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VIZINHO EM CRISE
Após 11 meses, país acerta pacote de US$ 16,1 bilhões para refinanciar dívidas; não haverá dinheiro novo
FMI e Argentina fecham acordo de transição
MARCELO BILLI
DE BUENOS AIRES
O FMI (Fundo Monetário Internacional) anunciou ontem que,
depois de 11 meses de negociação,
chegou a um acordo com a Argentina. A assinatura do acordo
-de US$ 16,1 bilhões e válido por
oito meses- depende agora apenas da aprovação da diretoria
executiva do Fundo, que deve se
reunir na quinta-feira da próxima
semana para analisá-lo. Será o 20º
acordo do país com o Fundo.
"Podemos confirmar que os
técnicos do Fundo e os negociadores argentinos chegaram a um
acordo "ad referendum" [que precisa ser ratificado". Este acordo
será submetido à diretoria do
Fundo e será analisado nos próximos dias", disse o porta-voz do
Fundo, Thomas Dawson.
Apesar de a liberação dos recursos depender da diretoria, na Argentina é dado como certo o acordo, porque o Fundo só anuncia
pacotes do tipo quando a aprovação é praticamente garantida.
O governo argentino não receberá recursos novos. Os US$ 16,1
bilhões servirão apenas para refinanciar dívidas, já vencidas ou
que vencerão até agosto, que o
país já tem com organismos multilaterais de crédito. Do total,
US$ 5,1 bilhões são empréstimos
do FMI que foram refinanciados
no ano passado. Outros US$ 6,6
bilhões são empréstimos do Fundo que vencerão até agosto. Os
demais US$ 4,4 bilhões são em
vencimentos devidos ao Banco
Mundial e ao BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
O acordo "dá algum fôlego para
o país até depois das eleições",
disse Dawson. O primeiro turno
das eleições presidenciais deverá
ocorrer em 27 de abril. O novo governo assumiria no final de maio
e teria três meses para negociar
um novo programa com o FMI.
A confirmação do Fundo foi o
sinal, pedido pelos argentinos,
que evitou que o país deixasse de
pagar ao FMI uma dívida de US$ 1
bilhão que vence hoje. Pouco depois do anúncio do Fundo, o governo argentino confirmou que
pagaria o empréstimo.
O governo confirmou também
que assinou uma carta de intenções, mas os termos do documento não foram divulgados. As condições do programa vão se tornar
públicas quando o Fundo ratificar
o acordo.
Conversa difícil
A Argentina negociava com o
Fundo havia quase um ano. Em
janeiro, o país declarou a moratória da dívida com credores privados. Mas o governo não deixou de
pagar as dívidas com os organismos multilaterais de crédito.
Em outubro de 2002, o país
anunciou que não pagaria os organismos, caso não contasse com
um programa de refinanciamento. Em novembro, o país deixou
de pagar duas dívidas com o Bird
(Banco Mundial) -um empréstimo e um título que era garantido
pelo banco- que somavam mais
de US$ 1 bilhão.
Na quarta-feira, o ministro da
Economia, Roberto Lavagna, disse que a Argentina só voltaria a
pagar dívidas quando houvesse
um sinal claro de que o país poderia contar com a ajuda do FMI. No
mesmo dia, a Argentina não pagou uma dívida de US$ 681 milhões com o BID.
O porta-voz do Fundo negou
que o FMI tenha dado a declaração devido à decisão argentina de
não pagar o BID. Lavagna também negou que a ameaça de calote seja uma estratégia de negociação. "O governo já explicou isso
muitas vezes. As reservas [internacionais] do país são limitadas. É
impossível pagar. Não é uma estratégia de negociação", disse.
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