagado sobre quais seriam os mecanismos que o governo ou o Congresso poderiam aplicar para reduzir os juros, respondeu que que tudo será "pactuado a partir de premissas econômicas".


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