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BARRIL DE PÓLVORA
Presidente da estatal diz que alta do petróleo no mercado internacional não será toda repassada internamente
Petrobras diz que fará reajustes com "cautela"
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O presidente da Petrobras, José
Eduardo Dutra, praticamente admitiu ontem que haverá novos
aumentos de preço além dos 4%
na gasolina e dos 6% no diesel que
passaram a vigorar ontem: "Se o
preço internacional ficar em US$
50 por um longo período, vai ter
aumento de novo", disse à Folha.
O próprio Dutra lembrou que
haverá uma sobrecarga natural de
consumo no final do ano, por
causa do inverno nos Estados
Unidos e na Europa, e que não há
expectativa de redução expressiva
nos preços: "É muito pouco provável que o petróleo volte ao patamar de US$ 30 ou de US$ 40 com
que trabalhávamos antes".
Dutra, porém, foi cuidadoso.
Disse que não há previsão de datas, nem de índices e que todos os
cálculos são de caráter técnico.
"O preço está defasado? Hoje,
está. Vai aumentar, então? Não sei
quanto, não sei quando, se vai ser
depois da eleição, se vai ser em janeiro", disse, ressaltando que a
empresa monitora sistematicamente a evolução e as tendências
do produto no mercado internacional, principalmente sob o ângulo geopolítico.
Analistas de mercado estimavam que seria necessário um reajuste de 20%, mas imaginavam
que um índice tão alto seria politicamente inviável em pleno segundo turno eleitoral e já previam um
meio-termo em torno de 10%. O
reajuste decidido, portanto, foi
bem menor do que a previsão
mais conservadora.
Quanto a essa crítica, Dutra ironizou: "Analistas? Muita gente se
arvora em especialista, mas os
verdadeiros especialistas não estão arriscando previsões. Eles sabem que o quadro é instável, não
dá para apostar". Ele lembrou que
o Conselho Administrativo da
empresa determinou em 2002,
ainda com a composição anterior,
que a direção tivesse "cautela" em
relação a preços.
"O conselho antigo decidiu, e
nós achamos correto. Não há
mais monopólio, mas a empresa é
dominante e precisa agir com responsabilidade. Não dá para atuar
com uma visão exclusivamente
economicista", disse ele.
"Cautela" e "responsabilidade",
na sua versão, significam: "Seguir
uma certa aderência ao preço internacional, mas sem repassar ao
consumidor interno a mesma volatilidade externa".
"A função da Petrobras não é
atender uma expectativa pontual
de mercado, mas sim de atuar
com base em avaliações empresariais, com um olho no interesse
dos acionistas e outro nos interesses da sociedade, dos consumidores. Os acionistas não têm reclamado", afirmou ele.
Dutra fez uma comparação entre o que ocorreu no segundo trimestre de 2003 e em igual período
de 2004. Segundo ele, no ano passado, os "analistas entre aspas"
reclamavam do que seriam lucros
absurdos da Petrobras, com preços muito acima do mercado internacional. O petróleo estava
num patamar de cerca de US$ 25
o barril. No mesmo período neste
ano, a reclamação era outra, inversa: a de que os preços estavam
muito abaixo do mercado internacional e que, portanto, os acionistas estavam tendo prejuízo.
O resultado, ainda segundo ele:
o lucro da empresa foi igualmente
de R$ 3,9 bilhões tanto no segundo trimestre de 2003 quanto no de
2004, com uma diferença apenas
de cerca de R$ 20 milhões a mais
neste ano.
"Mudanças no câmbio têm
mais influência no lucro da Petrobras, para o bem e para o mal, do
que estar abaixo ou acima dos
preços internacionais", disse. No
ano passado, o dólar subiu e o petróleo subiu junto. Neste ano, o
real se valorizou cerca de 7% em
relação à moeda americana.
Quanto às análises de que o aumento de agora foi combinado
com o cronograma das eleições,
Dutra respondeu com uma provocação: em 2002, ano da disputa
presidencial, o petróleo subiu, o
dólar disparou, mas a Petrobras
não promoveu grandes mexidas
nos preços.
"A Petrobras não usou critério
político nem naquela nem nas
atuais eleições", disse ele, apesar
de o aumento estar sendo esperado desde antes do primeiro turno
das eleições municipais e com
percentuais bem maiores.
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