São Paulo, terça-feira, 16 de setembro de 2008

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Para Mantega, país está mais bem preparado

FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

"O Brasil já estaria de quatro, de joelhos, em outra circunstância." "O país se mantém como alternativa favorável, pois o problema é lá, não aqui."
Com frases como essas, o ministro Guido Mantega (Fazenda) tentou afastar ontem os efeitos da crise internacional, com epicentro nos EUA, da economia brasileira.
"A Bolsa [brasileira] está subestimando os preços dos ativos. Eles estão ficando baratos e, daqui a pouco, alguém começa a comprar", disse Mantega, na abertura do 5º Fórum de Economia da FGV (Fundação Getulio Vargas).
Naquele momento, a Bolsa caía cerca de 5%, antes de fechar em baixa de 7,59%.
Para Mantega, o Brasil tem um "arsenal" de medidas que pode vir a adotar para se proteger caso a crise internacional tenha maiores efeitos no país.
"No momento, não há nenhuma medida no forno, mas estamos preparados. Se necessário for, há medidas fiscais e monetárias que podem ser adotadas para garantir a estabilidade", disse Mantega.
Empresários e economistas que participaram do encontro apresentaram visões bem mais pessimistas, e preocupadas, dos efeitos da crise do que as previsões oficiais do ministro.
"Parece que quem define as coisas no Brasil passou um fim de semana muito alegre", disse, depois da palestra de Mantega, o empresário Boris Tabacof , vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Na opinião de Tabacof, o dólar tende a se valorizar fortemente nos próximos dias como resultado de uma "fuga de capitais que deve se intensificar".
Os efeitos da crise nos Estados Unidos e da valorização do dólar no Brasil (resultado de retiradas de capital estrangeiro) estiveram no centro dos debates do fórum.
O economista Yoshiaki Nakano, diretor da Escola de Economia da FGV, por exemplo, afirmou que chega ser "ilusório achar que, com US$ 206 bilhões em reservas no Banco Central, estamos sólidos".
"O total de moeda de alta liquidez que rapidamente pode se converter em dólares e gerar uma explosão na taxa de câmbio é o mesmo de dez anos atrás, apesar das reservas maiores", disse Nakano.
O crescimento do investimento também está ameaçado.
Apesar de comemorar o fato de que, pela primeira vez, o investimento anteciparia a demanda, em vez de ser feito a reboque do crescimento, os economistas dizem temer que os percentuais recuem.
Segundo Fernando Puga, chefe do departamento de análise econômica do BNDES, a expectativa da entidade é que o Brasil atinja 21% de investimentos em relação ao PIB, em 2010. O percentual mundial é de 21,7%, e o do Brasil, hoje, de 17,6%. "É preciso questionar quão sustentável é o crescimento", afirmou Márcio Holland, professor da FGV. "A correlação entre o crescimento da zona do euro e dos EUA com a do Brasil é altíssima. Não somos insulares."
O presidente do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), Luis Alberto Moreno, também diz que a atual crise bancária nos Estados Unidos pode "secar o sistema financeiro internacional". Esse, segundo ele, será o principal efeito para a região latino-americana, em razão da forte restrição de crédito provocada pela crise e o efeito que terá nas linhas entre bancos.
Moreno descartou impactos nas operações do banco devido a atual crise. O BID deve cumprir neste ano a meta de ofertar montante de até US$ 11 bilhões em créditos na América Latina.
O Brasil deverá ser o principal tomador.


Colaboraram AGNALDO BRITO e CRISTIANE BARBIERI , da Reportagem Local


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