|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Associação calcula déficit de energia já neste ano
Dificuldade em abastecer térmicas é uma das causas
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Amparado em dados oficiais,
mas com conclusões bem diferentes do discurso oficial, estudo da Abrace, associação que
reúne grandes consumidores
de energia, aponta déficit de
energia de 1.743 MW já neste
ano. O estudo trata da chamada
energia firme, aquela que os geradores podem negociar em
contratos. A dimensão do déficit em 2008 corresponde a
mais da metade da potência da
usina de Santo Antônio, no rio
Madeira (RO), que foi a leilão
em dezembro.
A falta de energia suficiente
para lastrear contratos de comercialização no mercado livre
-ao qual recorrem indústrias,
shoppings e hipermercados,
por exemplo- deixaria os grandes consumidores mais expostos a preços muito elevados, até
aqui o maior sinal de problemas na oferta.
Nesta semana, o preço definido pela CCEE (Câmara de
Comercialização de Energia
Elétrica) para o mercado de
curto prazo alcançou R$ 569,59
por MWh (megawatt-hora), o
maior valor desde o segundo
semestre de 2001, época do
apagão.
"O país já não terá neste ano
energia suficiente para atender
a toda a demanda", diz Patrícia
Arce, diretora-executiva da
Abrace. O governo insiste em
que não há risco de racionamento em 2008.
Procurados ontem, o Ministério de Minas e Energia, a EPE
(Empresa de Pesquisa Energética) e o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) não se
manifestaram sobre o assunto
até a conclusão desta edição.
O estudo ressalta que a oferta
de energia firme aquém da demanda não significa "necessariamente" que haverá um racionamento de energia elétrica,
mas que não haverá energia suficiente para as geradoras lastrearem contratos de venda para atender integralmente ao
consumo da indústria.
Ilusão
"Os consumidores livres foram iludidos em 2005 com dados oficiais que apontavam
uma situação de oferta de energia que levou a decisões consideradas perigosas para a competitividade da indústria nacional, uma vez que a situação projetada não se concretizou",
conclui o documento da Associação Brasileira de Grandes
Consumidores de Energia e de
Consumidores Livres.
O estudo da Abrace prevê
que um "apagão" de contratos
de energia para os grandes consumidores se repetiria com intensidade menor em 2009 e em
2011, primeiro ano de governo
do sucessor do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva.
A entidade comparou previsões oficiais feitas pelo ONS em
novembro de 2004 e novembro
de 2007. A disponibilidade de
energia firme para contratos
caiu nesse intervalo de tempo.
Entre 2005 e 2007, a oferta
de energia caiu 9,4%, enquanto
a demanda cresceu 7,9%.
Motivos
O cancelamento de contratos
para a importação de gás da Argentina e sobretudo as dificuldades da Petrobras em abastecer as usinas térmicas a gás seriam as principais causas da
queda da oferta de energia,
aponta o estudo.
Se o cenário de 2004 tivesse
se confirmado, avalia Patrícia
Arce, a energia estaria sendo
negociada no mercado livre
nesta semana a cerca de R$ 170
por MWh, menos de 30% do
custo atual.
Os grandes consumidores,
que negociam contratos no
mercado livre, compram cerca
de 25% da energia produzida
no país.
A maior parte da energia vai
para o chamado mercado cativo, ao qual pertencem os consumidores residenciais.
Texto Anterior: Maioria das hidrelétricas está atrasada Próximo Texto: Vaivém das commodities Índice
|