São Paulo, quarta-feira, 17 de janeiro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

COMÉRCIO EXTERIOR
Governo, porém, admite que Embraer vai perder contrato de americanos de US$ 2 bi para a Bombardier
Brasil vai à OMC contra subsídio canadense

Sergio Lima/Folha Imagem
Fernando Henrique Cardoso conversa com comissárias que o acompanharam até Vancouver, primeira escala de sua viagem à Ásia


MARTA SALOMON
ENVIADA ESPECIAL A VANCOUVER

ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo brasileiro confirmou ontem a intenção de recorrer à OMC (Organização Mundial do Comércio) contra a decisão do Canadá de subsidiar a Bombardier, empresa que disputa com a brasileira Embraer um contrato nos Estados Unidos de quase US$ 2 bilhões para a fabricação de 75 aeronaves.
O assunto foi tratado durante a passagem da comitiva do presidente Fernando Henrique Cardoso ontem pelo Canadá. FHC teve um rápido encontro formal com o chanceler do Canadá, John Manley, que conversou mais demoradamente com o ministro interino das Relações Exteriores, Luiz Felipe Seixas Corrêa.

Caso perdido
Em Brasília, o embaixador José Alfredo Graça Lima, secretário de Assuntos de Integração, Econômicos e de Comércio Exterior do Itamaraty, disse que a Embraer deverá perder o contrato para a Bombardier, o fabricante canadense de aviões regionais.
"Com essas facilidades concedidas pelo governo canadense é evidente que a Bombardier adquire vantagem material que lhe dará, muito provavelmente, a vitória na concorrência para a venda de aviões para a Air Wisconsin", disse Graça Lima.
O embaixador afirmou que, até o final desta semana, enviará ao Canadá um pedido de consulta, no qual pedirá explicações sobre a decisão de ajudar a Bombardier na concorrência. Esse é o primeiro passo para a apresentação do recurso à OMC.

Pressões
FHC classificou a decisão canadense de ""flagrantemente" contrária às regras da OMC. E disse que a situação ficou mais difícil depois dos subsídios à Bombardier. O presidente reclamou das pressões contra as chances de o Brasil competir num mercado de alta tecnologia, como é o caso da venda de aviões.
A sugestão do encontro de ontem partiu das autoridades canadenses, mas as conversas não mudaram o rumo da disputa comercial. ""Isso revela uma preocupação salutar", avaliou Seixas Corrêa. ""Mas a discussão segue seu curso normal, na OMC", completou.
O próximo passo está previsto para o início de fevereiro, durante a reunião do órgão de solução de controvérsias da OMC. Nessa ocasião, o Brasil deverá formalizar a queixa contra a ação dos canadenses.
Essa disputa pelo mercado de aviões já dura quatro anos e agravou-se na semana passada com as declarações do ministro da Indústria do Canadá. Brian Tobin anunciou a decisão de conceder subsídios à Bombardier na forma de garantias de crédito para disputar o contrato com a Air Wisconsin, empresa ligada à norte-americana United Airlines.

Queixa anterior
Antes disso, o Canadá já havia se queixado na OMC contra os subsídios concedidos pelo governo brasileiro à Embraer, a maior empresa exportadora do país. Mesmo depois de mudanças nas regras do Proex (programa de financiamento às exportações), a OMC autorizou o Canadá a retaliar o Brasil em até US$ 1,3 bilhão nos próximos anos.
A relação comercial entre Brasil e Canadá não é equilibrada. O Brasil ainda importa muito mais do que exporta. A diferença chegou a US$ 429 milhões no ano passado.
Apesar da disputa comercial, FHC nem sequer cogitou de faltar à reunião com os demais governantes de países da América no Canadá. A Cúpula das Américas está marcada para abril.
Durante a rápida passagem pelo país, o presidente Fernando Henrique Cardoso falou por telefone com o primeiro-ministro Jean Chrétien, que passava férias na Flórida (Estados Unidos).


Texto Anterior: Megassafra é esperança de recuperação em 2001
Próximo Texto: Conjuntura: Brasil crescerá mais de 5%, diz Marco Maciel
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.