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VINICIUS TORRES FREIRE
Governo desorientado e impostos
Lula quer tributar menos e investir mais. Vai fazer mais dívida? Plano não faz sentido no curto e no longo prazos
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O PRESIDENTE parece uma daquelas donas-de-casa ricas
que nada entendem de economia doméstica. Num certo dia, a
dona-de-casa acorda invocada, como sói acontecer com Lula, e aparece na cozinha a dar ordens. Quer um
jantarzão pronto em meia hora e
proíbe todo mundo de ir ao mercado
(ou à feira, digamos, para usar palavra menos suspeita). É a impressão
que dá a barafunda da "nova política
econômica" que se discute para o segundo mandato. Lula quer baixar
impostos para incentivar investimentos privados e quer que o governo invista mais também. Mas não
vai cortar gasto social. Isto é, quer
colocar fermento na dívida pública.
Há impostos demais mesmo no
Brasil. Empresários buzinam no ouvido de Lula que, com menos imposto, investem mais. É possível baixar
uma ou outra alíqüota distorcida ou
incentivar a entrada de um novo tipo de negócio no país. No curto prazo, ano que vem, o efeito no PIB, se
algum, será mínimo. Há o risco de
apenas o empresário do setor beneficiado embolsar o incentivo fiscal.
Há despesas que crescem sem o
governo mexer um dedo: saúde,
educação, Previdência. "E os juros?"
Sim, os juros são terríveis e a política monetária merece várias vaias.
Mas cerca de 68% do aumento de
impostos federais desde 1999 destinou-se a pagar os gastos em alta no
INSS, a Previdência (por que 1999?
Foi aí que, no pós-Real, se começou
a fazer superávit primário, a economia feita para pagar juros, como se
diz). Os juros levaram parte menor
da alta de impostos; os juros não pagos se empilham na dívida pública.
Era preciso tirar milhões da miséria extrema? Era, e ainda há montes
de gente na miséria. Mas, para investir em melhoria social duradoura
e para haver emprego, não há mais
como aumentar gasto corrente.
Aumentos de impostos destinados a gastos correntes do governo
(os que não são investimentos) contêm a expansão da capacidade produtiva no setor público e no privado.
Isenções de impostos limitadas
podem ter efeito quase nulo sobre o
aumento da capacidade produtiva
(investimentos) e podem conter a
queda da taxa de juros (pois o governo tende a ficar no vermelho). Juro
menor incentiva o investimento e
beneficia mais gente que isenções
localizadas de impostos.
O BC poderia ter reduzido os juros
mais depressa? Sim, e ainda pode.
Com menos juros e gastos correntes
(salários, INSS etc.), a dívida, as taxas de juros e os pagamentos de juros cairiam mais rapidamente.
Há algo a fazer já, além disso? Sim.
Há dezenas de bilhões de reais em
investimentos parados devido a
idiotices burocráticas, falta de regras e inércia administrativa do governo.
Destravar tais investimentos
seria a medida de efeito mais concreto e imediato que o governo pode
tomar. Baixar impostos agora é uma
medida conservadora, que tende a
impedir investimentos sociais (água
limpa, esgotos, educação) e piorar a
qualidade do gasto público total.
Importa, já, conter a despesa: em
juros, salários, INSS, cartilhas do
Gushiken, em tudo. E pensar no longo prazo: educação, melhoria social
estrutural por meio de investimento
público e em como o Estado pode
ajudar as empresas a se tornarem
mais produtivas e tecnológicas. O
resto parece pirotecnia.
vinit@uol.com.br
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