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ANÁLISE
G20 reafirma hegemonia do livre mercado
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES
Os republicanos podem dizer
que Barack Obama está conduzindo os EUA ao socialismo, a
mídia pode estar carregada de
notícias sobre o retorno do Estado a um papel dominante,
mas, paranoias e especulações
à parte, o fato objetivo é que o
G20 defende e vai continuar a
defender a hegemonia dos
princípios de livre mercado.
É só ler o que diz o comunicado oficial emitido após a cúpula
de novembro em Washington:
"Reconhecemos que as reformas [na arquitetura do sistema
financeiro] só serão bem-sucedidas se apoiadas em um compromisso com princípios de livre mercado, incluindo o respeito à lei, o respeito à propriedade privada, a [regras de] comércio e investimentos abertas, a mercados competitivos e
eficientes e a sistemas financeiros efetivamente regulados".
Qualquer manual básico do
liberalismo reproduziria na essência os conceitos que os chefes de Estado dos 22 países presentes em Washington assinaram, inclusive Lula. Como os
países do G20 representam
cerca de 85% da economia
mundial, é improvável que o
restante imponha uma revolução "socialista", ao contrário do
que temem republicanos, ou
um avanço forte do Estado.
É verdade que o texto de
Washington levou a assinatura
do republicano George Walker
Bush, e o presidente agora chama-se Barack Obama, um democrata. Mas seu secretário do
Tesouro, Timothy Geithner, e o
presidente do banco central,
Ben Bernanke, assinaram no
sábado outro texto em que a
hegemonia do mercado é plenamente reafirmada.
Mais: é reafirmada precisamente no parágrafo que trata
do gerenciamento das firmas
que receberam ou virão a receber fundos dos governo -ou seja, aquelas que supostamente
seriam "nacionalizadas", uma
palavra que pudicamente está
sendo usada para evitar "estatização", um anátema desde a
derrota do comunismo.
O texto aprovado por ministros de Finanças e presidentes
de BCs, reunidos perto de Londres, diz: "As firmas que recebem apoio [do governo] devem
continuar a ser dirigidas segundo princípios de negócios para
evitar distorções na efetiva alocação de crédito para o setor
privado ou instituições que não
participam do esquema".
Traduzindo: os governos
põem o dinheiro, mas não determinam a maneira como o
utilizam as firmas ajudadas, no
caso os bancos. Ou seja, o dinheiro é público, mas a gestão
continua sendo privada. Tanto
que, no capítulo de condições
para a ajuda oficial, figura a necessidade de que os créditos a
serem concedidos a partir do
apoio dos governos devam seguir "critérios comerciais".
O texto de West Sussex diz
ainda que "o apoio do governo
deve ser temporário e deve incluir estratégias de saída e incentivos bem definidas".
São esses princípios básicos
que serão levados à segunda cúpula do G20, em abril. Parece
altamente improvável que, nas
próximas três semanas, a crise
se agrave tanto que faça mudar
de ideia os governantes e seus
ministros, que reafirmaram a
hegemonia do mercado em
duas reuniões sucessivas.
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