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Para Mantega, país está mais bem preparado
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
"O Brasil já estaria de quatro,
de joelhos, em outra circunstância." "O país se mantém como alternativa favorável, pois o
problema é lá, não aqui."
Com frases como essas, o ministro Guido Mantega (Fazenda) tentou afastar ontem os
efeitos da crise internacional,
com epicentro nos EUA, da
economia brasileira.
"A Bolsa [brasileira] está subestimando os preços dos ativos. Eles estão ficando baratos
e, daqui a pouco, alguém começa a comprar", disse Mantega,
na abertura do 5º Fórum de
Economia da FGV (Fundação
Getulio Vargas).
Naquele momento, a Bolsa
caía cerca de 5%, antes de fechar em baixa de 7,59%.
Para Mantega, o Brasil tem
um "arsenal" de medidas que
pode vir a adotar para se proteger caso a crise internacional
tenha maiores efeitos no país.
"No momento, não há nenhuma medida no forno, mas
estamos preparados. Se necessário for, há medidas fiscais e
monetárias que podem ser adotadas para garantir a estabilidade", disse Mantega.
Empresários e economistas
que participaram do encontro
apresentaram visões bem mais
pessimistas, e preocupadas,
dos efeitos da crise do que as
previsões oficiais do ministro.
"Parece que quem define as
coisas no Brasil passou um fim
de semana muito alegre", disse,
depois da palestra de Mantega,
o empresário Boris Tabacof , vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado
de São Paulo).
Na opinião de Tabacof, o dólar tende a se valorizar fortemente nos próximos dias como
resultado de uma "fuga de capitais que deve se intensificar".
Os efeitos da crise nos Estados Unidos e da valorização do
dólar no Brasil (resultado de retiradas de capital estrangeiro)
estiveram no centro dos debates do fórum.
O economista Yoshiaki Nakano, diretor da Escola de Economia da FGV, por exemplo,
afirmou que chega ser "ilusório
achar que, com US$ 206 bilhões em reservas no Banco
Central, estamos sólidos".
"O total de moeda de alta liquidez que rapidamente pode
se converter em dólares e gerar
uma explosão na taxa de câmbio é o mesmo de dez anos
atrás, apesar das reservas maiores", disse Nakano.
O crescimento do investimento também está ameaçado.
Apesar de comemorar o fato de
que, pela primeira vez, o investimento anteciparia a demanda, em vez de ser feito a reboque do crescimento, os economistas dizem temer que os percentuais recuem.
Segundo Fernando Puga,
chefe do departamento de análise econômica do BNDES, a
expectativa da entidade é que o
Brasil atinja 21% de investimentos em relação ao PIB, em
2010. O percentual mundial é
de 21,7%, e o do Brasil, hoje, de
17,6%. "É preciso questionar
quão sustentável é o crescimento", afirmou Márcio Holland, professor da FGV. "A correlação entre o crescimento da
zona do euro e dos EUA com a
do Brasil é altíssima. Não somos insulares."
O presidente do BID (Banco
Interamericano de Desenvolvimento), Luis Alberto Moreno,
também diz que a atual crise
bancária nos Estados Unidos
pode "secar o sistema financeiro internacional". Esse, segundo ele, será o principal efeito
para a região latino-americana,
em razão da forte restrição de
crédito provocada pela crise e o
efeito que terá nas linhas entre
bancos.
Moreno descartou impactos
nas operações do banco devido
a atual crise. O BID deve cumprir neste ano a meta de ofertar
montante de até US$ 11 bilhões
em créditos na América Latina.
O Brasil deverá ser o principal
tomador.
Colaboraram AGNALDO BRITO e
CRISTIANE BARBIERI , da Reportagem Local
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