São Paulo, terça-feira, 17 de março de 2009

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ANÁLISE

G20 reafirma hegemonia do livre mercado

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

Os republicanos podem dizer que Barack Obama está conduzindo os EUA ao socialismo, a mídia pode estar carregada de notícias sobre o retorno do Estado a um papel dominante, mas, paranoias e especulações à parte, o fato objetivo é que o G20 defende e vai continuar a defender a hegemonia dos princípios de livre mercado.
É só ler o que diz o comunicado oficial emitido após a cúpula de novembro em Washington: "Reconhecemos que as reformas [na arquitetura do sistema financeiro] só serão bem-sucedidas se apoiadas em um compromisso com princípios de livre mercado, incluindo o respeito à lei, o respeito à propriedade privada, a [regras de] comércio e investimentos abertas, a mercados competitivos e eficientes e a sistemas financeiros efetivamente regulados".
Qualquer manual básico do liberalismo reproduziria na essência os conceitos que os chefes de Estado dos 22 países presentes em Washington assinaram, inclusive Lula. Como os países do G20 representam cerca de 85% da economia mundial, é improvável que o restante imponha uma revolução "socialista", ao contrário do que temem republicanos, ou um avanço forte do Estado.
É verdade que o texto de Washington levou a assinatura do republicano George Walker Bush, e o presidente agora chama-se Barack Obama, um democrata. Mas seu secretário do Tesouro, Timothy Geithner, e o presidente do banco central, Ben Bernanke, assinaram no sábado outro texto em que a hegemonia do mercado é plenamente reafirmada.
Mais: é reafirmada precisamente no parágrafo que trata do gerenciamento das firmas que receberam ou virão a receber fundos dos governo -ou seja, aquelas que supostamente seriam "nacionalizadas", uma palavra que pudicamente está sendo usada para evitar "estatização", um anátema desde a derrota do comunismo.
O texto aprovado por ministros de Finanças e presidentes de BCs, reunidos perto de Londres, diz: "As firmas que recebem apoio [do governo] devem continuar a ser dirigidas segundo princípios de negócios para evitar distorções na efetiva alocação de crédito para o setor privado ou instituições que não participam do esquema".
Traduzindo: os governos põem o dinheiro, mas não determinam a maneira como o utilizam as firmas ajudadas, no caso os bancos. Ou seja, o dinheiro é público, mas a gestão continua sendo privada. Tanto que, no capítulo de condições para a ajuda oficial, figura a necessidade de que os créditos a serem concedidos a partir do apoio dos governos devam seguir "critérios comerciais".
O texto de West Sussex diz ainda que "o apoio do governo deve ser temporário e deve incluir estratégias de saída e incentivos bem definidas".
São esses princípios básicos que serão levados à segunda cúpula do G20, em abril. Parece altamente improvável que, nas próximas três semanas, a crise se agrave tanto que faça mudar de ideia os governantes e seus ministros, que reafirmaram a hegemonia do mercado em duas reuniões sucessivas.


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