São Paulo, quinta-feira, 17 de fevereiro de 2005

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RECEITA ORTODOXA

Sexta alta seguida da Selic já era esperada pelo mercado, que prevê que taxa chegue a 19% em março

BC leva juros a 18,75% e sinaliza nova alta

CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Conforme previa o mercado, o Banco Central elevou novamente ontem a mais alta taxa de juros do mundo. O Copom (Comitê de Política Monetária) anunciou que, a partir de hoje, a Selic sobe de 18,25% para 18,75% ao ano.
A curta nota divulgada ontem pelo BC sinaliza que haverá nova alta em março."Dando prosseguimento ao processo de ajuste da taxa de juros básica iniciado na reunião de setembro de 2004, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 18,75%, sem viés", diz a nota.
Foi a sexta elevação seguida da Selic, fato inédito, o que levou a taxa a seu maior nível desde outubro de 2003, quando estava em 19% ao ano.
A decisão já era esperada por analistas do mercado financeiro e sinalizada pela última ata do Copom. A segunda alta deste ano contraria indicações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, no ano passado, sinalizou a senadores do PT que a trajetória de alta terminaria em janeiro.
A escalada da Selic começou em setembro, quando estava em 16%, com alta de 0,25 ponto percentual. Desde então, os juros subiram 0,5 ponto todos os meses.
A explicação do governo para elevar a taxa de juros que baliza a economia é que a medida é congruente com a política monetária do governo, baseada no sistema de meta de inflação. Ou seja, para mantê-la sob controle, o governo aumenta a taxa de juros cada vez que o aquecimento da economia sinaliza que a inflação poderá ultrapassar a meta, definida para este ano em 5,1%.
Embora o IPCA de janeiro tenha ficado em 0,58%, abaixo dos 0,86% de dezembro, a pesquisa "Focus", realizada pelo BC indicou, na semana passada, expectativa de 5,74% para o IPCA neste ano.
Com o crescimento da economia no ano passado-em torno de 5,3%, segundo estimativas-, a demanda por crédito e o aquecimento dos consumo pressionam os preços. Para coibir o consumo, o governo encarece o preço do dinheiro, ou seja, aumenta a taxa de juros, mas isso também reduz o crescimento da economia, o que afeta a criação de empregos.
Outro efeito da alta dos juros é sobre o endividamento do país. Cada vez que a Selic sobe, a dívida pública aumenta. Isso porque o governo passa a remunerar mais o dinheiro que capta no mercado financeiro por meio da emissão de títulos públicos.
Além disso, juros muito altos afetam também a cotação do dólar. A alta remuneração dos papéis brasileiros atrai capital estrangeiro. Com muitos dólares disponíveis no mercado interno, o preço da moeda americana cai por causa do excesso de oferta.
O valor da moeda, que já acumula desvalorização de cerca de 10% desde setembro do ano passado e de 2,79% somente neste ano, só não despencou mais porque o Banco Central tem comprado a divisa para repor as reservas.
A valorização do real torna os produtos brasileiros mais caros no mercado externo e as importações mais baratas, o que tende a reduzir o saldo comercial do Brasil. Consequentemente, a taxa de câmbio afeta o desempenho das contas externas brasileiras.
O mercado conta com nova alta da Selic em março, para 19%. A expectativa é que a taxa se mantenha nesse patamar até agosto, quando começaria a cair até chegar a 16,75% no fim do ano.


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