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São Paulo, terça-feira, 16 de setembro de 2003

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SAFRA

Colheita menor da oleaginosa pelos norte-americanos estimula produtor brasileiro

Menos soja nos EUA afeta milho no Brasil

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

O avanço da área de soja sobre a de milho na safra de verão já era preocupante. Após a confirmação de quebra da safra norte-americana de soja, essa preocupação passa a ser ainda maior, diz Fernando Muraro, da Agência Rural de Curitiba. Na semana passada, o Usda (Departamento de Agricultura dos EUA) divulgou queda de 6 milhões de toneladas na safra de soja neste ano.
O produtor brasileiro está deixando o milho de lado e os que vão plantar o cereal devem utilizar as áreas de menor potencial de produção, reservando as terras melhores para a soja. Isso deve ocorrer principalmente nos Estados do Sul.
Esse cenário fica bem claro no Rio Grande do Sul, onde algumas das principais regiões produtoras de grãos terão forte queda de área no plantio de milho.
Gelson Melo de Lima, da Cotrijal, cooperativa gaúcha que atua na região de Não-Me-Toque, diz que os produtores deverão reduzir em 20% a área de milho. No ano passado, já tinham reduzido em 25%. No Paraná, principal produtor nacional, a prioridade também será para a soja, diz Muraro. O produtor vai transferir a produção para a safrinha, feita no inverno mas com alto risco, diz ele.

Opção pela soja
No início da década de 90, o Paraná plantava, no verão, 1,97 milhão de hectares de soja e 2,13 milhões de milho. Na safra 2003/4, os paranaenses deverão plantar 3,95 milhões de hectares de soja e apenas 1,3 milhão de milho.
Francisco Sampaio, da Agromen Sementes, diz que a recuperação dos preços do milho em agosto deu novo ânimo ao produtor. A confirmação de quebra da safra norte-americana de soja, no entanto, é uma garantia de bons preços para os produtores dessa oleaginosa. "Os preços da soja serão firmes em qualquer circunstância, o que traz um pouco de desânimo aos produtores de milho", diz ele.
Por ser uma cultura mais barata e mais rentável, os agricultores vão optar pela soja. No Rio Grande do Sul, Lima diz que as diferenças de custos são ainda maiores devido ao plantio de soja transgênica.
Muitos analistas acreditam que o Brasil poderá não ter forte redução de safra no próximo ano, mas o plantio está sendo desviado para um período de alto risco, que é a safrinha.
O engenheiro agrônomo Deives Faria da Silva, da FNP Consultoria & Agroinformativos, acredita que a safra do próximo ano deverá ficar próxima dos 45 milhões de toneladas registrados neste ano, a menos que ocorram problemas climáticos. Já Sampaio diz que na atual circunstância não arrisca um palpite para a safra.
Segundo ele, mesmo que não haja queda de área, os produtores farão investimentos menores na produção de milho na safra 2003/4. Além disso, o clima ainda é uma incógnita. Fernando Muraro diz que se tudo correr bem, e o país produzir 31 milhões de toneladas no verão, ainda vai depender de outros 10 milhões do período de inverno. Qualquer problema climático seria um desastre, acrescenta.
O clima também é uma justificativa para os gaúchos reduzirem a área de milho. Lima diz que os tradicionais "veranicos" acabam afetando bem mais o milho do que a soja, que é uma planta mais rústica. Ele diz que o produtor está cansado de "produção sem preços e de preços sem produção".
Leonardo Junho Sologuren, da Céleres de Uberlândia (MG), diz que a alta dos preços da soja e a queda nos do milho em Chicago poderão influenciar as intenções de plantio de milho dos produtores. Ele acredita que haverá redução ainda maior de plantio no Paraná neste verão -de 10% a 15%- e que até em Goiás "o produtor vá de vez para o milho".
Silva diz que a produção de milho pode até cair na safra 2003/4, mas a tendência é de crescimento a longo prazo. O Brasil descobriu o mercado externo e essa mudança é irreversível, afirma. Muraro vai além e acrescenta que um gráfico de comparação entre os preços em Cascavel (PR) e em Chicago (EUA) mostra que os valores internos estão acompanhando os externos.
O analista da AgRural diz que a formação dos preços internos já depende do mercado externo. Muraro diz que o câmbio e os preços praticados na Bolsa de Chicago já são componentes importantes para a formação dos valores internos.


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