São Paulo, quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

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Associação calcula déficit de energia já neste ano

Dificuldade em abastecer térmicas é uma das causas

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Amparado em dados oficiais, mas com conclusões bem diferentes do discurso oficial, estudo da Abrace, associação que reúne grandes consumidores de energia, aponta déficit de energia de 1.743 MW já neste ano. O estudo trata da chamada energia firme, aquela que os geradores podem negociar em contratos. A dimensão do déficit em 2008 corresponde a mais da metade da potência da usina de Santo Antônio, no rio Madeira (RO), que foi a leilão em dezembro.
A falta de energia suficiente para lastrear contratos de comercialização no mercado livre -ao qual recorrem indústrias, shoppings e hipermercados, por exemplo- deixaria os grandes consumidores mais expostos a preços muito elevados, até aqui o maior sinal de problemas na oferta.
Nesta semana, o preço definido pela CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica) para o mercado de curto prazo alcançou R$ 569,59 por MWh (megawatt-hora), o maior valor desde o segundo semestre de 2001, época do apagão.
"O país já não terá neste ano energia suficiente para atender a toda a demanda", diz Patrícia Arce, diretora-executiva da Abrace. O governo insiste em que não há risco de racionamento em 2008.
Procurados ontem, o Ministério de Minas e Energia, a EPE (Empresa de Pesquisa Energética) e o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) não se manifestaram sobre o assunto até a conclusão desta edição.
O estudo ressalta que a oferta de energia firme aquém da demanda não significa "necessariamente" que haverá um racionamento de energia elétrica, mas que não haverá energia suficiente para as geradoras lastrearem contratos de venda para atender integralmente ao consumo da indústria.

Ilusão
"Os consumidores livres foram iludidos em 2005 com dados oficiais que apontavam uma situação de oferta de energia que levou a decisões consideradas perigosas para a competitividade da indústria nacional, uma vez que a situação projetada não se concretizou", conclui o documento da Associação Brasileira de Grandes Consumidores de Energia e de Consumidores Livres.
O estudo da Abrace prevê que um "apagão" de contratos de energia para os grandes consumidores se repetiria com intensidade menor em 2009 e em 2011, primeiro ano de governo do sucessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A entidade comparou previsões oficiais feitas pelo ONS em novembro de 2004 e novembro de 2007. A disponibilidade de energia firme para contratos caiu nesse intervalo de tempo.
Entre 2005 e 2007, a oferta de energia caiu 9,4%, enquanto a demanda cresceu 7,9%.

Motivos
O cancelamento de contratos para a importação de gás da Argentina e sobretudo as dificuldades da Petrobras em abastecer as usinas térmicas a gás seriam as principais causas da queda da oferta de energia, aponta o estudo.
Se o cenário de 2004 tivesse se confirmado, avalia Patrícia Arce, a energia estaria sendo negociada no mercado livre nesta semana a cerca de R$ 170 por MWh, menos de 30% do custo atual.
Os grandes consumidores, que negociam contratos no mercado livre, compram cerca de 25% da energia produzida no país.
A maior parte da energia vai para o chamado mercado cativo, ao qual pertencem os consumidores residenciais.


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