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ACORDO
Banco estatal abre mão de parte do que teria a receber para que dona da Eletropaulo pague dívida e fique no país
BNDES renuncia a dividendo para ajudar AES
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social), órgão do governo, decidiu
renunciar aos dividendos que teria direito a receber para que a
empresa norte-americana AES
pague suas dívidas com o próprio
banco.
Foi o BNDES que saiu em defesa
dessa medida como forma de a
AES Corporation, a maior empresa de energia do mundo, proprietária da Eletropaulo, sanar os débitos e não deixar o país.
Na prática a situação é a seguinte: a AES tem uma dívida de US$
1,2 bilhão com a instituição, decorrente de dois empréstimos para a compra da Eletropaulo. Para
resolver a pendência, o BNDES e a
AES fizeram agora, como diz a
própria AES, um "arranjo". Nele,
decidiram criar uma nova empresa chamada Novacom, controlada pela AES e pelo banco.
Essa companhia tem como controladas a AES Tietê, a Eletropaulo e a AES Uruguaiana. O acordo
prevê que o banco só receberá dividendos depois que essas empresas, controladas pela Novacom, liquidem os débitos que possuam
na data. Isso significa pagá-los integralmente e até antecipar futuros pagamentos, se possível.
Essas três companhias devem
gerar fluxo de caixa. Com os recursos no bolso, pagam o rombo
que têm em suas contas. Com o
que restar -e se restar- devem
remeter dividendos (lucro financeiro por ação) para a Novacom.
Isso "se houver caixa remanescente", informa a multinacional.
Desses dividendos encaminhados para a Novacom, 90% serão
usados para a AES pagar sua dívida com o BNDES.
"A questão que todos querem
saber é se as empresas terão recursos para enviar ao BNDES
após o pagamento das dívidas.
Não entraríamos nesse acordo se
não soubéssemos que as empresas são capazes de gerar caixa para isso", disse Joseph Brandt, vice-presidente da AES.
Brandt afirmou que dentro de
três a cinco anos as três empresas
poderão gerar dividendos entre
US$ 125 milhões e US$ 175 milhões para a Novacom.
"Feliz e aborrecido"
Do valor total de R$ 1,2 bilhão
em débitos da AES com o banco,
o BNDES aceitou -como forma
de reduzir o rombo- receber
ações da Novacom no valor de
US$ 600 milhões. Outros US$ 515
milhões equivalem àquelas dívidas a serem pagas aos poucos pelas três empresas. E, para fechar a
conta, US$ 85 milhões serão dados ao BNDES pela AES.
Brandt ficou "feliz e aborrecido" com o acordo recém-firmado. Aborrecido porque não gostaria de desembolsar esses US$ 85
milhões. Feliz, porque a empresa
resolveu o problema. Para explicar sua posição, ele usou os símbolos taoístas "yin" e "yang", que
se complementam.
"Seguindo esse arranjo, apoiado
principalmente pelo BNDES, será
possível liquidar a dívida em seis,
sete anos, e não em até 12 anos,
como prevíamos", diz Brandt.
Um dos pontos do acordo que
vêm recebendo críticas é o perdão
de US$ 118 milhões de juros (sobre o US$ 1,2 bilhão) no final do
acordo. A empresa não comentou
o assunto.
Outra questão polêmica é a AES
Tietê. A companhia foi dada pela
AES como garantia de um empréstimo de US$ 300 milhões no
exterior. Se a AES não conseguisse renegociar essa garantia, não
haveria acerto com o BNDES. Segundo a direção da elétrica, a empresa está buscando novas garantias para que a AES Tietê fique
dentro da Novacom. Essa era uma
exigência do banco.
A despeito desse acordo, a companhia privada americana vai receber cerca de R$ 800 milhões do
BNDES. O montante será usado
para compensar as perdas com o
racionamento de energia e a forte
variação cambial, conforme acordo já firmado. Empresas inadimplentes tinham, porém, o recurso
"congelado".
Eduardo Bernini será o novo
presidente das empresas do grupo norte-americano AES no país.
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