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Renda aumenta pela 1ª vez desde 1996
Valor dos ganhos do trabalhador sobe 4,6% em 2005, mas em nove anos perda acumulada ainda é de 15,1%, aponta Pnad
Especialistas creditam
avanço à formalização do
emprego, à inflação menor e
ao reajuste do mínimo; sob
Lula, ainda há recuo de 3,36%
ANTÔNIO GOIS
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
Depois de praticamente uma
década de perdas sucessivas, a
renda do trabalhador brasileiro
cresceu em 2005 (4,6%) e chegou a R$ 805. Trata-se da primeira expansão desde 1996.
Apesar do sinal positivo, o
avanço não foi suficiente para
compensar as quedas acumuladas, e o rendimento ainda é
15,1% inferior ao verificado em
1996 (R$ 948). Essa é uma das
principais conclusões da Pnad
(Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2005, divulgada ontem pelo IBGE.
Apesar do crescimento em
2005, a renda tem caído a um
ritmo anual de 1,12% no governo Luiz Inácio Lula da Silva. A
comparação entre o valor herdado do governo anterior e o de
2005 mostra uma queda de
3,36%. No segundo mandato de
Fernando Henrique Cardoso, o
ritmo de queda do rendimento
foi mais intenso, de 2,71% ao
ano. O período foi marcado por
crises externas e pela adoção do
câmbio flutuante.
O último ciclo de crescimento da renda ocorreu no primeiro mandato de FHC, quando a
expansão foi da ordem de
5,39% ao ano, com os efeitos do
Plano Real. Em relação à renda
herdada do governo Itamar
Franco, a primeira gestão de
FHC terminou com aumento
no rendimento de 29,93%. O
cálculo compara a renda de
1998 com a de 1993. A Pnad não
foi realizada em 1994, último
ano do governo de Itamar.
O resultado da Pnad surpreendeu especialistas em razão do contraste com o crescimento da economia no ano
passado, de 2,3%. "Não sabemos se estamos no Haiti, como
apontavam os dados do PIB, ou
na Índia, como indicam os dados de renda da Pnad", afirmou
Marcelo Néri, chefe do Centro
de Políticas Sociais da FGV
(Fundação Getulio Vargas).
De acordo com dados calculados por Néri a partir dos microdados da Pnad, a renda domiciliar per capita (que inclui
as pessoas que não têm renda)
cresceu 6,6% em 2005, contra
uma expansão de 3,1% em
2004. "O rendimento do trabalho cresceu 4,6%, mas muita
gente que não tinha renda nenhuma passou a ter com os programas de transferência de
renda, mas o crescimento do
trabalho foi muito forte", disse.
Em 2005, o rendimento médio dos domicílios chegou a R$
1.536, contra R$ 1.462 em 2004.
O valor inclui as rendas do trabalho e de outras fontes, como
aposentadorias, pensões, aluguéis, aplicações e programas
de transferência de renda.
Da última vez em que a renda
cresceu no país, o trabalhador
ainda se beneficiava dos ganhos
de estabilidade proporcionados pelo Plano Real.
Carteira assinada
Segundo especialistas, na
prática, a conta passou a incluir
menos pessoas com remuneração baixa, o que foi o principal
fator a inflar a renda do trabalho em 2005. "O trabalho com
carteira assinada cresceu muito e, em geral, tem um nível de
remuneração mais alta", disse
João Sabóia, diretor do Instituto de Economia da UFRJ.
Em 2005, o crescimento da
renda, especialmente entre os
mais pobres, foi impulsionado
pelo aumento em termos reais
de 9,9% do salário mínimo.
Além disso, o dólar em baixa
ajudou a reduzir os preços dos
alimentos, e o índice oficial de
inflação, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), recuou para 5,69% no ano, o menor patamar desde 1998.
Para Marcelo de Ávila, economista do Ipea (Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada),
os dados indicam que a Pnad de
2006 deve mostrar novo crescimento da renda, amparado no
aumento dos trabalhadores
formais e do salário mínimo.
Desigualdade
A Pnad confirmou a tendência de redução da desigualdade
verificada nos últimos anos. O
índice de Gini das rendas do
trabalho apresentou um ligeiro
recuo, de 0,547 para 0,544, o
mais baixo desde 1981, no cálculo. O índice varia de 0 a 1
-quanto mais próximo de 1,
maior a desigualdade. A concentração de renda não cresce
no país desde 1993.
Segundo Néri, o bem-estar
social (combinação da renda
per capita domiciliar e da desigualdade) cresceu 7,6% em
2005, contra uma expansão de
5,9% em 2004. Apesar disso, o
economista classifica a redução
da desigualdade de 2005 como
"frustrante" porque havia a expectativa de um recuo maior.
"A desigualdade está diminuindo muito lentamente, mas
de forma contínua", afirmou
Vandeli Guerra, do IBGE. Todas as classes de renda registraram ganhos pela primeira vez
desde 1996. A desigualdade
caiu por causa dos ganhos um
pouco maior dos mais pobres.
A análise com base na renda
mensal de todos os trabalhos
mostra que os 50% mais pobres
tiveram alta de 6,5% nos rendimentos. Já os 10% mais ricos
registraram alta de 4,9%. A mudança na apropriação da renda,
no entanto, ainda caminha a
passos lentos. Em 2004, os 50%
mais pobres detinham 16% da
renda total. Em 2005, esse percentual subiu para 16,3%.
Sob a ótica do rendimento do
trabalho, o ganho foi maior na
faixa de renda próxima do salário mínimo, com alta de 10,3%.
Quando se incluem na conta
rendimentos provenientes de
pensões ou de programas de
transferência de renda, o crescimento da renda é mais intenso entre os 10% mais pobres,
com alta de 14,8%.
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