São Paulo, terça-feira, 16 de setembro de 2008

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COMENTÁRIO

Caem duas "torres gêmeas"

FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

A quebra nos EUA do banco de investimento Lehman Brothers e a venda do Merrill Lynch para o Bank of America têm um sentido parecido para o mercado financeiro norte-americano ao do colapso, em 11 de setembro de 2001, das torres gêmeas do Word Trade Center.
Desta vez, não foram fundamentalistas do Oriente os autores, mas os defensores da liberdade extrema para o mercado financeiro que derrubaram dois dos maiores ícones do capitalismo. Trata-se de uma lição e tanto para o mais sofisticado mercado financeiro do mundo. O Lehman Brothers existia há 158 anos e quebrou afundado num passivo de US$ 613 bilhões, o equivalente a cerca da metade do PIB brasileiro.
Já o Merrill Lynch, símbolo das finanças de Manhattan e fundado em 1915, será vendido por US$ 50 bilhões para o Bank of America. No início do ano, quando a crise já parecia feia, o Bear Stearns foi repassado ao JP Morgan por míseros R$ 370 milhões (menos de 5% do lucro do Bradesco em 2007).
O fundo dessa crise permanece desconhecido. Analistas chegam a multiplicar por oito o rombo que pode estar por trás de operações sem lastro dos bancos nos últimos cinco anos. A previsão feita pelo FMI em abril, de um buraco de mais de US$ 1 trilhão, já é considerada extremamente conservadora.
Fala-se agora em mais de US$ 10 trilhões, algo equivalente ao que a maior economia do mundo, os EUA, demanda 12 meses inteiros para produzir.
Apesar do encadeamento de más notícias e do sepultamento de instituições centenárias nos EUA, é prematuro comparar o quadro atual à pior crise da história do país, em 1929.
Naquela época, muitos americanos perderam suas residências mesmo tendo financiado apenas 10% do valor dos imóveis. Hoje, podem não perder suas casas os que financiaram quase 90%. Também nos anos 1930, o desemprego americano foi a 25%. É algo ainda muito distante dos 6,1% atuais.
O mundo também era outro. Não havia a China e seu crescimento de 10%. Nem o Brasil, agora na faixa de 6%. O que parece certo: vem aí um fortíssimo aperto no crédito, base da atual expansão de investimentos e consumo no Brasil.


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