|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Furlan vê espaço para taxa menor
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na véspera da decisão do Banco
Central sobre a taxa de juros básica da economia, o ministro Luiz
Fernando Furlan (Desenvolvimento) disse que políticas de juros altos nem sempre conseguem
controlar a inflação.
Furlan disse estar inquieto com
a possibilidade de o Brasil perder
a oportunidade de crescimento
neste ano devido a um crescente
desânimo de setores da sociedade, numa referência à repercussão
sobre a economia da crise política
que atingiu o governo.
"Parcelas relevantes da inflação
são inumes à taxa de juros", afirmou o ministro, em entrevista à
Folha, um dia antes de o Copom
(Comitê de Política Monetária)
do Banco Central decidir o que fará com a taxa de juros básica da
economia. Ele enfatizou que não
se referia a essa decisão, mas deixou claro que, na sua opinião, há
espaço para uma redução dos juros neste ano.
"O desejável é que tivéssemos
uma taxa real de juros de 6% ou
8% ao ano, o que significa uma
Selic [taxa básica de juros] de 12%
a 13%. Acho perfeitamente possível ter essa taxa até o final do
ano", disse o ministro.
Atualmente, a Selic está em
16,5% ao ano. Após uma sucessão
de sete cortes na taxa básica em
2003, o Copom manteve inalteradas as taxas nas duas reuniões
realizadas neste ano. A alegação
do Banco Central para as últimas
decisões foi o temor de pressão
inflacionária.
Tarifas públicas
Para o ministro, a inflação atual
é resultado, sobretudo, de aumentos de tarifas públicas e de
produtos cujas cotações dependem do mercado internacional.
"É preciso levar em consideração
que os protagonistas da inflação
não são os preços livres", disse. Os
preços livres, na opinião do ministro, são aqueles que poderiam
ser controlados por variações na
taxa de juros.
"As tarifas públicas não vão baixar se os juros chegarem a 80%",
disse o ministro do Desenvolvimento, que fez questão de dizer
que concorda com as linhas gerais
da política macroeconômica.
Crise política
Furlan afirmou estar inconformado com as repercussões econômicas da crise política que o
governo enfrenta após as denúncias contra Waldomiro Diniz, ex-subchefe de assuntos parlamentares da Presidência da República.
A crise foi deflagrada com a divulgação de uma fita em que Diniz
negociava propina com um empresário de loterias.
Segundo ele, o episódio já afeta
o ânimo de alguns empresários.
"Não me conformo que haja uma
mudança de ânimo no país, em 60
dias, ancorada em algumas questões que na história brasileira não
terão nenhuma relevância", disse.
Segundo ele, o governo foi pego
de surpresa por um fato "impensável", pois a equipe do presidente Lula trabalha num clima de
confiança e unidade.
O ministro disse que o governo
precisa "ter uma agenda positiva"
para evitar que o desânimo prejudique as possibilidades de desenvolvimento deste ano. Disse que
tem conversado sobre o assunto
com o presidente e seus colegas.
"Minha inquietude vem da percepção de que o país está deixando escapar uma oportunidade
muito positiva. As mesmas pessoas da sociedade que criticam
são aquelas que aplaudiam há 90
dias", desabafou.
"Acabamos fazendo com que
um debate totalmente doméstico,
desvinculado da economia mundial, atue como um inibidor do
nosso desempenho futuro", disse.
Na sua opinião, não existe nenhum constrangimento externo
para impedir o país de crescer
neste ano.
"Nós esquecemos de repente
que, no ano passado, reconquistou-se a credibilidade, que fez-se
algumas reformas. De repente, toda a agenda positiva ficou coberta
pela inundação."
Furlan disse que não concorda
com as expectativas negativas.
Dados do ministério mostram,
segundo ele, que as intenções de
investimentos estão maiores hoje
que no ano passado.
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Nada se perde: Reciclagem aumenta e já emprega 160 mil Índice
|