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São Paulo, terça-feira, 16 de setembro de 2003

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ACORDO

Banco estatal abre mão de parte do que teria a receber para que dona da Eletropaulo pague dívida e fique no país

BNDES renuncia a dividendo para ajudar AES

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), órgão do governo, decidiu renunciar aos dividendos que teria direito a receber para que a empresa norte-americana AES pague suas dívidas com o próprio banco.
Foi o BNDES que saiu em defesa dessa medida como forma de a AES Corporation, a maior empresa de energia do mundo, proprietária da Eletropaulo, sanar os débitos e não deixar o país.
Na prática a situação é a seguinte: a AES tem uma dívida de US$ 1,2 bilhão com a instituição, decorrente de dois empréstimos para a compra da Eletropaulo. Para resolver a pendência, o BNDES e a AES fizeram agora, como diz a própria AES, um "arranjo". Nele, decidiram criar uma nova empresa chamada Novacom, controlada pela AES e pelo banco.
Essa companhia tem como controladas a AES Tietê, a Eletropaulo e a AES Uruguaiana. O acordo prevê que o banco só receberá dividendos depois que essas empresas, controladas pela Novacom, liquidem os débitos que possuam na data. Isso significa pagá-los integralmente e até antecipar futuros pagamentos, se possível.
Essas três companhias devem gerar fluxo de caixa. Com os recursos no bolso, pagam o rombo que têm em suas contas. Com o que restar -e se restar- devem remeter dividendos (lucro financeiro por ação) para a Novacom. Isso "se houver caixa remanescente", informa a multinacional.
Desses dividendos encaminhados para a Novacom, 90% serão usados para a AES pagar sua dívida com o BNDES.
"A questão que todos querem saber é se as empresas terão recursos para enviar ao BNDES após o pagamento das dívidas. Não entraríamos nesse acordo se não soubéssemos que as empresas são capazes de gerar caixa para isso", disse Joseph Brandt, vice-presidente da AES.
Brandt afirmou que dentro de três a cinco anos as três empresas poderão gerar dividendos entre US$ 125 milhões e US$ 175 milhões para a Novacom.

"Feliz e aborrecido"
Do valor total de R$ 1,2 bilhão em débitos da AES com o banco, o BNDES aceitou -como forma de reduzir o rombo- receber ações da Novacom no valor de US$ 600 milhões. Outros US$ 515 milhões equivalem àquelas dívidas a serem pagas aos poucos pelas três empresas. E, para fechar a conta, US$ 85 milhões serão dados ao BNDES pela AES.
Brandt ficou "feliz e aborrecido" com o acordo recém-firmado. Aborrecido porque não gostaria de desembolsar esses US$ 85 milhões. Feliz, porque a empresa resolveu o problema. Para explicar sua posição, ele usou os símbolos taoístas "yin" e "yang", que se complementam.
"Seguindo esse arranjo, apoiado principalmente pelo BNDES, será possível liquidar a dívida em seis, sete anos, e não em até 12 anos, como prevíamos", diz Brandt.
Um dos pontos do acordo que vêm recebendo críticas é o perdão de US$ 118 milhões de juros (sobre o US$ 1,2 bilhão) no final do acordo. A empresa não comentou o assunto.
Outra questão polêmica é a AES Tietê. A companhia foi dada pela AES como garantia de um empréstimo de US$ 300 milhões no exterior. Se a AES não conseguisse renegociar essa garantia, não haveria acerto com o BNDES. Segundo a direção da elétrica, a empresa está buscando novas garantias para que a AES Tietê fique dentro da Novacom. Essa era uma exigência do banco.
A despeito desse acordo, a companhia privada americana vai receber cerca de R$ 800 milhões do BNDES. O montante será usado para compensar as perdas com o racionamento de energia e a forte variação cambial, conforme acordo já firmado. Empresas inadimplentes tinham, porém, o recurso "congelado".
Eduardo Bernini será o novo presidente das empresas do grupo norte-americano AES no país.


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