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RECEITA ORTODOXA
Sexta alta seguida da Selic já era esperada pelo mercado, que prevê que taxa chegue a 19% em março
BC leva juros a 18,75% e sinaliza nova alta
CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Conforme previa o mercado, o
Banco Central elevou novamente
ontem a mais alta taxa de juros do
mundo. O Copom (Comitê de Política Monetária) anunciou que, a
partir de hoje, a Selic sobe de
18,25% para 18,75% ao ano.
A curta nota divulgada ontem
pelo BC sinaliza que haverá nova
alta em março."Dando prosseguimento ao processo de ajuste da taxa de juros básica iniciado na reunião de setembro de 2004, o Copom decidiu, por unanimidade,
elevar a taxa Selic para 18,75%,
sem viés", diz a nota.
Foi a sexta elevação seguida da
Selic, fato inédito, o que levou a
taxa a seu maior nível desde outubro de 2003, quando estava em
19% ao ano.
A decisão já era esperada por
analistas do mercado financeiro e
sinalizada pela última ata do Copom. A segunda alta deste ano
contraria indicações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que,
no ano passado, sinalizou a senadores do PT que a trajetória de alta terminaria em janeiro.
A escalada da Selic começou em
setembro, quando estava em 16%,
com alta de 0,25 ponto percentual. Desde então, os juros subiram 0,5 ponto todos os meses.
A explicação do governo para
elevar a taxa de juros que baliza a
economia é que a medida é congruente com a política monetária
do governo, baseada no sistema
de meta de inflação. Ou seja, para
mantê-la sob controle, o governo
aumenta a taxa de juros cada vez
que o aquecimento da economia
sinaliza que a inflação poderá ultrapassar a meta, definida para este ano em 5,1%.
Embora o IPCA de janeiro tenha ficado em 0,58%, abaixo dos
0,86% de dezembro, a pesquisa
"Focus", realizada pelo BC indicou, na semana passada, expectativa de 5,74% para o IPCA neste
ano.
Com o crescimento da economia no ano passado-em torno
de 5,3%, segundo estimativas-, a
demanda por crédito e o aquecimento dos consumo pressionam
os preços. Para coibir o consumo,
o governo encarece o preço do dinheiro, ou seja, aumenta a taxa de
juros, mas isso também reduz o
crescimento da economia, o que
afeta a criação de empregos.
Outro efeito da alta dos juros é
sobre o endividamento do país.
Cada vez que a Selic sobe, a dívida
pública aumenta. Isso porque o
governo passa a remunerar mais
o dinheiro que capta no mercado
financeiro por meio da emissão
de títulos públicos.
Além disso, juros muito altos
afetam também a cotação do dólar. A alta remuneração dos papéis brasileiros atrai capital estrangeiro. Com muitos dólares
disponíveis no mercado interno,
o preço da moeda americana cai
por causa do excesso de oferta.
O valor da moeda, que já acumula desvalorização de cerca de
10% desde setembro do ano passado e de 2,79% somente neste
ano, só não despencou mais porque o Banco Central tem comprado a divisa para repor as reservas.
A valorização do real torna os
produtos brasileiros mais caros
no mercado externo e as importações mais baratas, o que tende a
reduzir o saldo comercial do Brasil. Consequentemente, a taxa de
câmbio afeta o desempenho das
contas externas brasileiras.
O mercado conta com nova alta
da Selic em março, para 19%. A
expectativa é que a taxa se mantenha nesse patamar até agosto,
quando começaria a cair até chegar a 16,75% no fim do ano.
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