São Paulo, quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

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UE impõe cronograma rígido à Grécia para corte no deficit

Até 2012, país terá de reduzir rombo fiscal em dez pontos percentuais, para 3% do PIB

Grécia tem 1 mês para listar medidas que visam baixar deficit para 8,7% neste ano; bomba explode no JPMorgan em Atenas e ninguém se fere


LUCIANA COELHO
DE GENEBRA

A União Europeia impôs ontem à Grécia um calendário draconiano para corrigir suas finanças. Começa em um mês, com a apresentação de relatório de medidas adicionais a seu plano de austeridade, e vai até 2012, quando o país terá de ter reduzido seu deficit orçamentário em dez pontos percentuais, para 3% do PIB.
O arrocho extra é cobrado em um momento em que as tensões sobem em Atenas. Uma bomba-relógio explodiu ontem em um escritório do JPMorgan na capital -o banco americano é um dos que estão envolvidos na camuflagem da dívida grega por meio da emissão de derivativos, conforme revelou o "New York Times" no final de semana. Ninguém foi ferido e ninguém reivindicou a autoria, mas o clima social é óbvio.
A semana está coalhada de greves. Dos funcionários do Ministério das Finanças e fiscais alfandegários (alvo de congelamento salarial) aos taxistas e motoristas de caminhões-tanque (afetados pela alta do imposto sobre a gasolina), várias categorias param.
O ápice será a greve geral convocada pelo maior sindicato grego para o próximo dia 24.
A pressão popular alimenta dúvidas de que o governo socialista em Atenas possa cumprir o que prometeu à UE, que dirá tomar medidas adicionais.
Na segunda, os ministros da Economia dos 16 países que adotam o euro anunciaram que o governo do premiê George Papandreou tem até 16 de março para listar as medidas que tomará para baixar o deficit de 12,7% para 8,7% neste ano.
O ultimato foi repetido ontem pelo Ecofin, que reúne os ministros da Economia e das Finanças dos 27 países da UE e os membros da Comissão Europeia (braço Executivo do bloco) para com o assunto.
O Ecofin informou Atenas de que as medidas mais urgentes terão de ser adotadas até 15 de maio e que o país terá de promover mais ações para assegurar o cumprimento das metas até o fim do ano. A dívida grega fechou 2009 a 113% do PIB (o teto, pela regra, é 60%).
Segundo disse em entrevista coletiva via webcast o comissário europeu para Questões Econômicas e Financeiras, Olli Rehn, o cronograma ainda será mais detalhado em breve.
Rehn afirmou também que a Grécia terá de reformar rapidamente seu sistema de estatísticas e de prestação de contas à UE e que os poderes do Eurostat (órgão estatístico do bloco) serão ampliados para evitar a repetição da farsa grega -uma revisão de dados pelo atual governo revelou em outubro que o deficit era o triplo do que informara seu antecessor. Agora, o país será punido.
Para o ministro grego da Economia, indagado por agências de notícias, o cronograma é viável. Na véspera, George Papaconstantinou criticara a UE por não oferecer dinheiro.
Por ora, o Ecofin reafirmou que os cofres seguem fechados, mas o compromisso de socorrer a Grécia, se houver risco de quebra, persiste. Quase US$ 28 bilhões em títulos da dívida grega vencem em abril e maio.
"Podemos ajudar a Grécia a superar suas dificuldades, contanto que o país colabore, adotando medidas extras", disse Rehn em entrevista coletiva via webcast ontem.
Papandreou já havia se comprometido a congelar salários, enxugar o funcionalismo e cortar pensões e comissões, além de elevar o imposto da gasolina. Anunciou também que promoverá reforma tributária, vista como a mais impopular das medidas. O plano deve sair nos próximos dias.


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