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memória
Escândalo envolveu a cúpula do BC
DA REPORTAGEM LOCAL
O banqueiro Salvatore
Cacciola, ex-dono do Banco Marka, foi protagonista
de um dos maiores escândalos do país. O caso atingiu diretamente o então
presidente do BC (Banco
Central) Francisco Lopes.
Em janeiro de 1999, Lopes elevou o teto para a variação do dólar de R$ 1,22
para R$ 1,32. Essa era a
saída para evitar estragos
piores à economia brasileira, fragilizada pela crise
financeira da Rússia, que
se espalhou pelo mundo a
partir do final de 1998.
Naquele momento, o
banco de Cacciola tinha 20
vezes seu patrimônio líquido aplicado em contratos de venda no mercado
futuro de dólar. Com o revés, Cacciola não teve como honrar os compromissos e pediu ajuda ao BC.
Seu intermediário foi Luiz
Bragança, amigo de infância de Francisco Lopes.
Alegando risco sistêmico, termo empregado para
dizer que as instituições financeiras poderiam quebrar, o BC permitiu que o
Marka e também o FonteCindam comprassem dólares na cotação anterior à
virada do câmbio.
A ajuda causou um prejuízo bilionário aos cofres
públicos. Dois meses depois, cinco testemunhas
vazaram o caso alegando
que Cacciola comprava informações privilegiadas
do próprio BC. Sem explicações, Lopes pediu demissão em fevereiro.
O caso deu início a uma
CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), que acusou a alta cúpula do Banco
Central de tráfico de influência, gestão temerária
e vários outros crimes. Durante depoimento na comissão, Lopes se recusou a
assinar termo de compromisso de falar só a verdade
e recebeu ordem de prisão
da CPI.
Em junho de 2000, Cacciola foi preso pela Polícia
Federal. Ficou na cadeia
37 dias. Sua saída se deveu
à concessão de um habeas
corpus pelo ministro do
STF (Supremo Tribunal
Federal) Marco Aurélio
Mello, que achou desnecessária a prisão.
No mesmo dia em que
obteve o habeas corpus,
Cacciola foi para o Uruguai e, de lá, para a Argentina, onde tomou um avião
rumo à Itália. Como tem
cidadania italiana, passou
a viver em Roma.
A Folha entrevistou o
banqueiro em 2001. Ele
morava em Roma em um
condomínio luxuoso cuja
casa era cercada por um
castelo feudal. "Aqui sou
um homem livre", disse.
Em 2005, a Justiça Federal no Rio condenou
Cacciola, Francisco Lopes
e outros dirigentes do BC
por causa do caso Marka/
FonteCindam.
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