São Paulo, quarta-feira, 17 de março de 2004

Texto Anterior | Índice

TRABALHO

Questionado por entidade sindical, presidente terá de se posicionar sobre perda de postos para asiáticos

Central coloca Bush em xeque sobre a China

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

A AFL-CIO, a maior central sindical dos Estados Unidos, registrou ontem reclamação formal que obrigará o presidente George W. Bush a defender condições de trabalho "desumanas" na China ou abrir um novo contencioso comercial contra os chineses.
Baseada em relatório sobre direitos humanos do Departamento de Estado, a AFL-CIO afirma que 727 mil empregos foram perdidos nos EUA nos últimos anos graças à repressão chinesa que restringe "com violência" greves e demandas salariais no país.
O controle sobre as fábricas na China, segundo a central, baratearia em até 43% o custo de produção de manufaturados no país.
Com base nesses dados, a AFL-CIO demandou publicamente da Casa Branca a imposição de tarifas de até 77% para a importação de produtos da China.
Em um período eleitoral marcado por números que mostram a perda de quase 2,7 milhões de empregos em seu mandato, Bush terá 45 dias para rejeitar o pedido da central ou dar segmento ao caso na Comissão Internacional de Comércio norte-americana.
A comissão poderá recomendar a adoção de tarifas de forma unilateral, mas dificilmente os EUA ganhariam o caso em uma eventual disputa na OMC (Organização Mundial do Comércio). As regras internacionais atuais não protegem direitos trabalhistas.
Se não levar o caso adiante, Bush ficará com o ônus político de não se posicionar sobre um dos temas mais sensíveis da atual campanha eleitoral: a perda de empregos para a China em Estados importantes e divididos ao meio eleitoralmente.
Representando mais de 13 milhões de trabalhadores nos EUA, a AFL-CIO endossou há um mês a candidatura do democrata John Kerry para concorrer à Casa Branca contra o republicano Bush. Questionado se a ação contra a China não era um jogada eleitoral contra Bush, Phlil Phillips, diretor da AFL-CIO, disse que o momento é "propício para discutir o tema". "Estamos cobrando uma resposta há meses em relação à China e esperamos intensificar a pressão por uma resposta colocando o assunto na mesa justamente no período eleitoral", disse à Folha. A nova pressão sobre o presidente ocorre dias depois de um dos maiores fiascos de Bush na tática para recuperar empregos perdidos nos EUA.
Na sexta-feira passada, Bush cancelou indefinidamente a criação do cargo de secretário da Área de Manufatura ao ser revelado, horas antes da indicação do empresário Anthony Raimondo para o posto, que o escolhido demitiu 75 norte-americanos em 2002 para abrir uma fábrica de US$ 3 milhões na China.
As pressões da opinião pública sobre Bush também foram reforçadas ontem por novas pesquisas que mostram níveis recordes de insatisfação com o presidente na condução da área econômica.
Pesquisa Gallup mostrou que 60% dos norte-americanos estão insatisfeitos com o desempenho de Bush na área. Outro levantamento, da CBS/"The New York Times", mostrou desaprovação na faixa de 57%. A maioria também afirmou não ter sentido "nenhum benefício" nos cortes de impostos de quase US$ 1 trilhão promovidos por Bush.


Texto Anterior: Sinais mistos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.