São Paulo, quarta-feira, 17 de março de 2004

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Furlan vê espaço para taxa menor

ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na véspera da decisão do Banco Central sobre a taxa de juros básica da economia, o ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) disse que políticas de juros altos nem sempre conseguem controlar a inflação.
Furlan disse estar inquieto com a possibilidade de o Brasil perder a oportunidade de crescimento neste ano devido a um crescente desânimo de setores da sociedade, numa referência à repercussão sobre a economia da crise política que atingiu o governo.
"Parcelas relevantes da inflação são inumes à taxa de juros", afirmou o ministro, em entrevista à Folha, um dia antes de o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central decidir o que fará com a taxa de juros básica da economia. Ele enfatizou que não se referia a essa decisão, mas deixou claro que, na sua opinião, há espaço para uma redução dos juros neste ano.
"O desejável é que tivéssemos uma taxa real de juros de 6% ou 8% ao ano, o que significa uma Selic [taxa básica de juros] de 12% a 13%. Acho perfeitamente possível ter essa taxa até o final do ano", disse o ministro.
Atualmente, a Selic está em 16,5% ao ano. Após uma sucessão de sete cortes na taxa básica em 2003, o Copom manteve inalteradas as taxas nas duas reuniões realizadas neste ano. A alegação do Banco Central para as últimas decisões foi o temor de pressão inflacionária.

Tarifas públicas
Para o ministro, a inflação atual é resultado, sobretudo, de aumentos de tarifas públicas e de produtos cujas cotações dependem do mercado internacional. "É preciso levar em consideração que os protagonistas da inflação não são os preços livres", disse. Os preços livres, na opinião do ministro, são aqueles que poderiam ser controlados por variações na taxa de juros.
"As tarifas públicas não vão baixar se os juros chegarem a 80%", disse o ministro do Desenvolvimento, que fez questão de dizer que concorda com as linhas gerais da política macroeconômica.

Crise política
Furlan afirmou estar inconformado com as repercussões econômicas da crise política que o governo enfrenta após as denúncias contra Waldomiro Diniz, ex-subchefe de assuntos parlamentares da Presidência da República. A crise foi deflagrada com a divulgação de uma fita em que Diniz negociava propina com um empresário de loterias.
Segundo ele, o episódio já afeta o ânimo de alguns empresários. "Não me conformo que haja uma mudança de ânimo no país, em 60 dias, ancorada em algumas questões que na história brasileira não terão nenhuma relevância", disse. Segundo ele, o governo foi pego de surpresa por um fato "impensável", pois a equipe do presidente Lula trabalha num clima de confiança e unidade.
O ministro disse que o governo precisa "ter uma agenda positiva" para evitar que o desânimo prejudique as possibilidades de desenvolvimento deste ano. Disse que tem conversado sobre o assunto com o presidente e seus colegas.
"Minha inquietude vem da percepção de que o país está deixando escapar uma oportunidade muito positiva. As mesmas pessoas da sociedade que criticam são aquelas que aplaudiam há 90 dias", desabafou.
"Acabamos fazendo com que um debate totalmente doméstico, desvinculado da economia mundial, atue como um inibidor do nosso desempenho futuro", disse. Na sua opinião, não existe nenhum constrangimento externo para impedir o país de crescer neste ano.
"Nós esquecemos de repente que, no ano passado, reconquistou-se a credibilidade, que fez-se algumas reformas. De repente, toda a agenda positiva ficou coberta pela inundação."
Furlan disse que não concorda com as expectativas negativas. Dados do ministério mostram, segundo ele, que as intenções de investimentos estão maiores hoje que no ano passado.


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