São Paulo, sábado, 16 de setembro de 2006 |
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Ministro boliviano se demite após causar crise com Brasil
O moderado economista Carlos Villegas, que ocupava Planejamento, assume pasta
FABIANO MAISONNAVE DA REPORTAGEM LOCAL Desautorizado pelo vice-presidente Álvaro García Linera na recente crise com o Brasil, o ministro dos Hidrocarbonetos, Andrés Soliz Rada, 67, anunciou ontem sua "renúncia irrevogável". Feroz crítico da Petrobras e bastante popular no país, é o primeiro membro do gabinete a deixar o cargo desde o início do governo Evo Morales, há oito meses. Foi substituído pelo mais moderado Carlos Villegas, que ocupava a pasta de Planejamento. Com Soliz Rada, saem seus assessores mais próximos, entre os quais dois vice-ministros. Em carta endereçada ao presidente divulgada no início da noite, ele alegou "razões pessoais", ignorou a recente crise, e fez um auto-elogioso balanço do processo de nacionalização, decretado em 1º de maio, que está atrasado em quase todas as medidas, como a retomada do controle acionário das duas refinarias da Petrobras Bolívia, pivô do imbróglio com o Brasil. Antigo colaborador de Morales, Villegas, 58, era professor universitário em La Paz antes de entrar no governo e coordenou a área de economia da equipe de transição. Especialista em indústria petroleira boliviana, deu aulas sobre o tema a Morales quando ele despontava como líder da oposição. A crise que provou a troca teve início na terça-feira, quando Soliz Rada assinou uma resolução ministerial que transformava as refinarias da empresa brasileira -responsáveis por praticamente todo o abastecimento interno de combustíveis- em meras prestadoras de serviço da empresa estatal boliviana YPFB e a acusava de obter lucros ilegalmente. O objetivo declarado de Soliz Rada era depreciar as refinarias durante as negociações para a compra do controle acionário, no momento paralisadas. A resolução provocou uma dura reação do Brasil e da Petrobras, que classificou as novas medidas de "totalmente inviáveis". Em protesto, foi cancelada a viagem a La Paz do ministro Silas Rondeau (Minas e Energia) e do presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, marcada para ontem. Anteontem, o presidente em exercício, García Linera -Morales está em Cuba-, anunciou o congelamento da medida, expondo a divisão interna do governo sobre como devem ser conduzidas as negociações com a Petrobras. Antes desse anúncio, em conversa por telefone com o assessor internacional de Lula, Marco Aurélio Garcia, o vice, tido como mais moderado e escolhido para ser o interlocutor com o Brasil, disse que desconhecia a medida porque estava em viagem aos EUA. O mais popular Com a saída de Soliz Rada, Morales perderá seu ministro mais popular, segundo pesquisa do instituto Apoyo publicada pelo diário "La Razón" no início do mês. Ele é visto de forma favorável por 46% dos bolivianos, seguido pelo próprio Villegas, com apenas 29%. Boa parte de sua popularidade se devia às duras declarações contra a Petrobras. Em 24 de março, Soliz Rada fez as primeiras críticas públicas do governo Morales contra a empresa e acusou o Brasil de tratar a Bolívia como "semicolônia". No final de agosto, no mesmo dia em que García Linera estava em Brasília para tentar melhorar as relações bilaterais, Soliz Rada acusou a empresa brasileira de financiar a sabotagem da nacionalização. Soliz Rada foi jornalista antes da carreira política -foi deputado e senador. Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Morales confirma recuo sobre confisco Índice |
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