São Paulo, sábado, 16 de dezembro de 2000

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CÚPULA DO MERCOSUL

Encontro com presidente eleito dos EUA discutiria a Alca e não deixaria "apenas o osso" para o Brasil

FHC quer ver Bush para não virar "presunto"

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A FLORIANÓPOLIS

O presidente Fernando Henrique Cardoso encampou sugestão de seu colega uruguaio Jorge Battle e se manifestou disposto a propor uma reunião dos presidentes do Mercosul com George W. Bush, cuja eleição para a Presidência norte-americana acaba de ser confirmada.
O encontro serviria para discutir a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) de forma a fugir do que FHC chamou de "técnica do presunto: vai fatiando, fatiando, e nos sobra o osso" (em um acordo comercial como a Alca, que pretende englobar os 34 países americanos, excluído apenas Cuba).
O presidente brasileiro ainda brincou: "Não queremos o osso porque temos medo da doença das vacas loucas que, parece, passa pelo osso".
FHC aproveitou todas as suas intervenções no encerramento da reunião de cúpula do Mercosul para um novo e mais agressivo discurso em relação à posição do Brasil nas negociações comerciais globais.
"O Brasil está disposto a sentar-se à mesa a qualquer momento para discutir as questões que são substantivas", afirmou o presidente.
Para ele, tal como já havia dito na véspera, "questões substantivas" são o acesso ao mercado norte-americano para produtos como aço, têxteis, suco de laranja e calçados produzidos no Brasil. Esse acesso é bloqueado pelo arsenal protecionista dos EUA.
Para o presidente, as questões substantivas têm total e absoluta precedência sobre a data para a negociação, se 2005, como originalmente acertado entre os 34 presidentes, ou 2003, como propuseram, mais recentemente, tanto os Estados Unidos como o Chile.
"Ou existe matéria para deliberar ou a data é um espetáculo, e esse espetáculo seria um fracasso", disse.
FHC afirmou que os países do Mercosul são "gatos escaldados", porque foram "muitas vezes banhados na água fria, ao pensar em fazer um excelente acordo e verificar que é um acordo que interessa só a uma das partes".
Por isso mesmo, insiste em negociar questões concretas, como aço, suco de laranja etc. "Se for para discutir os itens tais e tais, quem não quer antecipar o bem?", pergunta, com a resposta implícita.
Em outra evidência da nova disposição mais afirmativa da diplomacia brasileira, o presidente afirmou que pretende que o Mercosul entre na negociação "de cabeça erguida, mas não com arrogância, porque não temos força para sermos arrogantes, e ser arrogante sem ter força é bobo, faz um triste papel".



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