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COMENTÁRIO
Caem duas "torres gêmeas"
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
A quebra nos EUA do banco
de investimento Lehman Brothers e a venda do Merrill
Lynch para o Bank of America
têm um sentido parecido para o
mercado financeiro norte-americano ao do colapso, em 11
de setembro de 2001, das torres
gêmeas do Word Trade Center.
Desta vez, não foram fundamentalistas do Oriente os autores, mas os defensores da liberdade extrema para o mercado
financeiro que derrubaram
dois dos maiores ícones do capitalismo. Trata-se de uma lição e tanto para o mais sofisticado mercado financeiro do
mundo. O Lehman Brothers
existia há 158 anos e quebrou
afundado num passivo de US$
613 bilhões, o equivalente a cerca da metade do PIB brasileiro.
Já o Merrill Lynch, símbolo
das finanças de Manhattan e
fundado em 1915, será vendido
por US$ 50 bilhões para o Bank
of America. No início do ano,
quando a crise já parecia feia, o
Bear Stearns foi repassado ao
JP Morgan por míseros R$ 370
milhões (menos de 5% do lucro
do Bradesco em 2007).
O fundo dessa crise permanece desconhecido. Analistas
chegam a multiplicar por oito o
rombo que pode estar por trás
de operações sem lastro dos
bancos nos últimos cinco anos.
A previsão feita pelo FMI em
abril, de um buraco de mais de
US$ 1 trilhão, já é considerada
extremamente conservadora.
Fala-se agora em mais de
US$ 10 trilhões, algo equivalente ao que a maior economia do
mundo, os EUA, demanda 12
meses inteiros para produzir.
Apesar do encadeamento de
más notícias e do sepultamento
de instituições centenárias nos
EUA, é prematuro comparar o
quadro atual à pior crise da história do país, em 1929.
Naquela época, muitos americanos perderam suas residências mesmo tendo financiado
apenas 10% do valor dos imóveis. Hoje, podem não perder
suas casas os que financiaram
quase 90%. Também nos anos
1930, o desemprego americano
foi a 25%. É algo ainda muito
distante dos 6,1% atuais.
O mundo também era outro.
Não havia a China e seu crescimento de 10%. Nem o Brasil,
agora na faixa de 6%. O que parece certo: vem aí um fortíssimo aperto no crédito, base da
atual expansão de investimentos e consumo no Brasil.
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