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Aumento de gastos põe política do BC em xeque
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
O aumento dos gastos públicos
neste ano poderá trabalhar contra
a política do Banco Central, que
acaba de dar mais uma puxada
nos juros para conter a demanda
e a inflação, segundo opinião de
alguns economistas. O assunto é
polêmico e divide os analistas.
Para Guilherme Loureiro, especialista em contas públicas da
consultoria Tendências, há alguns
"vetores negativos" que devem
pressionar o gasto público total
(custeio e investimento) no ano.
Do lado do custeio, ele lista o aumento real do salário mínimo,
que significará um desembolso de
R$ 2,5 bilhões a mais com salários
e aposentadorias, maiores gastos
com pessoal devido à contratação
de 102 mil novos servidores em
2004 e pressões por aumentos salariais do funcionalismo. "Nas
nossas projeções, os gastos com
pessoal deverão ficar em 5% a
5,1% do PIB [Produto Interno
Bruto]", diz Loureiro. Nos cálculos do governo, essa conta equivaleria a 4,67% do PIB - com um
leve recuo em relação aos 4,99%
apurados em 2004 pela Secretaria
do Tesouro.
Do lado do investimento, há a
obrigatoriedade de o governo investir R$ 2,8 bilhões em infra-estrutura. O valor foi acertado com
o FMI, que deverá excluí-lo do
cálculo do superávit primário.
O governo também terá de arcar com despesas maiores de juros da dívida pública, devido ao
aumento da taxa básica. Desde setembro, quando começou o processo de alta da Selic, a dívida mobiliária cresceu R$ 75,26 bilhões.
O que os economistas da Tendências ainda não conseguem
avaliar é o impacto que os gastos
públicos terão na chamada demanda agregada (que é o PIB visto pelo lado do consumo). Se o
governo gastar mais do que pode,
pressionará a demanda agregada
e, conseqüentemente os juros.
Renato Raglione, sócio da MS
Consult, diz que "não há nenhum
indicador que mostre que os gastos do governo estão pressionando a demanda agregada".
Em 2004, a participação do gastos públicos no consumo total do
país (demanda agregada) foi de
16,2%. No ano anterior, esse indicador chegou a 19,8%, depois de
crescer na era FHC. Em março de
1994, o gasto público equivalia a
18,6% do consumo nacional e em
dezembro de 2002, fim do governo FHC, chegou a 20%.
"Essa é uma discussão ideológica: prega-se o corte de gastos públicos -sem apontar quais-
com a finalidade de aumentar
ainda mais o já fantástico superávit primário", diz o economista.
Ele lembra que as despesas do
governo cresceram 10,9%, em termos reais, em 2004, mas a arrecadação líquida cresceu ainda mais
-11,8% reais. "O aumento da arrecadação em um cenário de crescimento econômico permitiu ao
governo gastar mais, fazer um superávit primário, de 4,6% do PIB
e pagar os juros da dívida", diz.
As projeções da MS Consult para este ano indicam que o governo
manterá a disciplina fiscal, economizando 4,2% do PIB (superávit
primário). A MS Consult trabalha
com uma estimativa de crescimento de 3,8% do PIB e expansão
de 1% no consumo do governo.
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